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10 de novembro de 2011

QUE HORROR !





Dilma Rousseff disse hoje e o Jornal Nacional da Globo levou ao ar “que o que passou, passou” ao se referir à crise no Ministério do Trabalho, desencadeada pelo horroroso galanteador, Ministro Carlos Lupi. Ora bolas, Sra. Presidente, assim é fácil tentar esclarecer as coisas. Seguindo sua lógica política, podemos dizer também, em relação ao nazismo de Hitler, que o que passou, passou!
Meu Deus, quando é que o nosso país vai ter governantes sérios, honestos e decentes?






ATÉ A PRÓXIMA

9 de novembro de 2011

AS ESGANADAS




O Rio de Janeiro é maravilhoso. O Rio de Janeiro da década de 30 é sensacional. O Rio de Janeiro de Jô Soares de 38 até hoje é muito mais ainda, principalmente romanceada nas “As esganadas”. E é com gana que registro tudo aquilo que vivi e que ninguém mais poderá viver. Simplesmente porque aquele Rio de Janeiro acabou. E como era encantadoramente comovente ouvir as ondas médias em freqüência modulada (com trema) da PRG-3, Rádio Tupi de todos os silvícolas radiofônicos. Sim, porque havia os Tupi e os Tamoios. Tupi e Tamoio de olhos e ouvidos azuis. Querias rir? PRK-30. Hoje, agora, queres se divertir? Leia As esganadas de Jô Soares.
Vêm aí mais comentários.

ATÉ BREVE

3 de novembro de 2011

AGRADEÇO AOS MEUS VISITANTES




AGRADEÇO AOS MEUS VISITANTES DE TODOS ESSES PAÍSES. GOSTARIA DE CUMPRIMENTÁ-LOS PESSOALMENTE, SE FOSSE POSSÍVEL. NESSES ANOS TODOS DE POSTAGENS, FORAM MAIS DE 100 COMENTÁRIOS NESTE BLOG DO "PROFESSOR FEIJÓ". CREIO QUE ESTAMOS CONTRIBUINDO COM A CULTURA EM NOSSA TERRA, TRAZENDO NOSSA OPINIÃO SOBRE OS MAIS DIVERSOS TEMAS, COM UMA VISÃO INDEPENDENTE SOBRE OS FATOS QUE TEIMAM EM DESPERTAR EM MIM CURIOSIDADE, REFLEXÃO E POESIA. OBRIGADO A TODOS OS MEUS LEITORES.





ATÉ BREVE

2 de novembro de 2011

RUI BARBOSA - O HOMEM




No dia 31 de outubro de 2011, ouvi atento o panegírico a Rui Barbosa, apresentado à Academia de Letras de Balneário Camboriú pela acadêmica Leoniza Mac Ginity Vilarino. O evento ocorreu na Biblioteca Púbica Machado de Assis, nessa mesma cidade de Santa Catarina.
Panegírico é um nome que tem origem no grego e significa um discurso laudatório, proferido solenemente em honra a uma pessoa ou a um ser abstrato. O patrono da cadeira nº 28 da Academia de Letras de Balneário Camboriú, Rui Barbosa, foi homenageado, assim, pela Professora Leoniza, com toda pompa e, principalmente, com toda a elegância discursiva de um envolvente elogio à sua vida. A proposta de Leoniza Mac Ginity Vilarino foi a de falar sobre o homem, sua família, seu cotidiano entre amigos em seu solar carioca, no bairro de Botafogo. Chamou a atenção do ouvinte a pesquisa desenvolvida “in locum” pela acadêmica, que foi ao Rio de Janeiro realizar sua proposta e a materializou em distinto livro, intitulado Rui Barbosa, eis o homem, distribuído e autografado ao final da bela sessão noturna. Uma iconografia bem selecionada e de acordo com o tema – o homem Rui Barbosa -, recebeu, ao final do livro o sugestivo e poético título Porta-Retratos. A obra da ilustre professora Leoniza é didicada aos guardiões da memória do insigne brasileiro e a todos os integrantes da Fundação Casa De Rui Barbosa, principalmente aos pesquisadores Rejane Mendes Moreira de Almeida Magalhães e Hugo Porto Soares. Sucinta, mas exata bibliografia termina o livro, pois lá são citados os mais significativos trabalhos dos estudiosos da obra de Rui Barbosa, como João de Scantimburgo, Raimundo Magalhães Júnior, Américo Jacobina Lacombe entre outros. Estão todos de parabéns. A Academia de Letras de Balneário Camboriú, por ter em seus quadros tão inteligente, preparada e simpática professora. Também e principalmente aqueles que desta destacada sessão literária participaram, engrandecendo o evento com suas presenças.

ATÉ BREVE

27 de outubro de 2011

SÓ DESASTRES E CORRUPÇÃO






É muito desagradável ouvir as notícias que as emissoras de televisão colocam no ar, pois só mostram desgraças ou corrupção. As desgraças da época estão ocorrendo no trânsito, com motoristas irresponsáveis, dirigindo alcoolizados, matando inocentes. E fica tudo por isso mesmo, pois nossas leis são uma piada de mau gosto. Na política, só dá corrupção. O povo brasileiro já se acostumou e pensa que isso não tem importância. Já ouvi até um adolescente dizer que corrupção é normal e que gostaria de que seu pai fosse um corrupto, pois assim teria muita grana para gastar. É o fim. Agora foi a vez do Ministro dos Esportes, Orlando Silva. Um lástima! Como há ladrão no governo! Democracia não é isso não, minha gente! Não acontece nada com esses bandidos! Mas eu não paro de alertar. É meu dever. Sou um professor!



Meditação 1.





Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos, mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma. Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente. Mas o traidor se move livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado. E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade à suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas.
Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe
”.
(Discurso de Cícero, tribuno romano, 42 a.C.)

Meditação 2.





No Brasil, não há um traidor. Há vários. São todos os que enganam o povo, política e administrativamente, locupletando-se dos bens materiais alheios, do dinheiro do erário público, das verbas públicas e que praticam muitas outras patifarias. Eles estão localizados no PODER CENTRAL desse Brasil infeliz. Têm nome e sobrenome, mas estão protegidos por uma “JUSTIÇA MACABRA”. Por Leis que não são DEMOCRÁTICAS. Contudo, segundo, ainda o grande tribuno romano, “nihil honestaum esse potest, quod iustitia vocat”.

