Quantos me visitaram ?

27 de outubro de 2017

SABER NÃO SEI, MAS POSSO TE AJUDAR!


O livro de Neuza Feijó Machado, “SABER NÃO SEI, MAS POSSO AJUDAR”, leitura destinada a crianças alfabetizadas das primeiras séries do Ensino Fundamental, publicado pela Editora Muiraquitã, Niterói, RJ, neste mês, será lançado em Portugal, no início da segunda metade do mês de novembro. A história trata da procura das raízes históricas da família de uma menina que ficou muito interessada em saber de onde vieram seus avós e bisavós paternos. Sua busca inicia dentro da própria família e vai crescendo, em círculos concêntricos de indagações e respostas, quase todas elas não muito positivas. A busca atinge pessoas do grupo de equivalentes, umas próximas outras mais distantes. A narrativa envolvente utiliza uma linguagem que beira o poético, predominando o discurso direto, chamando a atenção para o lúdico e para o encantamento. A leitura dramatizada em sala de aula, certamente envolverá o público-alvo infantil numa atmosfera de muita ansiedade pela descoberta. O desenrolar da história prenderá o leitor e seus ouvintes, no caso de narrativa dramatizada, não só pelo tema desenvolvido, através de sonoras aliterações rítmicas e muitas rimas toantes e sonantes, intercaladas nas frases, mas também pelas ilustrações, que são códigos não verbais, complementares e participantes do enredo. Tudo isso envolve a leitura no mágico e colorido mundo do faz-de-conta, dando asas à imaginação infantil. O bordão que dá título à obra e é sempre repetido por alguém indagado sobre as origens da família, prepara pedagogicamente o leitor, de forma explícita ou latente, para um fundamental exercício extraclasse, que é o da pesquisa, atividade docente que deve ser constantemente incentivada e realizada em sala de aula. Trata-se de uma obra didática e pedagogicamente correta, que nos envolve e provoca a reflexão sobre nossas origens, proporcionando inúmeros desdobramentos de nobres propósitos e de diversificados estudos programáticos futuros. O que mais chama a atenção no livro é, realmente, o tema dado para motivação dessa faixa etária dos primeiros anos de escolarização da criança. O tema das origens. A genealogia. A pesquisa sobre nossos antepassados mais próximos, que ainda fazem parte de nossa família, ainda lembrados. A família, nesse livro de Neuza Feijó, está presente como símbolo de demanda de felicidade. De algo importantíssimo que não pode ser deteriorado. De símbolo de união, de polo guardião dos mais significativos valores éticos e morais. Por outro lado, procuramos em variados catálogos de editoras nacionais que publicam livros infantis, obras relacionadas às raízes familiares e à genealogia. Nada foi encontrado.  Atendendo a uma pedagogia inicial, com temas próximos à diversão, ao prazer lúdico e campo semântico afim, há uma quantidade enorme de obras que desenvolvem a magicidade articulada à participação de personagens do mundo animal, como sereias, peixes, coelhos, besouros e filhotes de aves e mamíferos. Na linha de uma pedagogia direcionada mais a crianças com um hábito de leitura já sedimentado ou em fase de sedimentação, pelo prazer de ler, encontramos temas desenvolvidos nesses livros, como as lendas universais e as fábulas tradicionais, adaptadas a essa faixa etária e muitas histórias, que recorrem, também, a contos clássicos, como o da Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, A bela adormecida, João e o pé de feijão. Mas não encontramos nenhum texto com o tema desenvolvido por Neuza Feijó em “SABER NÃO SEI, MAS POSSO AJUDAR”, que a Editora Muiraquitã, em boa hora, lança no importante mercado do livro infantil. Vale a pena conferir.

ATÉ A PRÓXIMA

9 de outubro de 2017

FOGO NA LENHA E NOS CORAÇÕES






FOGÃO A LENHA

Fogão que faz as vezes de lareira!
Local onde, já cedo, a cada dia,
buscamos liberar a energia
do sol como estocado na madeira.

