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28 de maio de 2007

JOAQUIM RIBEIRO - 100 ANOS

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE JOAQUIM RIBEIRO

Ontem, no dia 27 de maio, comemorou-se o centenário de nascimento de Joaquim Ribeiro. Joaquim era filho do polígrafo, historiador, imortal da ABL e ilustre homem das letras e das pesquisas filológicas, João Ribeiro.
Joaquim Ribeiro herdou de seu pai o gosto por todas essas atividades intelectuais, atuando, com invejável erudição, como professor e investigador nas áreas da História do Brasil, do Folclore, da Estética, da Estilística, da Hermenêutica, do Romance, do Teatro e da Educação. Tive a honra de privar de sua amizade no início de minha carreira no magistério, nos idos da década de 60, no Rio de Janeiro. Joaquim Ribeiro me apresentou a inúmeros intelectuais da época, como o editor J. Ozon, Maciel Pinheiro, Libânio Guedes, Manuel Bandeira e muitos outros.
Numa visita à casa de campo de Maciel Pinheiro, em Teresópolis, conversamos sobre a possibilidade de escrevermos, cada um, um romance. Ele prefaciaria o que eu iria escrever e eu editaria o dele, pois já o tinha todo elaborado em sua aguçada mente . Nunca terminei o que seria O Ventre Livre, mas Joaquim chegou ao fim do seu “Gavião de Penacho”. Não editei esse romance nem “O Folclore Tupi”, pela, então, Editora do Professor, que fundara com o empresário Pedro Paulo Martins. Eram tempos difíceis e as gigantescas máquinas que imprimiam no chumbo derretido as linhas de todos os livros, as famosas máquinas de linotipo e monotipo, já não funcionavam a contento, esperando pela anunciada modernização do setor gráfico. Contudo, alguns livros de significativo valor saíram de nossa editora e chegaram a ver a luz das vitrines de muitas livrarias do Rio de Janeiro.
Joaquim Ribeiro foi um homem bom, sincero, amigo e justo. Antes de morrer não deixou ao relento uma família inteira que ocupara, por invasão, uma pequena propriedade que possuía na Barra da Tijuca, socorrendo aqueles necessitados, desprovidos de um teto para morar. Foi sua última atitude humanitária. Seu coração frágil não suportou fulminante infarto. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, no dia 28 de abril de 1964.
Joaquim Ribeiro foi Técnico de Educação do Ministério da Educação, professor da Escola Dramática Municipal e do Colégio Pedro II, além de professor da Faculdade de Filosofia de Campo Grande. Deixou numerosos livros sobre literatura, filologia, história e folclore. “Estética da Língua Portuguesa” e “Civilização Holandesa no Brasil”, esta em colaboração com José Honório Rodrigues, ambas premiadas pela Academia Brasileira de Letras. Outras obras de Joaquim Ribeiro: “A Descoberta do Brasil pelos Árabes – como se formula uma hipótese histórica”, “Origem da Língua Portuguesa”, “Folclore dos Bandeirantes”, “Oito mil dias com João Ribeiro”, “Introdução ao Estudo do Folclore”, “Estética da Língua Portuguesa, segunda edição”, “Teoria da Hermenêutica da Literatura”. Escreveu três peças teatrais: “Aruanda”, “Yemanjá” e “Deuses de Ferro”, sendo que só a primeira foi encenada. De sua autoria foi o argumento para o primeiro desenho animado brasileiro, intitulado “Sinfonia Amazônica”. Era membro da Academia Brasileira de Filologia, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do IBECC, órgão da UNESCO no Brasil, e foi conselheiro da Campanha de Defesa do Folclore. Na orelha da 2ª edição da "Estética da Língua Portuguesa", assim se expressou o professor e jurista, Raul José Côrtes Marques, nosso amigo comum: “Ainda é muito cedo para se emitir um juízo crítico sobre a obra de Joaquim Ribeiro. Na verdade, se há uma parte publicada, grande é o número dos livros que aguardam publicações”. E acrescentamos nós, quarenta e três anos depois de sua morte. A obra de Joaquim Ribeiro continua, ainda, sem um estudo crítico à altura de sua impressionante cultura humanística e de sua plurifacetada inteligência.

22 de maio de 2007

BICHO, FUTEBOL É O BICHO!