ATÉ BREVE

19 de outubro de 2011

REBOJO






Há poucos dias atrás conheci Cristiano Moreira e seu livro de poemas Rebojo, editado pela Bernúncia Editora, Florianópolis, em 2005. Livro de 92 páginas muito bem editorado e com fino acabamento, trabalhado pela Nova Letra Gráfica e Editora de Blumenau.

O livro, em sua capa cubista policrômica, desenho de Eduardo Moreira, que não é parente do autor, apresenta, em linha espiralada, próximo à margem direita, ao alto, um decassílabo heróico, que poderia passar despercebido por se confundir com as cores e letras da capa desse belo trabalho poético de Cristiano Moreira. O verso, “Um barco é um livro de madeira”, apresenta acentuação tônica na 6ª e na 10ª sílabas, sem elisão entre a 3ª e a 4ª sílabas.

O poeta ao dizer que um barco é um livro, pretende colocar no barco as propriedades intrínsecas do livro, ou seja, pretende mostrar por uma comparação por idéias que um barco é um disseminador de aventuras e de cultura, basicamente como um livro. Transporta para o barco as funções primordiais do livro. Eis a metáfora primeira. Mas ao complementar, dizendo que é um livro de madeira, o poeta vai um pouco mais longe e retoma o sentido primitivo, etimológico, portanto, que é aquilo de que uma coisa é feita. E mais, fundiu o passado com o presente, pois o significado de “madeira” especializou-se para o de pau. E os barcos da história de vida do poeta e do eu - lírico dos poemas de Rebojo, são feitos de pau, nos estaleiros de Navegantes e da vizinha Itajaí, cidade de Santa Catarina onde nasceu Cristiano Moreira. Eis a metáfora segunda. E é esse o trabalho engenhoso do poeta que constrói e desconstrói seu texto, a partir da capa (parte integrante do longo poema que é esse Rebojo) como os artesãos carpinteiros, montam e desmontam, construindo e desconstruindo os pesados cascos das traineiras, leves baleeiras e muitas outras médias e pequenas embarcações, que partem do Rio Itajaí-Açu para o mar aberto em busca da vida.

Os recursos da retórica grega têm na obra de Cristiano Moreira algo muito mais significativo do que aquelas clássicas figuras de palavras denunciam. Suas metáforas, hipálages, metonímias, antíteses, sinestesias e muitas outras são figuras que trabalham intensamente com o significado e com o significante da língua. Mais que tudo isso, Rebojo é uma viagem ao imaginário que evoca o mar em mansidão e o mar em turbulência, criando alucinógenas construções lingüísticas, como a encontrada no verso “fissura do silêncio em alto mar”. Assim, sua linguagem poética causa instigante impacto no leitor pelo imprevisto, indo além da significação primeira, através da desconstrução do referencial, como ocorre, por exemplo, em


áccccccccccidas
em alto mar
a fissura do silêncio
é sideral siderúrgica
....................lisérgica!”,



onde o sintagma latente Ácido Lisérgico se desconstrói em “áccccccccccidas....lisérgicas”, numa criação manifesta de novos significados no rumo do poético, para atingir inúmeras outras significações. Todas as estruturas do verso sofrem esse processo de construção e desconstrução, como o próprio movimento inconstante da maré. Estão nesse caso os versos soltos de seus poemas e também os poemas de forma fixa, como o soneto invertido, que inicia com dois tercetos seguidos de dois quartetos.


Do mesmo modo, Cristiano trabalha o trágico e o lírico, em oposição, procurando a forma correta de dizer o subjetivismo do belo, com pequenos textos em prosa poética, como pode exemplificar o texto lâmina – espelho: espanto! Aqui, o trágico limita o lírico, em narrativa realista, cuja linguagem, impregnada de recursos fônicos, aponta para o poético, partindo desse título lâmina – espelho: espanto!, balizado por uma semiológica transformação de grafismos em grafemas. Este pequeno texto, o segundo do livro, retorna ao Leitmotiv do poeta, o mar, num ritmo tão significativo quanto à engendrada forma de materializar seu discurso, com uma sugestiva pontuação e com originais metáforas metalingüísticas, como esta: “...último garrafão de vinho terminara, tornara-se um palíndromo: só cacos”.


Em Rebojo, vento que espalha poesia e palavras, deparamo-nos com formas vocabulares que vão do neologismo à justaposição, passando pela aglutinação, prefixação e conversão. No primeiro mini-texto poético, - “a virada do dorso/ de uma onda quebrando” – um subtítulo do romance O Inútil de Cada Um, de Mário Peixoto, explicado pelo próprio autor, já vamos encontrar palavras com enorme força significativa para unir fundo e forma, enunciado e enunciação. Palavras trabalhadas pelo código lingüístico, com suas estruturas internas re-arrumadas morfologicamente, em sintaxe rítmica, onde aliterações e coliterações aumentam a expressividade narrativa: transalinar seu desejo; o sol seca o suarento corpo cristalino, cru, imerso na unidade compacta da transformação. E mais: o lençolíquido, inconsútil (metáfora táctil); uma corola presa aos vidrolhos compactados; este braço-bigorna; qual brônzea imagem sobrerespira, a primeira ou a última?


Encontramos, ainda, em várias passagens desse livro de Cristiano Moreira formas semiológicas ou semióticas insipientes de apresentar o poético, quer seja nos poemas isoladamente ou em grupos de poemas, unidos por idéias semânticas sobredeterminantes. Assim, ao fim desse primeiro mini-texto, examinado acima, após a indagação feita pelo próprio poeta, seguem vários outros poemas até o início do segundo mini-texto, intitulado lâmina – espelho: espanto!, já analisado.


Outro fator predominante que caracteriza os poemas de Rebojo é o ritmo homofônico e muitas vezes anapéstico, com rimas internas e timbre alternado, entre o aberto e o fechado, em expressivas antíteses fônicas: “ora reticentes à partida/ hora prometida na chegada/ embora temida”.....“oram à obra/ pensamentos dobrados/ fiados na roca do sol/ secos/ posto na carne, no crânio/ o trêmulo trepido insano/ abre – vulva árida -/ disseca memória” (p.18).


Ler os poemas de Rebojo é se deparar a todo instante com um rico material de pesquisa para um estudo profundo de estilística. Assim, aliterações, coliterações em quiasma, os mais variados ritmos com suas antítieses fônicas sinestésicas, tudo isso, combinado com uma morfologia e uma sintaxe transgressoras, faz dessa obra um canto único da poesia náutica catarinense, que mostra a pulsão de vida, imitando o fluxo e refluxo das marés.


