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24 de março de 2020

TODOS SOMOS ANACORETAS


Saí do mundo e segui
no rabo de um cometa.
Desse vírus eu fugi
e virei anacoreta.


Depois de uma bobagem em forma de versos, em redondilha maior, para animar a festa, vamos falar de alguma coisa mais séria. Vamos lá. Se você for ao GOOGLE, vai ficar sabendo que os anacoretas eram monges cristãos ou eremitas que viveram em retiro solitário, nos primórdios do cristianismo e, mais tarde, dedicaram-se à oração e à produção de textos litúrgicos, para com isso alcançar um estado de graça e pureza, através da contemplação.
Muito bem, mas o que significa essa palavra, desconhecida de muita gente? Anacoreta vem do grego, άηαϏωρετής, solitário, eremita (do grego, έρηϻιτης), o que se retira (do mundo).
Os anacoretas, então, eram monges cristãos que viveram em retiro. O termo anacoreta também é utilizado para chamar um penitente que se afastou do convívio humano para viver em solidão. Ele participava da liturgia, ouvindo o serviço e recebia a sagrada comunhão.
Além dos anacoretas, existiam também os cenobitas, cristãos eremitas, que rezavam e lutavam contra o demônio, em profundas meditações... Lutavam dentro e fora dos mosteiros, nos desertos, em retiros e mesmo em batalhas. Eram adestrados e estavam preparados para as lutas, aptos para combater com as próprias mãos e poucas armas os que renegavam a fé divina. Lutavam contra os vícios da carne e dos pensamentos, mas se relacionavam em grupos, diferente dos anacoretas, e juntos oravam e praticavam atos nem sempre, talvez, santos...
Cenobita é outra palavra pouco usada em nossa língua e também veio do grego Ϗοινόβιον, através do latim 
coenobium, aquele que habitava o convento.
Antes de continuarmos, é importante salientar que essas duas palavras, anacoreta e cenobita são vocábulos pouco produtivos em nossa língua. Produtivos significa que não são muitos os vocábulos que deles derivam. Vejamos: a) do grego άηαϏωρετής temos: anacoreta, anacorético, anacoretismo; b) do grego Ϗοινόβιον temos: cenobita, cenobiarca, cenóbio, cenobial. Todos esses vocábulos entraram em nossa língua por via erudita, isto é, com mínima ou nenhuma alteração fonética em sua evolução. Quando um termo entra em nossa língua, sofrendo algumas alterações fonéticas, diz-se que a via foi popular. Há casos em que vocábulos, presos a um mesmo radical exterior, entraram em nossa língua, uns por via popular e outros por via erudita. Tomemos os exemplos. Latim lacte: por via popular, temos, leite. Por via erudita, temos lactante. Latim paupere: por via popular, temos pobre. Por via erudita, temos paupérrimo.
Uma interessante visão da retomada do espaço acústico sensorial dos tempos primitivos, os primórdios do cristianismo, é a de Marcelo Molnar, que compara os aficionados jovens de hoje, presos a seus celulares, com os anacoretas medievais, recolhidos a um intimismo quase doentio, através de suas parafernálias eletrônicas, ouvindo seus ritmos preferidos e isolados do mundo. 
Marshall McLuhan desenvolveu tese nesse sentido, muito antes, nos anos 60, estudando o processo da comunicação. Mas , continuando. Na mesma linha de raciocínio, os cenobitas de antanho, monges que se misturavam entre si, nas práticas litúrgicas dos conventos, como já dissemos, teriam,  como atuais seus representantes, esses mesmos jovens (e alguns velhos), que fofocam nas Redes Sociais dessa maravilha internética.
Muito interessante como o tempo passa, o mundo gira e as coisas se repetem. Esse frenesi que causa em todos nós a tecnologia eletrônica do mundo cibernético, nos distrai dentro das clausuras de nossas casas, transformadas em conventos, e nós em anacoretas, trazendo um pouco de prazer, nesses dias de recolhimento forçado, não por amor a Deus, mas por medo de ir mais cedo prestar contas a Ele!
Créditos:
1) www.molnar09.wordpress.com/2010/03/23/cenobitas;
2) NASCENTES, Antenor. Dicionário etimológico da Língua Portuguesa, Rio de Janeiro, 1955;
3) YARZA, Florencio I. Sebastián. Diccionário Grieco-Español, Ed. Ramón Sopena, S.A., Barcelona, 1954.

ATÉ A PRÓXIMA

5 comentários:

Anonymous disse...

Como você se sente quando a pessoa com quem você planejava passar o resto da vida repentinamente diz que não está mais interessada no casamento do nada, que é o tipo de situação que eu estava quando me deparei com o lançador de feitiços chamado Dr. Ajayi, eu estava coração partido implorou ao meu marido por vários meses para voltar para casa, todos os meus apelos não foram correspondidos até que vi um testemunho de uma senhora que descreveu como o lançador de feitiços Dr. Ajayi a ajudou a conseguir um bom emprego remunerado e disse que ele é capaz de outros tipo de feitiço, ela soltou o número do Viber dele: +2347084887094 Peguei o número e enviei a mensagem O feitiço Caster Dr Ajayi explicou minha situação e como meu marido saiu de casa de repente, ele me disse por que meu marido saiu de casa depois de fazer um feitiço, ele levou apenas sete dias para trazer a felicidade de volta à minha vida, porque estou vivendo feliz com meu marido e estamos esperando nosso segundo filho. Se você precisar da ajuda de um lançador de feitiços para qualquer tipo de problema de vida em que possa pensar, entre em contato com o lançador de feitiços no seu número Viber ou WhatsApp: +2347084887094 ou E-mail: drajayi1990@gmail.com

res aaaaaaaa disse...

Estou estupefata com o comentário supra, diantede um texto tão brilhante!

Prof. Feijó disse...

Pois é, um maluco, metido a bruxo baixou seu santo nesse terreiro que não lhe diz respeito, nem teorico nem literário. Um absurdo que eu, como Anacoreta moderno, não revisado com armas mortais, mas com o ser preso às coisas fúteis sem nenhum valor.

Zelmo Vianna disse...

Caro Feijó, tenho certeza, que em mim habita, os Anacoretas e Cenobitas, sempre focado na melhoria do bem maior, qual seja, a evolução espiritual dos homens. E com isso, a melhoria da consciência humana. A edificação do que é considerado valores do "bem", como família, amigos, respeito, amizade e amor (tanto carnal quanto sublime ou efêmero).
Obrigado por ser quem você é, e que Deus / Oxalá, me permitir te conhecer, minimamente.
Que Deus / Oxalá lhe dê saúde física, mental, psicológica e espiritual..
Aliás, esse retrato de São Cipriano é belo.
Abçs.
Zelmo

PROFESSOR FEIJÓ disse...

Obrigado, Zelmo Vianna pelas palavras. Meu pai se chamava Cypriano. Abraço forte.

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.