Com os últimos acontecimentos envolvendo a Polícia Federal e os corruptos brasileiros, que, diga-se de passagem, são muito mais do que imaginávamos, instalados em todas as classes sociais, principalmente nas classes dirigentes, as que deveriam dar exemplo, vem à tona a discussão do jogo no Brasil. Aqui se joga tudo. Oficialmente e extra-oficialmente. É a Caixa, a econômica instituição bancária do Governo que banca oficialmente mais de uma dezena de modalidades de jogos, com o discurso desenvolvimentista ou assistencialista de acelerar e fortalecer instituições, clubes e agremiações esportivas de um modo geral. Conseguiram, isso sim, entorpecer o povo brasileiro, deixando-o diariamente com a impressão de que vai tirar a Sorte Grande. À margem da Lei, outros jogos de azar (e todos são de azar, pois há mais perdedores do que ganhadores – e não me venham dizer que essa lógica não é correta) são administrados por pilantras e bandidos da mais alta periculosidade. A especialidade dessa segunda leva de banqueiros é corromper as autoridades que deveriam reprimir essa vergonhosa jogatina e sempre fingem que nada acontece. Isso tudo sem falar nos famigerados bingos, que além de tirar a grana dos trouxas abastece os bolsos dos juízes e desembargadores, também corruptos, como todo o ambiente que envolve o jogo no Brasil e em qualquer parte do Mundo. Mas ia me esquecendo de falar do Jogo do Bicho. Bem, esse é muito antigo e já faz parte dos hábitos e costumes desse nosso povinho difícil de entender as coisas... O Jogo do Bicho chegou até a influenciar a linguagem do futebol. Vejamos: BICHO é um termo com inúmeros significados, inclusive, pertencentes a diversas gírias. Como gíria esportiva, está dicionarizado: “Importância que recebe o jogador de futebol como gratificação pela vitória ou empate”. Acrescentamos que se trata de uma importância, recebida pelos atletas, em caso de vitória ou empate, quase sempre extracontratualmente, isto é, uma recompensa, eminentemente motivadora, pois os atletas profissionais são remunerados para cumprir suas obrigações específicas. Logo, pode-se ver aí embutido um sema relacionado, no mínimo, à contravenção, extensivo, também, ao campo semântico do jogo do bicho. Muitas vezes não se encontra uma explicação para a origem de alterações semânticas, mesmo quando elas ocorrem dentro de grupos, identificados por um interesse comum. A arbitrariedade do significante imprime seu trabalho, agindo em seqüências fonéticas já estruturadas na língua, sempre, contudo, perseguindo uma motivação. Como é sabido, o jogo do bicho no Brasil, criado, no Rio de Janeiro, pelo Barão de Drummond (João Baptista Vianna Drummond), data de 13 de outubro de 1890, quando foi assinado o Termo Aditivo da autorização concedido pelo Conselho de Intendência Municipal, para que, com os recursos obtidos, o referido Barão pudesse continuar mantendo o Jardim Zoológico que fundara, em 1883, situado na rua Visconde de Santa Isabel, com área de 250.000 m². A partir de então, o jogo do bicho foi se tornando cada vez mais popular, estando, hoje, incorporado à cultura carioca e, por que não dizer, à brasileira. Pela popularidade do jogo do bicho, pode-se concluir que o termo BICHO, como gíria do futebol, tem, no jogo criado pelo Barão de Drummond, a sua origem, lembrando, ainda, que já há alguns anos, inúmeros banqueiros desse jogo vêm se dedicando ao futebol, como dirigentes ou beneméritos de conhecidas e populares associações desse esporte de massas, perpetuando, dessa forma, o termo BICHO na linguagem especial do futebol, esporte que pode, também ser facilmente manipulado pela jogatina e por árbitros corruptos.
Êta paisinho danado de complicado...
Até outro dia.

20 de maio de 2007

O GOL MIL DE ROMÁRIO




Valeu, Romário!
Esses mil gols que você marcou em toda a sua história de vida como jogador de futebol representam o seu esforço, denodo e perseverança nesse esporte espetacular que esfacela corações, despertando as mais incríveis paixões na alma humana.

Referencialmente, isto é, sem metáfora alguma, o cardinal mil indica o número
ou quantidade dos elementos constituintes de um conjunto. É interessante destacar que se diferencia do ordinal
, porque o ordinal introduz ordem e dá idéia de hierarquia, etc, etc. Mas MIL é mesmo um número especial, meio mágico, pois a sua representação simbólica, em algarismos arábicos, junta o primeiro número da série infinita da contagem matemática, com os zeros, formas redondinhas, que, isoladas, nada significam.