O poema Lá, só sal (p.26) é um solfejo metafórico de uma escala musical que ameniza o sofrimento do pescador em alto mar, atividade tida como um palíndromo existencial, no vai-e-vém daquele trabalho extenuante de atirar e recolher a linha do espinhel. O poeta, em linguagem culta, utiliza esse significante palíndromo em sua acepção grega, cuja etimologia mostra aquele que volta sobre seus próprios passos, fazendo desse termo uma parte integrante da constelação semântica daquele ir-e-vir das ondas do mar, no trabalho salgado dos marinheiros. É este um dos mais significativos poemas de Rebojo.


Os poemas anteriores, sem título, mais uma característica de Rebojo, surgem após o primeiro texto em prosa poética e faz parte da grande temática do “sal num copo de carne”, início do livro. Estes dois poemas, “rebojo é um dia ao avesso” (p.24) e “flores cor-rosivas” (p.25) merecem anotações pelas explosões sucessivas de fenômenos estéticos que fazem aflorar a função poética, ao longo mesmo de toda obra. Assim, na estrofe de três versos brancos “o vento vem escanhoar/ a face do rio/ de escarlate tingindo”, surge o novo, por outra opção de leitura, pela transgressão sintática, ou anfibologia, emergindo daí vários ritmos, pois modifica a estrutura da frase, alterando a posição do verbo na oração, deixando a ação por fim, valorizando o seu significado pretendido. Semanticamente, o uso de significantes, por comparação de idéias faz surgir essa metáfora animista cromática, envolvendo todos os três versos da estrofe e dá vida ao vento e cor escarlate ao rio ferido. O ritmo final do poema nos mostra o pé anapéstico, proparoxítono, no dístico com rimas toantes. Importa também salientar que o significante, fidúcia, que surge para compor o ritmo anapéstico, desvinculado da semantização contextual, está integrado ao processo poético dominante da poesia de Cristiano Moreira, numa desconstrução do significado e reconstrução de novas significações.


Já o poema seguinte, “flores cor-rosivas” (p. 25) inicia com um trocadilho metafórico, amparado na corrosão das coisas exercida pelo sal, metonimicamente usado no lugar do mar, domínios do deus-profeta Proteu, por isso mesmo pastor de esperanças no reino supremo de Poseidon. A estrofe de quatro versos brancos se ergue sonora repleta de aliterações, início de um ritual que pede proteção às entidades do mar, numa miscigenação de culturas, onde o sincretismo onírico e religioso invoca e evoca, ao mesmo tempo, deuses gregos e orixás africanos do candomblé. O poema continua com uma antítese latente, proporcionada pelos significados manifestos dos significantes “noturna” e “ebúrneos”, para, mais abaixo, após interessante marcação semiológica em “espuma – barra”, surgir, por metalinguagem, o verso: “em pleonasmos brancos”.


Assim, é importante que se registre aqui, também, o uso culto do idioma, o domínio dos discursos ideológicos da cultura ocidental e o seu trabalho transgressor com palavras, materializado, em muitos outros inúmeros versos, mas principalmente aqui, no último segmento do último poema (p.28), após uma espécie de sinafia métrica (co-/p/o d’água para limpar a goela/ no banho/), ao terminá-lo com um dístico, Leitmotiv de sua poesia, contendo esta sugestiva e metafórica mensagem: “dor e cansaço são magias que fazem/ flutuar as embarcações”.


Outra forma encontrada por Cristiano Moreira para materializar poeticamente seus sentimentos, através da escrituração de seus versos, foi trabalhar com o poema concreto e com formas semióticas de significação. Não faremos aqui distinção entre semiótica e semiologia. Nossa análise privilegia a semiologia de Eric Buyssens, sabendo que com isso não entraremos em conflito, pelo menos nesta abordagem crítica, com a posição semiótica de Décio Pignatari, por exemplo, nem com as teorias do grupo concretista dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Portanto, pode-se dizer aqui que a poesia de Cristiano Moreira, apresentada nesta obra, tem o cintilar da fagulha criativa de um “noigandres” poético pela invenção em criar. É só analisar e perceber, com um olhar específico, como fez Maria Luísa Ramos, a respeito do poema de Augusto de Campos em, Noigandres 5:




“A disposição ziguezagueada das palavras é um significante material da velocidade com que as coisas se transformam: tudo se passa como um relâmpago, símbolo muito explorado com relação à efemeridade da existência. Poder-se-ia acrescentar ainda outra conotação da forma ziguezagueada, um permanente fluir e refluir que identifica o último verso do poema com o primeiro, de modo a poder-se iniciar tudo de novo, indefinidamente”, in, Fenomenologia da obra literária, São Paulo, Forense, 1969, p.45.

Do mesmo modo, pode-se ver nos dois poemas de Rebojo, acerca das orgias/ no “Beco da Navalha”, página 50 e o seguinte, sem título, na página 51, que explica o anterior, uma forma bem próxima da desintegração do verso tradicional. No primeiro poema da página 50, as palavras se dispersam visualmente, como fragatas alucinadas, predadoras do alimento alheio, que agem de modo mais agressivo do que agiriam as alvas gaivotas “em altoceano/ como aparecem formigas/ em batalhas, Bataille/ em desnecessária competência...”, na explicação metalingüística dada a seguir, criando uma metáfora do Desejo. Para o poeta, “corps morcelé”, no poema dilacerado, o significante se consubstancia em palavras-gaivota. A disposição das palavras no primeiro poema (cerca das orgias/ no "Beco da Navalha”) pode ser visto ainda como o retalhamento da navalha, antítese entre Eros e Thanatos.

Sabe-se que o poema concreto comunica sempre a sua própria estrutura, da mesma forma como, por exemplo, na Teoria da Comunicação, Marshall McLuhan comunicara ao mundo acadêmico, na década de 60, que “o meio é a mensagem”. Segundo Augusto de Campos, poema concreto ou ideograma passa a ser um campo relacional de funções. Essas formas de se trazer outras dimensões para o visual do poema, a criação de “uma totalidade sensível verbivocovisual, de modo a justapor palavras e experiência num estreito colamento fenomenológico, antes impossível”, parece que é mais um milagre estético da modernidade que clama por contestações. E a transgressão é a ferramenta mais importante do poeta.



