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28 de fevereiro de 2007

VOLTANDO A LAGES



De Marcelino Ramos voltei para Lages. Lá, só me instalo na Pousada Rural do SESC. Consegui, durante muitas estadas, criar um relacionamento bastante cordial com o pessoal da administração, da recreação, do refeitório, do bar e dos serviços gerais. Realmente, os rapazes e as moças que lá trabalham são muito simpáticos, preparados e bem treinados, deixando o usuário satisfeito com tudo. Cheguei, novamente à pousada debaixo de um temporal, que meteu medo, pois a estrada parecia um caudaloso rio e não se via nada, de tanta água que caía. Tinha, ainda de visitar mais alguns municípios da Serra Catarinense. Como o tempo melhorou, à noite, a recreação da Pousada Rural programou uma reunião no Galpão da Tradição, sob o comando do Professor Paulo, o Paulão, contador de “causos” e animador da melhor cepa, profundo conhecedor das tradições gauchescas e da história de Lages. Aliás, é preciso sempre dizer que a cidade de Lages é considerada a mais gaúcha cidade catarinense, epíteto adquirido pela sua colonização, quando por lá passavam, obrigatoriamente, os tropeiros vindo do sul do Brasil, que levavam mulas, cavalos e grandes rebanhos bovinos para São Paulo, mais precisamente, para Sorocaba. Paulão reuniu os hóspedes no espaço da tradição gaúcha e o sanfoneiro tirou de sua gaita as mais melodiosas e tradicionais músicas do repertório campeiro. Há um ditado gaúcho que diz que quando o gaiteiro toca, todo mundo desentoca e, por isso, a dança comeu solta e todos os presentes dançaram em torno do fogo de chão, que só não ardeu porque o tempo era chuvoso, mas sem frio, posto que nessa época de verão, a friagem ainda está longe de se fazer presente. Quem a tudo presenciou e ficou encantado com a alegria dos dançarinos e suas prendas foi o meu fantasma amigo. Ele não conhecia o encanto da cantoria cabocla. Gostou e quase se materializou, o que, fatalmente, me deixaria em situação muito constrangedora, pois não saberia explicar ao pessoal o fenômeno, verdadeiramente sobrenatural, que quase aconteceu naquela festeira e descontraída reunião de início e fim de noite. No dia seguinte fui a Bocaina do Sul, pequeno município, às margens da Rodovia BR-282, entre Lages e Bom Retiro, a uns 37 quilômetros do centro da maior cidade da região serrana, fundada por Correia Pinto, no século XVIII. O fantasma só falava na dança da noite passada e do som da gaita ou acordeon, objeto de que ele nunca teve notícia, no seu tempo de mísero mortal, e lá pelas bandas das terras lusitanas, onde nasceu, morreu e procurou se reencarnar, tornando-se um ser ímpar e fiel amigo meu, quando o conheci no castelo de Monte-Mor-o-Novo, tentando assombrar um turista mexicano, a quem dei carona, desde Lisboa, há alguns anos atrás. Afirmo isso, porque o acordeon foi desenvolvido por volta de 1829 em Viena, época em que meu amigo fantasmagórico ainda estava quietinho em seu túmulo. Sua construção foi baseada num instrumento de sopro chinês chamado Cheng, com o mesmo sistema de palhetas. No século XIX ganhou o mundo depois de passar pelas regiões de Stradella e Ancona na Itália, onde surgiram importantes fábricas como Paolo Soprani e Scandalli. Logo foi difundido por toda a Europa. Os primeiros registros da presença do instrumento no Brasil são do tempo da guerra do Paraguai, por volta de 1864. Mas ficou popular mais para o final do século XIX, trazido para o Brasil principalmente pelos imigrantes italianos. O acordeon é um instrumento feito principalmente para a dança. No campo, os tocadores ainda animam bailes, nas aldeias, tanto na Europa como no Brasil, principalmente no sul e nas cidadezinhas do interior.
Em Bocaina do Sul, visitamos o Mini Pantanal, no distrito de Santa Rosa, onde as belas paisagens nos encantaram. O SESC de Lages organiza passeios a este belo recanto, oferecendo, assim, a seus hóspedes um diferencial no tratamento turístico, de muito bom gosto e bem organizado. Vale a pena conferir. Até o próximo passeio!

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.