MIL representa a própria superação do homem em feitos de qualquer tipo de esporte, de lutas, de qualquer coisa. É um numero hiperbólico por natureza. Querem ver? É só se lembrar da magnífica marchinha de carnaval, de Zé Kéti:


“Tanto riso, oh quanta alegria, Mais de mil palhaços no salão, Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, No meio da multidão....”

É de mais!

Esse número MIL traz à nossa mente muita coisa desmesurada. Vamos recordar:

As mil (e uma) noites, dos contos lidos na infância;
As mil milhas disputadas em corridas de automóvel, com empolgantes narrações radiofônicas;
Os mil olhos do Dr. Mabuse, de Fritz Lang, o mais perverso dos grandes cineastas;
Nomes de lojas comerciais que vendem qualquer coisa – Mil e Um tem de tudo! - Êta lojinhas de conveniências, legais!;
Doces amanteigados deliciosos - pura guloseima de sabor inigualável - conhecidos popularmente como Mil Folhas - o suplício dos gordinhos.;
A gostosa gíria da gorotada, dizendo que o “cara estava a mil” ;
A marca de um popular veículo, que já foi o objeto do desejo de grande parte da população brasileira de baixa renda, o VW - Gol mil;

Para sermos um pouco mais prolixos, podemos dizer que o fabuloso milhar estava presente também na Idade Média, como, por exemplo, na obra de Ramon Liull (1232-1326), "A paremiologia medieval: o Livro dos Mil Provérbios”. E como sabemos, o provérbio certifica a verdade, marca o amor do homem e honra a Deus.

Assim, deixemos-nos envolver pela magicidade desse milhar, reverenciando a conquista formidável do GOL MIL DE ROMÁRIO, feito hoje(20 de maio de 2007), em São Januário, jogando contra o Sport Clube do Recife. E como falamos de provérbios, frases da sabedoria popular que certificam, de modo breve, a verdade de muitas coisas, deixemos, também, aqui registrados dois deles, que surgiram há muito tempo – lá na Idade Média – e que atravessaram os séculos, mas dizem, de diversas maneiras, as formas pelas quais o homem constrói a sua história pessoal. Podemos dizer que os provérbios que escolhemos possuem as virtudes desse impressionante jogador de futebol, o nosso Romário, sempre PACIENTE, ESPERANÇOSO e VENCEDOR.
Romário foi isso, a vida inteira. Portanto, poderia, perfeitamente, ser o arauto dessas duas máximas:

AMA A PACIÊNCIA PARA QUE A POSSAS SUSTENTAR E, ENTÃO, O HOMEM PACIENTE NÃO SERÁ VENCIDO.

QUEM TEM O PODER DA ESPERANÇA NÃO É VENCIDO.


Parabéns, Romário. O futebol brasileiro e mundial agradecem.

17 de maio de 2007

EMOÇÃO E A CONFUSÃO DAS LETRINHAS


Depois que o Fluminense deu uma chinelada no Brasiliense, no Maracanã, preparando a sua classificação para a final da Copa Brasil desse ano de 2007, ontem à noite, o veterano atacante Dimba, no final do jogo, reclamou muito da arbitragem. Penso que sem nenhuma razão, mas disse, isso sim, uma grande besteira.
O repórter foi ouvi-lo e todos nós ficamos espantadíssimos. Disse o atacante do Brasiliense aos microfones, lá no gramado:

- "A arbitragem foi um caso de polícia Federal e FMI".

Que é isso, Dimba? Polícia Federal no lance? Talvez porque seu time seja de Brasília ou porque você tenha misturado coisas muito comuns lá pela capital da República, como POLÍCIA FEDERAL, JUIZ, BRASÍLIA, CONFUSÃO, ROUBALHEIRA.
Mas, convenhamos, Dimba, você quis mesmo é dizer FBI, não foi? Assim poderia fazer algum sentido, pois o FBI está ligado semanticamente a POLÍCIA, CRIME, ROUBALHEIRA, etc.
Com essa pérola, Dimba entrou para o ANEDOTÁRIO DO BESTEIROL FUTEBOLÊS e vai ficar ao lado de outros craques, que também falaram muita besteirinha engraçada, como Jardel do Grêmio e do Porto, Prazeres do Bahia, João Pinto do Porto, Manga do Botafogo e o famoso Dadá Maravilha.*
Essa foi demais! Até a próxima.
*Curiosidades e muitas outras coisas sobre a BOLA é o que não falta na 2ª Ed. do nosso livro BALANÇANDO O VÉU DA NOIVA, revisto e aumentado, cujo lançamento está marcado para breve.