Assim, percebe-se em muitos poemas de Rebojo uma tentativa do autor em misturar o tradicional com o moderno, abrindo espaço para o concretismo. Os poemas de Rebojo não têm título. Quando o título surge (p.34), o grafismo impõe um ideograma que deverá ser codificado para que se obtenha um significado. Há em muitos poemas uma mistura de texto em prosa poética com textos marcados com versos livres, com estrofes isométricas e o uso do espaço como elemento de composição significativa e pertinente (p.33) e pode quebrar a linearidade da escrita, contestando o significado etimológico de “verso”, significante que passa a ter outros significados (p.45).


Os poemas que surgem após “Tábua de Marés” (p.55) apresentam uma sucessão de imagens acústicas com significados trabalhados por fértil imaginação, costurando o poético, fazendo-nos compreender o “movimento inconsútil”, metáfora que identifica os movimentos das ondas do mar com uma grande túnica líquida, sem costuras, talvez azul ou verde, mas “diáfano lençólíquido...” (p.57) Antes, Tábua/ de Marés/) sístoles e diástoles/ de linguagem turva (, título de mais um bloco de poemas, transgride a ordem digitalizada dos vocábulos em frase, distorcendo os dois parênteses, grafismos que se transformam em grafemas, mais uma vez, pois adquirem significado: o de excluir, antes de incluir. O semiótico ainda surge, timidamente, no poema III, (p.59), quando o vocábulo v a z a n t e s (tentativa de quebra da arbitrariedade do signo) surge com letras e s p a ç a d a s. Já no poema IV, a formatação apresentada precipita a degradação do rio, o Rio que acompanhou a vida de Cristiano Moreira, o Itajaí-Açu (p.60). Aliás, mais adiante, no poema IV do bloco “cortejo fluvial das carpideiras”, repleto de aliterações, a forte e intensa presença do Rio Itajaí-Açu sugere o aprisionamento da vida no espaço ribeirinho da sua existência.


Assim, por tudo que foi apresentado, a poesia de Cristiano Moreira, mostrou em Rebojo que tem o dom de falar alto, para nos sensibilizar e nos fazer imaginar o vôo das aves do rio e do mar, de onde vem a vida, precipitando o belo que sua escritura explicita, quer esteja ele nas “lágrimas dos peixes que jamais serão enxutas” ou nos mercados com “o cheiro do peixe sob as unhas devolutas” do Nego Dico.


ATÉ A PRÓXIMA

22 de agosto de 2011

ASSASSINATO COVRDE. ACORDA, POVO BRASILEIRO!




Ninguém lê textos longos.
Vamos escrever textos curtos, na Rede Social da WEB.
Como pode um país como o Brasil ficar refém dos maus, dos ladrões, dos assassinos, dos corruptos, daqueles policiais militares que em vez de nos proteger, nos matam, como mataram a juíza Patrícia.
Patrícia Acioli foi colega de turma na UERJ de minha filha, que também atua na Justiça Estadual do Rio de Janeiro. Poderia ser minha filha a pranteada do dia. A pranteada da vez. A vítima de uma ordenação jurídica frouxa, feita por parlamentares constituintes de 1988, comprometidos com a vingança político-partidaria, com a ganância e muito mais, pois o sistema parlamentarista não foi implantado e o sistema presidencialista prevaleceu, após plebiscito aplicado à nossa nação. Uma Constituição comprometida, portanto, com um Parlamentarismo que nunca existiu e tendo como representantes parlamentares, desrespeitando a máxima jurídica latina NEMO EX IVDEX IN SUA CAUSA POTEST.
O Brasil é mesmo um país “suis generis”. Milhares, milhões de indivíduos vão à rua para brincar, para se divertir numa passeata gay, no Rio e em São Paulo (embora com toda razão ideológica) se divertindo, mas não se manifestam identicamente contra a imolação de inocentes e profissionais da justiça, no cumprimento de suas funções públicas, como foi o caso do covarde extermínio da eminente juíza de São Gonçalo, mais um mártir da Justiça do Rio de Janeiro.

ATÉ A PRÓXIMA

UM DESAFIO FILOLÓGICO







Recorri a um grande amigo carioca, dos bons tempos em que andávamos à vontade pelos bares de Botafogo, à noite, inclusive, sem nenhum medo de encontrarmos os agora temíveis amigos do alheio, para tentar empreender uma pesquisa histórico-filológica. Meu amigo me indagou a respeito da origem das palavras PENA e PENHA. Respondi-lhe em forma de missiva, estilo já pouco usado entre pessoas para uma comunicação simples, entre bairros de duma mesma cidade ou até entre cidades distantes e países longínquos.
Instiguei sua lúcida figura de pesquisador da área médica, sempre preocupado com as origens de tudo, inclusive com as origens dos vocábulos de nossa língua.
Fui diretamente ao assunto, escrevendo num moderno teclado de um computador, onde trabalho com as modernas técnicas da informática. Enviei-lhe por correio os papeis, extraídos em minha impressora a lazer, HP.
Caríssimo Ivan.
Olhe o que a sua inteligentíssima inquietude lingüística, sempre à procura de temas incomuns, aprontou! Levou-me a pensar numa possibilidade de interpretar a nomenclatura de duas regiões cariocas e querer investigar essa história, “ab ovo”. Agora, posso dizer, confortavelmente, que estamos juntos nessa pesquisa. É o seguinte. Em latim, há palavras homógrafas, mas não podemos dizer, com toda segurança que também são homófonas, pois a língua latina é de ritmo quantitativo, enquanto a língua portuguesa é de ritmo intensivo. Assim, no caso de PENNA, pluma e PENNA, rochedo (embora haja a forma paralela PINNA) não podemos afirmar categoricamente que ambas pronúncias tenham sido iguais. Além disso, PINNA, também com o sentido de flecha, e objeto para se escrever, deu em português pena de escrever (mais tarde caneta, por metonímia, pois se trata do uso da parte pelo todo).
Os fatos:
1- No Rio de Janeiro há a Igreja Nossa Senhora da PENHA, no bairro carioca de mesmo nome, no alto de uma grande e alta pedra;
2- No Rio de Janeiro há a Igreja Nossa Senhora da PENA, no bairro carioca de Jacarepaguá, também no alto de uma grande e alta pedra.

