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5 de julho de 2018

AS CRÔNICAS QUE ROLAM PELAS PRAÇAS E RUAS DO FACE.




Carlos Augusto Corrêa é um andarilho das letras. Ou melhor, um escritor que anda pelas ruas dos diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro, sempre escrevendo, anotando e observando os mínimos detalhes da vida que pulsa nas calçadas, no asfalto, nas portarias dos prédios, nos transeuntes e até, talvez, no interior dos apartamentos. Sua imaginação também procura sempre no burburinho das praças, do comércio das lojas, supermercados e livrarias um tema para ser transfigurado e transformado em texto de fina e sutil escritura. E Carlos Augusto vai botando tudo no Face, na sua Página do Face, Chão de Praça, num estilo frugal, mas ao mesmo tempo jornalístico, sempre passando, com sutileza, pela pontuação poética, que no final é o que vai sustentar sua prosa, muitas vezes saudosista. Suas crônicas e minicrônicas, pode-se dizer, contam, também, a história dos becos, ruas, praças e vielas de sua cidade natal, em tom ufanista, principalmente quando confronta realidades bem diferentes da cidade de seu tempo de menino e rapaz, com a atual superpovoada São Sebastião, maravilhosamente surgida no antigamente. Numa linguagem coloquial (...e sempre que podia mandava uma e outra crônica.), poética (alma que só tenho de abraçar) repleta de neologismos (eteceteraeletronicamente) e com muito boas sacadas (as tardes também deviam ser festejadas – não boquiabertos) Carlos Augusto Corrêa vai colorindo as palavras com as cores se seu estilo jornalístico curto de contar estórias, como em O Menino Sírio, numa metanarrativa, uma vez que as vozes consagradas de Carlos Drummond de Andrade e Chico Buarque de Holanda servem de pano de fundo e contraponto à tragédia que tirou a vida do pequeno Aylan Kurdi. A sua maneira pessoal de ver, sentir e interpretar os acontecimentos que surgem na REDE, diariamente, poetisa esses acontecimentos, em estilo híbrido, também de repórter sempre a tento a tudo. “Nem sua mãe e os demais que morreram naquele barco afundando”. A ação verbal continuada é que dá à narrativa a profunda dramaticidade literária, característica do estilo vibrante do autor. As notícias no Face proporcionam uma crítica direta, muitas vezes misturadas a uma crítica velada, verificada, por exemplo, em Desejo Instintivo, onde o uso da metalinguagem garante ao texto a atenção para o fato: “Esquecendo um pouco esse clima quase irrespirável da vida política no país, assisti há pouco aqui no Face a um vídeo em que uma criança novinha acaricia no colo um bebê; “Que me perdoem os unilaterais, os que veem um lado da vida só escrevendo sobre temas contundentes, mas quando vejo uma cena semelhante parece que a paz acorda em mim”. (o itálico é nosso, para ressaltar) Assim, Carlos Augusto vai trabalhando seu texto, com foco nessa magnífica plataforma midiática que é o Facebook, retirando do universo circundante o referencial, sempre transformando fatos em conceitos e transformando notícias em formas agradáveis de leitura. Preocupam-no, sobremaneira, os temas sociais que vêm embutidos nos noticiários da REDE. Assim,  o espírito sagaz do cronista vai transformando os acontecimentos denotativos em interessantíssimas metáforas políticas (“Bem-aventurados os sádicos de espírito, porque deles será o reino de Auschwitz!”), para que a ideologização dos acontecimentos transfigurados em poesia, minimizem a dor do Real, sempre uma visão do trabalho, pela ótica política dos acontecimentos: “Em minha infância eu via as lavadeiras pra cá, pra lá trazendo a vida pesada na cabeça”.  Carlos Augusto em alguns momentos constrói um discurso engajado politicamente, através da desconstrução do tecido social, diferentemente da maioria dos discursos políticos, surgidos em jornais e revistas, que são referenciais. O seu texto é bem feito, com engenho e arte, pois a ideologização   -  e o que não é ideológico nesse mundo? –  dos acontecimentos, transfigurados em poesia, minimiza aquele Real roubado à dor do mundo. E com textos curtos, sempre do interesse de quem viaja pelo Face, combinados com a formatação visual dessa plataforma, Carlos Augusto Corrêa vai escrevendo suas crônicas gostosas, em bate-papos informais, com personagens interessantes, numa festa literária que atrai o leitor para as 126 páginas desse seu livro, UM CRONISTA PELAS RUAS DO FACE (Chão de Praça 1), lançado pela Editora Dissonnarte, em 2017, que o leitor ávido por boas narrativas, pode, atualizando-se, deliciar-se, com toda a certeza.

ATÉ A PRÓXIMA


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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.