7 de maio de 2007

OS SÍMBOLOS GRÁFICOS: ~ & @


Um parente e amigo meu, Jader Ribeiro, me enviou alguns comentários sobre vários símbolos, atualmente em moda no nosso dia-a-dia. À guisa de curiosidade e, talvez, porque tudo isso tem informações úteis, coloco-os nesse BLOG, agradecendo ao primo de Curitiba, sempre ligado na cultura lingüística.

Você sabe qual é a origem do TIL, do -E- COMERCIAL & e do símbolo arroba @ ?

Na idade média os livros eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquele tempo). O motivo era de ordem econômica : tinta e papel eram valiosíssimos. Foi assim que surgiu o til (~), para indicar a nasalização de uma vogal, normalmente a anterior. Um til é um enezinho sobre a letra, pode olhar. O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco". Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco. Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por um feito significativo em suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em seqüência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe. Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras : &. Esse sinal é popularmente conhecido como "e comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se (do latim por si) + and. Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de". Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço - por exemplo : o registro contábil "
mailto:10@£3" significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma". Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido como, em inglês como at (a ou em). No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contábeis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências : 1- A unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo; 2- Os carregamentos desembarcados vinham freqüentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de "10@£3" assim : "dez arrobas custando 3 libras cada uma". Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba. Arroba veio do árabe arrub, ar-ruba, que significa “um quarto", “a quarta parte": arroba, 15 kg em números redondos, correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe, waiba ou quintar, “o quintal”, 58,75 kg. As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu nos teclados dos computadores. Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido " @" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim "Fulano@Provedor X ficou significando "Fulano no provedor X". Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com sua forma, em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel; strudel, na Áustria; pretzel, em vários paises europeus. Finalizando, em eletrônica e eletricidade, é utilizado nos EUA, por exemplo, em transformadores, saída de 6V@0,1A ou seja, 6 volts sob 0,1 ampère, ou seja, corrente de 100 mA.
Fonte: "A Casa da Mãe Joana", de Reinaldo Pimenta e "Dicionário Etimológico" de Antenor Nascentes.


6 de maio de 2007

A COZINHA DO FUTEBOL


Do latim COCINA. Compartimento da casa onde se preparam os alimentos para as refeições. Na gíria do futebol é a grande área. Criação de Sílvio Luiz, jornalista, narrador e comentarista esportivo, da Rede Bandeirantes de Televisão, S.P. Neologismo conceitual,pois o que muda é o conceito, isto é, a palavra não sofre nenhuma modificação e só muda o significado. Ex. "Lançou pra cozinha" = lançou a bola para a grande área. É interessante assinalar a grande incidência de termos pertencentes ao universo semântico da culinária, ligados à visão de quem descreve as jogadas de futebol. Assim: AZEITAR (sinônimo popular de "lubrificar"), AZEITE (sinônimo popular de lubrificante) são outras criações do jornalista Sílvio Luís. Ex. "Azeitou a bola" ; "Azeitou a pelota" : "Meteu o azeite na bola". COME-E-DORME : "não joga nada: é um come-e-dorme". COZINHAR: "Está cozinhando o jogo". FOME: "Está com fome de bola". FOMINHA (aquele que quer jogar sozinho). "Ele é um fominha". FRANGO: "Comeu um frango " ; "Comeu um frango à molho pardo". SANDUÍCHE: "Fizeram um sanduíche nele (ou dele)". TEMPERAR: "Temperou a jogada". TEMPERO: "Passou tempero na bola". COMER: "Comeu a bola": "Ele come a bola" (= exímio jogador, craque).