As observações:

Em português PENA está dicionarizado como: a) s.f. sanção (do gr. poine), profundo sentimento, compaixão, dó, desgosto, ser útil, vantajoso, compensar em valer a pena – expressão considerada por purista como galicismo , substituindo-se por valer o esforço; b) s.f. cada uma das estruturas ceratinizadas que revestem o corpo das aves (lat. Penna, o que serve para voar). José Pedro Machado, parece-me que foi quem melhor atentou para o problema das origens nestes casos intrincados. Diz ele: “Em tempo escrevi alguma coisa sobre o étimo de pena e penha: pensei que aquela (pena) palavra poderia ser céltica, e esta (penha) derivar dela: todavia é mais natural, de um lado, ver em pena o latim pinna no sentido de "ameia", o qual depois se desenvolveria no de “rocha”, “penhasco”, por a ameia ser de pedra, e elevada, e do outro, ver em penha influência espanhola. Como se verifica, Leite de Vasconcelos não rebateu a hipótese céltica reconhecendo noutro passo a antigüidade das formas ou de algumas formas, acrescento eu, em pena. É que em alguns casos pena, e seus compostos e derivados, podem representar o céltico penn, pen, “cabeça”, “cabeço”, “extremidade”, “cabo”, em gaulês e em galês, tendo havido confusões com o latim penna, “asa”. O latim bene, “bem”, confundiu-se mais tarde com o árabe, bem, “filho de”, e o português penha).

O que procurar?

1) Saber se o onomástico PENHA, bairro carioca é mais antigo ou mais novo do que o santuário de N.S. da PENA, em Jacarepaguá (Bairro da Freguesia);
2) Saber se, sendo mais novo o santuário de Jacarepaguá, houve necessidade de se alterar o nome de PENHA (pois já existiria o nome do bairro do subúrbio da Central) para PENA, e, nesse caso, PENA seria o objeto com que se escreve, pois, atualmente, N.S. da PENA é protetora dos escritores.

É sabido que em Portugal, existe o Castelo da PENA, em Sintra, num alto morro de granito, semelhante à localização da Igreja brasileira de N.S. da Penha, no bairro carioca de mesmo nome. Então, tentaremos chegar a conclusões que poderão ser óbvias ou não, quem sabe?
Fico no aguardo de seu pronunciamento. Meu caríssimo amigo carioca e grande esculápio, topas ou não topas essa empreitada? Um abraço afetuoso do Feijó.

Aguardo a resposta dele.

ATÉ A PRÓXIMA

18 de agosto de 2011

M E D I T A Ç Ã O



Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand






(judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920)






Aplica-se ou não se aplica ao B R A S I L de hoje ?









“Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.






Fonte: Jader Ribeiro






ATÉ A PÓROXIMA

28 de julho de 2011

LÁGRIMA


Uma lágrima de luz
brilhante e transparente,

nascida imprudentemente

da humana inconseqüência de amar.

Lágrima louca, tu és

a distorção e a inversão do Outro,
que sempre procurei dentro do espelho.



E meus olhos choram,

e refletem no ar

a tua imagem angustiada,
plena daquele brilho estúpido

que estão nos olhares dos santos,
que só sabem perdoar.









ATÉ A PRÓXIMA


14 de julho de 2011

ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

Ontem, dia 13 de julho, a Academia de Letras de Balneário Camboriú comemorou 9 anos de existência. A bonita festa foi realizada na Câmara Municipal da cidade e contou com o apoio da Fundação Cultural e da própria Câmara Municipal de Vereadores. A nossa Academia de Letras nos proporcionou a todos uma sessão memorável. Seu atual presidente, Isaque de Borba Corrêa, conduziu os trabalhos com excelente desenvolvimento e homenageou figuras representativas da cultura e da política da cidade. Mas deixei de me expressar sobre o que realmente significa para a sociedade uma Academia de Letras. Como a festividade teve uma longa pauta, não quis alongá-la com mais palavras. Além do mais, ao cabo da festa, quando poderia ainda pedir a palavra, as autoridades públicas já haviam se retirado, por terem outros compromissos oficiais assumidos.



Numa Academia de Letras há poetas, romancistas, contistas, cronistas, historiadores, filólogos, e demais escritores que trabalham com uma matéria prima comum: a língua. Essa matéria prima é o mais significativo e importante código social. É por ela que nos comunicamos e expressamos nossos sentimentos, os mais recônditos, os mais enraizados no fundo de nossas almas. Por essa matéria prima, a língua, falamos de outros códigos, num exercício de metalinguagem constante e nos aprimoramos na vida social em prol do bem comum, inclusive. Portanto, é aqui, nessa Academia de Letras de Balneário Camboriú que também exercemos nossa cidadania. E mais, aceleramos o progresso através de ações quase despercebidas do grande público, quando, por exemplo, seus pares publicam suas obras, com conteúdos, os mais diversificados possíveis, pois é nessa diversidade de temas que vamos encontrar a unidade em torno da qualidade e da excelência que se purificam sempre e trazem para todos informações referenciais e estéticas, para a solidificação profissional ou para o regalo contemplativo de nosso pensamento.



Assim, ontem, ouvimos e percebemos o entusiasmo com que o nosso presidente, um incansável pesquisador de fatos, documentos e vestígios históricos do passado dessas bonitas terras catarinenses, relatou como conseguiu chegar às origens de um termo lingüístico, perdido num passado secular. Este acontecimento surgiu num momento de pura emoção, quando a Academia reverenciava e homenageava seus membros que já não estão fisicamente entre nós: o momento da saudade.
Assim, foi resgatado um termo de nossa língua que pertencia ao vocabulário ativo dos catarinenses que se envolveram na Guerra do Contestado. O nosso presidente, Isaque, é um “catador” de palavras. Muitos dos presentes não tiveram tempo de entender o que esse tipo de trabalho significa para a comunidade, pois pode passar como irrelevante, sem nenhuma correlação com a praticidade do dia-a-dia do cidadão comum e de não ter importância para o país. Mas é preciso lembrar a todos que o trabalho de garimpagem lingüística ou de busca das origens lingüísticas ou, ainda, dos estudos dialectológicos é também uma forma de crescimento cultural, pois, com isso, resgata-se o passado de nossa gente e dá-se o primeiro passo para o surgimento de uma política de integração nacional. Um país imenso como o nosso com diversidades culturais incríveis, mas unido pela língua comum, deve preservar seus regionalismos, suas formas lingüísticas diatópicas e diatrásticas. Tenho conhecimento de que esse trabalho está sendo executado, aqui perto de nosso município, na Universidade do Sul de Santa Catarina, em Palhoça, como atesta, por exemplo, o trabalho do Professor Tadeu Luciano Andrade, intitulado “Os estudos dialectológicos no Brasil: as contribuições para o ensino da língua”. Com os estudos dialectológicos o ensino da língua pátria poderá ser um dos primeiros tópicos atingidos pela aceleração cultural, envolvendo instituições, professores, alunos e um grupo incontável de agentes comprometidos direta ou indiretamente com o processo educacional de ensino/aprendizagem, talvez surgindo daí novas políticas públicas que resgatarão, sem dúvida alguma, o péssimo ensino da língua pátria em quase todos os rincões desse imenso e querido Brasil. De mais a mais, um povo que não conhece seu passado, não terá um futuro digno. A busca do passado lingüístico é também uma forma de se exercitarem os métodos científicos e preparar o aprendizado da língua, impulsionadora do progresso. Esse trabalho, em suma, é uma forma superior de se fazer ciência, mesmo lidando-se com objetos menos visíveis, pois a ciência nunca foi do particular e sim do geral.