Local onde, de forma rotineira,
com jeito, sem qualquer sabedoria,
usamos, numa espécie de magia,
o sol sob as panelas e a chaleira.

Como esse, da cozinha, aceso e quente,
exista um fogão dentro da gente
com dispersão de ondas aquecidas!

Que nossos abrasados corações
mobilizando o Sol, como fogões,
aqueçam relações arrefecidas!

            Estamos diante de um dos mais lindos sonetos de temática interiorana da Literatura Brasileira. Seu autor, também do interior do Brasil, nascido em Ilhota, Santa Catarina, atualmente mora em Blumenau, uma cidade de maiores dimensões, onde se aposentou, sem antes muito labutar em variados segmentos produtivos, inclusive, no magistério superior. Mas sua verve poética respira a temática intimista e, muitas vezes, discorre sobre temas do cotidiano, deixando aí transparecer sua identificação com os momentos da vida pacata desses bucólicos e aprazíveis lugares de nossas  regiões interioranas.
            Ayrton é um mestre na criação harmônica de seus decassílabos, sáficos e heroicos, misturando as estrofações, aleatoriamente, mas mantendo um ritmo fortemente comprometido, sempre, com o desenvolvimento temático de suas composições. Refiro-me às estrofações dos tipos ABAB  E  ABBA, nas quadras de seus sonetos.
            O soneto em destaque, FOGÃO A LENHA é uma primorosa composição de cunho imprecativo, como súplica poética, usando os modos verbais adequados para tanto: “exista um fogão dentro da gente”; “aqueçam relações arrefecidas!”. Tal situação inclui, também, o soneto na ordem dos discursos filosóficos, com tratamento comezinho.
O desenvolvimento do tema, que é o retorno ao convívio sadio e amoroso das relações interpessoais, apropria-se de antigas imagens, como “o calor do sol” e “o fogo da lareira”, mas a maestria e a sensibilidade lírica  de Ayrton Mafra,  criaram uma nova forma expressiva, num inconfundível estranhamento poético: “Como esse, da cozinha, aceso e quente, / exista um fogão dentro da gente”. É uma inédita metáfora, a do aquecimento do sol e o aquecimento dessas mesmas relações degradadas, carcomidas, talvez, pelas mesmices do dia-a-dia, no convívio permanente.   
Já o tratamento dado pelo poeta às estruturas mórficas do poema é o outro ponto fundamental para o êxito da enorme dimensão artística do soneto. Na primeira quadra o enjambment encontrado entre o terceiro e o quarto versos -  “buscamos liberar a energia / do sol como estocado na madeira” – imprime à narrativa lírica, servindo-se também de expressiva hipálage, o ritmo crepitante do fogo a alastrar-se, tendo o vocábulo COMO (4º verso) o sentido de enquanto, conjunção adverbial temporal, e não uma simples conjunção comparativa.
 O primeiro terceto, onde inicia a transfiguração da realidade, passando-se do plano das ideias concebidas para as ideias pretendidas, isto é, onde se unem os diversos elementos da metamorfose poética, esse primeiro terceto – insistimos – é composto por expressivo hipérbato, envolvendo a elipse do termo FOGÃO, enquanto sujeito, subentendido, facilmente, pelo leitor, como se estivesse presencialmente grafado, tal a força retórica desta construção. Uma estrutura frasal elaboradíssima, beirando a técnica dos versos imprecativos de Augusto dos Anjos.
A chave-de-ouro do soneto insere-se numa comparação tácita, deixando-nos mentalmente contemplativos, absorvidos pela beleza da criação poética, uma marca registrada desse grande poeta catarinense, que, em breve, lançará mais um livro de poesias, para nos emocionar cada vez mais, com suas encantadoras composições.

ATÉ A PRÓXIMA
Powered By Blogger

Arquivo do blog

Quem sou eu

Minha foto
Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.