3 de maio de 2007

UMA PAMONHA DIFERENTE

Mais uma crônica do cotidiano de Luiz Cesar Saraiva Feijó*



UMA PAMONHA DIFERENTE




Aqui pela orla marítima, na calçada da praia, entre a areia e a Avenida Atlântica, existem inúmeras barracas, todas seguindo um desenho arrojado e muito bem cuidadas. Vendem caipirinha e outras bebidas, muitos aperitivos e água de coco, verde e gelado. Entre uma barraca e outra aparece um interessante comércio de guloseima. São as tendas de churros paraguaios e milho cozido. Diga-se, a bem da verdade, que o seu preparo é higienicamente correto, sendo muito apreciado por todos os turistas desta Região Sul do Brasil. Seu consumo atinge, na alta temporada de verão, a impressionante marca de mais de cem mil espigas/mês, o que dá a este balneário a primeira colocação, entre todos os demais, quanto ao consumo dessa gramínea. De seu grão, originário da América do Sul, preparam-se muitas iguarias doces e salgadas, como o curau, a papa, a polenta, o angu, para citar apenas as mais conhecidas. Ah! Ia me esquecendo da pamonha, do tupi pamu’ñã, com desnasalização e hiperbibasmo. Isso mesmo, hiperbibasmo o que vem a ser o deslocamento do acento tônico de uma palavra na passagem de uma língua para outra. Vejam só, esse nome, com todas essas coisas complicadas que aconteceram, desde a língua de nossos índios até o português é aquele gostosíssimo bolinho feito com milho verde, leite de coco, manteiga, canela, erva-doce e açúcar, cozido em folhas do próprio milho ou em folhas de bananeira, atado nas extremidades. Por outro lado, é inacreditável que esse substantivo feminino, depositário de um ritual quase sagrado desde a culinária indígena até as casas de nossas famílias, passando pelo requinte de restaurantes nobres, possa ter adquirido sentidos nada recomendáveis para uma papa de milho verde da mais alta qualidade e incomparável sabor. Isso porque chamar alguém de pamonha é o mesmo que dizer que uma pessoa é tola, preguiçosa, desajeitada, pastelão. Vejam só o que a tal da metáfora faz com as palavras...

Um dia, passeando pelas redondezas desta cidade turística de Balneário Camboriú, onde atualmente resido, a 70 quilômetros de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, chamou-me a atenção uma grande placa, anunciando Pamonhas Típicas da Região. Ora, quem não gosta de pamonha. Pura, genuína, quentinha, sem metáfora alguma? Parei o carro e fui direto ao balcão pedir uma delas, que pode ser doce ou salgada. Pedi doce. Folheando o cardápio da casa para ver o que poderia beber, fiquei, realmente, muito assustado, pois lá estava impresso: PAMONHAS DO PROFEÇOR. Isso mesmo, professor com c cedilha. Não acreditei. Chamei o garçom e perguntei se a gerência da casa não havia se equivocado na grafia. Ele me respondeu que aquilo era marca própria do fornecedor, que possuía, inclusive, registro na Propriedade Industrial do Ministério da Indústria e Comércio, tudo aprovado legalmente pela burocracia vigente. Mostrou-me, também, um “bander” na entrada lateral do estabelecimento que anunciava a famigerada marca registrada. Pensei novamente na metáfora. Onde poderia haver metáfora naquela monstruosidade gráfica? Não. Nada justificava aquele c cedilha numa palavra tão nobre como professor. Pensei também no modismo do marketing barato, tão em voga hoje em dia. Mas tenham a santa paciência, professor com c cedilha é, sim, um crime de lesa-educação.

Não podia tomar outra atitude em face daquele absurdo. Suspendi o meu pedido, deixei de lado os hiperbibasmos e as metáforas e fui direto para o meu escritório redigir um texto, bem referencial, de repúdio, àquela aberração lingüística.

Hoje, passados alguns anos, após minha furiosa indignação, convertida em argumentação lingüístico-pedagógica, pois sempre comentei isso com meus alunos e com todas as pessoas de meu relacionamento, observei que alguma coisa aconteceu com aquele fornecedor das tais pamonhas desaforadas, porque, pelo menos, do Município de Balneário Camboriú, elas desapareceram, verdes de vergonha! Não digo completamente, porque estão voltando, de mansinho, em bares escuros e “fajutos” de beira-de-estrada. Aproveitam-se do surto de ignorância que graça nesse Brasil de todos os erros e vão matando a fome do povo que não repara nessas coisas bobas, próprias dos letrados...

*Crônica publicada originalmente no jornal português, O PROGRESSO DA FOZ, Porto.



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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.