As pesquisas dialectológicas envolveram grandes nomes de nossa filologia como Serafim da Silva Neto, Celso Cunha, Antenor Nascentes, Aryon Dall’ignea Rodrigues e muitos outros. Desde 1957, por ocasião do III Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, realizado em Lisboa, foi defendida a necessidade de elaboração de atlas lingüísticos regionais. Para se ter uma pequena e inicial visão da importância geopolíca, inclusive, desses trabalhos dialectológicos, cito o surgimento de obras importantíssimas como o Atlas Prévio dos Falares Baianos, em 1963; o esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (1977); o Atlas Lingüístico da Paraíba (1984); o Atlas Lingüístico de Sergipe (1987); o Atlas Lingüístico do Ceará; o Atlas Lingüístico de São Paulo; o Atlas Lingüístico da Região Sul; o Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro e, ainda, recentemente, surgiram, em diversos Cursos de Pós- graduação, trabalhos relacionados à geolingüística, como foi o caso do Atlas Lingüístico do Paraná, tese de doutorado de Vanderci Aguilera, recentemente publicado em 1995.


Por tudo isso, creio que dei uma idéia de como a nossa Academia de Letras de Balneário Camboriú, através da participação cultural de todos os seus integrantes, em todas as suas áreas e expecializações pode acelerar o progresso cultural de nossa terra. E me entusiasmei sobremaneira com as pesquisas lingüísticas diatópicas, executadas há muitos anos pelo nosso atual presidente, Isaque de Borba Corrêa, que nos apresentou interessantíssimo e emocionado exemplo de como se resgatam raízes perdidas de nosso idioma, fato que pode ajudar a desenvolver a cultura nacional, acelerando o desenvolvimento, criando novos mercados de trabalho, gerando riquezas e dignificando as ciências e letras de nosso Município, de nosso Estado e de nosso País.



ATÉ A PRÓXIMA

24 de junho de 2011

BALNEÁRIO CAMBORIÚ ON LINE EM TEMPO REAL





Acessem esse link:


ESSE AÍ EMBAIXO É SÓ UMA PARTE. É A VISTA DE SUL PARA NORTE. HÁ NO SITE ACIMA VÁRIAS VISÕES DA CIDADE.

APROVEITEM.


http://www.bcaovivo.com/aovivo/balneariocamboriu-norte/



Curtam essa bonita cidade.

ATÉ BREVE.

10 de abril de 2011

TEMPESTADE


A moderna poesia descritiva e temática parece que agradou e sua produção se faz presente no Brasil inteiro. Aqui pelo Sul, do Rio Grande ao Paraná floresce uma plêiade de bons poetas, que se aventuram pela poesia temática. Sobre a arte secular do circo, Alkimar Santos, lançou Circenses, obra de um magnífico apuro formal próprio de quem domina plenamente a língua portuguesa e trabalha o verso moderno com segura técnica e beleza. Sua estrofação surpreende pelas rimas internas e pelo emprego especial do "enjambement". Sobre o paisagismo de uma infância, marcada pelos caminhos do Rio Testo, que serpenteia Pomerode, Irwnêu Voigtlaender pincela a vida com o tom nostálgico de recordações, em seu livro Céu de Cristal. Em Porto Alegre, Colmar Duarte caminha pelas margens de sua Água de Sanga, ao luar, com seu cavalo que “morde o silêncio do freio”, numa noite de Insônia. São versos que soluçam um tempo distante que não volta mais. O memorialismo poético também acompanha a poesia descritiva e temática, servindo, outrossim, de elemento catalisador entre um assunto destacado e a participação do eu – lírico do poeta, embutido na cosmovisão plena daquilo que será transfigurado. Maria Carmen Varejão, com seus poemas de Canto à Vida, não deixa de invocar a lembrança dos amigos poetas, dedicando a eles poemas e fotografias, pois, como diz: “Tua força está no que acreditas/Pelos caminhos do vento andaste.../Acreditas no amor sem reservas/Num mundo real, sem máscaras”. O conjunto da obra denuncia um tema perseguido: o amor. Significativo é o tema histórico do último livro de Luigi Maurizi, Alforria, floreios na servidão. Temática anacrônica, como proposta, mas bem conduzida e repleta de vestígios recorrentes ao romantismo poético de Castro Alves. Também na linha temática, sem trocadilho, o livro de poemas de Tamara Kaufmann, Santa Catarina Entre Linhas e Poemas é um cromo, unindo arte poética, fotografia e tecelagem. Eduardo Torto Meneghelli Júnior, com seus Borbulhos Mentais, já em segunda edição, trabalha os estratos fônicos, morfo-sintáticos e semântico, identificando seu texto poético com o Noigandres do concretismo de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Ronaldo Azeredo, que exploraram as virtualidades das palavras, experimentalmente, em 1956. Agora, em 2011, Fátima Venutti, relançou seu livro Tempestade, na Fundação Cultural do município de Balneário Camboriú, numa bonita noite de festas, de cultura e de muito calor humano. Foi neste último sábado, dia 9 de abril. Tempestade é um livro de poemas, editado por Nova Letra, Gráfica e Editora, 2010, Blumenau. Belo e expressivo projeto gráfico de Rosane Kurzhals. Trata-se também de poesia descritiva e temática, onde a chuva, a tempestade e suas conseqüências marcam o Leitmotif, o fio condutor, de seu texto poético, ávido em buscar o conotativo e a transfiguração da realidade, através de versos e estrofações modernos, sem abandonar totalmente a versificação tradicional, como se pode ver em: “A chama da vela que engana/reclama insensata uma ausência.? Respinga o choro incontido e/rastreia, solitária, seu último respiro”. De parabéns está Santa Catarina em geral e, também, particularmente, seu pólo cultural, localizado nos municípios do entorno do Vale do Rio Itajaí-açu, que é pródigo em doutores, poetas e loucos...


ATÉ A PRÓXIMA

8 de abril de 2011

UMA TRAGÉDIA INCOMPREENSÍVEL


A tragédia enlutou os lares das famílias de Realengo, subúrbio do Rio de Janeiro, onde está localizada a Escola Municipal Tasso da Silveira, palco dessa barbaridade incompreensível. Ontem todos nós choramos pelos inocentes sacrificados por um louco que conseguiu chamar a atenção para a incompetência que todos temos em conhecer o interior da alma humana. A insanidade dilacerou os corações dos brasileiros. E a tragédia se efetivou numa escola. Numa escola pública municipal. Na Escola Tasso da Silveira. Tasso da Silveira não merecia estar sendo agora, nesse momento, relembrado nessa situação. Ele foi meu amigo, meu chefe, como Catedrático da Cadeira de Literatura Portuguesa, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, onde também me formei em Letras Clássicas. Tasso da Silveira foi um grande poeta e pertenceu à segunda geração do Modernismo. Um homem, acima de tudo, bom, justo, católico e temente a Deus. Seu nome não merecia ficar, infelizmente, para sempre ligado ao maior infanticídio de nossa história. Aos lares enlutados, nosso pranto, pois o que mais poderemos oferecer ao sacrifício inútil desses inocentes, imolados pela insanidade? Loucura! Choramos muito, ontem e hoje, ainda com os olhos baços, tentamos, pelo menos, pedir a Deus que receba essas crianças adolescentes em sua paz eterna. Que, também, o nome do poeta, professor e teórico da literatura, Tasso da Silveira, não seja eternamente lembrado por essa carnificina incompreensível, que destruiu o futuro-criança desses adolescentes cariocas, ávidos por conhecimento, abatidos, a sangue frio, dentro do mais significativo templo do saber. Reflitamos nos versos de Tasso da Silveira, uma fronteira entre a vida e a morte das crianças sacrificadas em nome do nada:

Fronteira


Há o silêncio das estradas

e o silêncio das estrelas

e um canto de ave, tão branco,

tão branco, que se diria

também ser puro silêncio.

Não vem mensagem do vento,

nem ressonâncias longínquas

de passos passando em vão.

Há um porto de águas paradas

e um barco tão solitário,

que se esqueceu de existir.

Há uma lembrança do mundo

mas tão distante e suspensa...


Há uma saudade da vida

porém tão perdida e vaga,

e há a espera, a infinita espera,

a espera quase presença

da mão de puro mistério

que tomará minha mão

e me levará sonhando

para além deste silêncio,

para além desta aflição.


Do livro Regresso à Origem (1960).


Que Deus perdoe os pecados da humanidade! Hoje o BRASIL está de luto.


ATÉ A PRÓXIMA

PEQUENA LEITURA SOBRE UMA GRANDE MESA


No miniconto, “Questão de Mesa”, publicado horas atrás, neste BLOG, Leo Yang envolve sua narrativa numa linguagem fluente, fácil de ser entendida, oscilando entre o prosaico e poético, o que logo coloca o leitor na expectativa de encontrar uma boa trama relacionada a uma aventura de um jovem andarilho, quem sabe? Sua descrição do ambiente circundante, antes e depois do início do conto prepara o leitor para conhecer um excelente texto, repleto de prazer, aquele mesmo prazer de que nos falou Roland Barthes. É, precisamente, no início do segundo parágrafo que a narrativa toma o caminho do memorialismo literário, pois, enquanto suposta realidade, recria o real, com formas expressivas, como atesta o antitético quiasma “não sei se te odeio saudosamente ou te amo odiosamente”, passando a criar novas significações, para o isolamento em que o autor se encontra, ou imagina se encontrar. As construções que usa para mensuração são inéditas e muito criativas. Assim: “E leio tudo, tudinho, só para ficar com a cabeça aqui, e não lá distante dois ou três ônibus, três ou quatro oceanos “ (o grifo é nosso). A mesa, questão ou proposta, está sempre acompanhando a narrativa: “quando todos se retirarem vou usar a faca para escrever na mesa um refrão, algo como: -Você sempre chega e já some, se é por mal ou por bem eu não sei, só sei que me consome”. Sabemos que todo texto denuncia. Denuncia através do manifesto ou do latente, e quase sempre nos dois estados da literariedade da escritura. Então, o texto denunciou o jovem adolescente apaixonado. Mas se não for isso? Não importa, vale o que está escrito! Já ouvi essa frase em outro contexto. Creio que sim, mas aqui ela tem o peso da seriedade literária que envolve esse miniconto de Leo Yang. A narrativa é suave, pois se forma com o discursos direto e indireto livre. Assim: “-Não tem cigarro?” “Você nem respondia, sabia que era só fitinha de escritor. E ria enquanto eu dizia que o escritor precisa fumar para poder ter uma caixinha de ferro da Marlboro, toda amassada, para quando uma garota pedir um cigarro poder inventar uma história de como a lata se amassou, num deserto em que ele fez mochilão no dia em que pulou de um avião para encontrar e pedir a mão da garota da sua vida, sempre a garota da sua vida”. A grande mesa do início da narrativa deixa de impressionar para ceder lugar à “pequena mesa dobrável”, que irá desencadear o desfecho do miniconto. Os dois mundo do universo poético de Leo Yang, discutidos filosoficamente já no fim da sua escritura se resumem a uma questão de mesa . O autor prepara com passagens poéticas, envolvidas em vocábulos simples, mas especialmente escolhidos (“de paisagem de fundo”, “pensamento um pouco mais baixo”, “ ...o mapa de uma nova vida”) uma declaração manifesta de amor, envolvida em metáforas e enálages, como em “um cigarro rabiscado de poesias”. Já a escrita na própria pele revela, e todo texto revela, não esqueçamos disso, a autoflagelação poética, a que o autor se submete, exigindo, acima de tudo, um sentido em sua vida para se entregar ao amor verdadeiro, uma vez que sua solidão gigante, numa espécie de desterro procurado, se identifica com a imensa mesa, geradora do motivo condutor de seu texto lírico, em prosa poética, numa linguagem simples, culta e escorreita. Sua felicidade cabe na pequinês de uma mesa dobrável, que se faz “gigante para dois mundos se reconstruírem”.


ATÉ A PRÓXIMA

ESTÁ SURGINDO UM BOM ESCRITOR



Conheci o Leo Yang na PUC-Campinas, no final de 2010, num curso sobre Jornalismo Literário, ministrado competentemente por outro jovem talento, o jornalista Fabiano Ormaneze. Durante os sábados em que estivemos reunidos na sala de aula, no bonito Campus da Pontifícia Universidade Católica das mesmas Campinas do Mato Grosso de alguns séculos atrás, conversamos muito e interessadamente sobre poesia e arte em geral. Percebi logo que o Leo estava despontando para a literatura, embora cursasse filosofia na UNICAMP. Hoje ele está em viagem de aprimoramento do seu inglês, lá na gélida, distante e inigmática Irlanda. Mas o Leo, longe desse Brasil ensolarado, continua a se exercitar e me mandou essa preciosidade de texto. Reproduzo em meu BLOG por encontrar ali um bom motivo para incentivar a produção literária dos jovens talentos que despontam para essa arte.


QUESTÃO DE MESA

Leo Yang


Estou sentado na cabeceira de uma grande mesa. Ela só é grande, não tem nada de luxuosa. É inacreditável que em alguma vez a estampa dessa toalha possa ter sido considerada bonita. Bebo café solúvel imaginando que estou bebendo café expresso. Pessoas entram no cômodo e saem do cômodo, me dão bom dia e me dão bom dia novamente, mas fica a impressão de que em geral nada aconteceu. Essas pequenas coisas, que dão a real estrutura da vida, nunca conseguiram me convencer de que são importantes. O boneco de neve da caneca me diz ‘’feliz natal’’, e eu respondo ‘’para você também’’. Ganhou a vida, esse sim ganhou a vida. Se não fossemos tão hiperativos, seria tudo mais fácil, um só objetivo, uma conclusão e um certificado de ganhou a vida. Felizes os bonecos de neve, são deles o reino da vida fácil.

Lembro a primeira vez que nos vimos, estávamos caminhando numa calçada e nossos olhares quase se encontraram, mais um pouco e se encontravam, até casavam. O meu mirava seus olhos, de um castanho raro por aqui, entrincheirado numa olheira. O seu tentava mirar meu livro, mas tinha de se desviar de dedos, tinha de se adequar a todo o movimento de quem caminha com pressa. Que eu posso fazer se você é e sempre foi apaixonante? Agora só consigo conhecer pessoas imaginando que estou lhe conhecendo melhor.

Não sei se estou aqui na mesa, digo, realmente. Estou mesmo é enveredado nesses sem fim de livros de mundos fantásticos e amores que parecem doer até mais do que o nosso. E leio tudo, tudinho, só pra ficar com a cabeça aqui, e não lá, distante dois ou três ônibus, três ou quatro oceanos. Não sei se o que sinto é ciúmes, e se for, é inofensivo. Eu só queria compartilhar as tantas coisas que você faz enquanto não dorme, e se possível, também as que faz enquanto dorme. Se for ciúme, não te prejudica em nada. Pra mim, embaralha os pensamentos. Preciso me distrair, preciso de um chão, uma realidade que seja realmente a minha. Quando todos se retirarem vou usar a faca para escrever na mesa um refrão, algo como: “Você sempre chega e já some, se e é por mal ou por bem eu não sei, só sei que me consome.” Cê sabe que não precisa se preocupar em se encontrar nessas coisas todas que escrevo. Deve ser difícil, claro, pois trata-se de você. Tente não se preocupar, essas coisas são confusas, confusas até pra mim. Não sei nem se te odeio saudosamente ou te amo odiosamente. Preciso de outra garota para lhe esquecer, esquecer esse seu cheiro. Mas como é que podem todas as garotas da cidade estarem ocupadas? É impossível que nenhuma delas esteja sozinha, morrendo de vontade de ter um cara como eu. Um cara que sabe diferenciar cafe latte de cappuccino e Leibniz de Descartes. É impossível que nenhuma dessas garotas não seja nem um pouco orgulhosa e não se importe que eu a faça esquecer o próprio nome, para que eu possa chamá-la pelo seu, e a ensine a caminhar daquele exato jeito leve que você caminha.

Hora ou outra passo na rua onde quase trocamos olhares. Lá era nosso covil, onde tudo ficava bem, nada podia tirar nossa paz. Caminhar sempre era suficiente. Mesmo assim eu perguntava:

_Não tem cigarro?

Você nem respondia, sabia que era só fitinha de escritor. E ria enquanto eu dizia que escritor precisa fumar para poder ter uma caixinha de ferro da Marlboro, toda amassada, para quando uma garota pedir um cigarro poder inventar uma história de como a lata se amassou, num deserto em que ele fez mochilão no dia em que pulou de um avião para encontrar e pedir a mão da garota da sua vida, sempre a garota da vida.

Você ria, sabia que qualquer uma, além de rir das minhas rimas, não ia querer nada com um imbecil apaixonado. Ignorei e acelerei para chegar na parte em que o escritor sacando o cigarro olha lá na porta do fundo dos olhos da garota e mostra que é um apaixonado sim, só que neste momento por ela. Você me cortava com um beijo. No fim das contas, sabíamos que eu nunca seria um desses escritores, nem ninguém me pediria nada. Deveríamos ter ido para aquela rua, ao invés de termos sentado e discutido nossa vida na cozinha numa pequena mesa dobrável. Era muito estreita para acomodar nossos mundos. Dois mundos inteiros, repletos de problemas. Ambos no limite entre o orgulho e o desabar em águas. Ah se tivessem sido as águas, talvez as coisas se fossem ralo abaixo e pronto. Mas as lágrimas não venciam as expressões fechadas. Você falava muito e fumava um cigarro mais forte do que o usual, eu sabia que era, te conhecia tão bem que sabia o cheiro da sua fumaça. E quando cê me viu com a caneta, escrevendo nos braços, não perguntou o que eram aqueles símbolos, só recriminou:

_Parece criança, escreve em tudo o que vê pela frente.

Pensei repetidas vezes que o corpo era meu, o corpo era meu, meu e meu. E na minha cabeça, de paisagem de fundo, outro pensamento um pouco mais baixo dizia que de agora em diante você não iria mais interferir na minha vida. Escrevi mais forte. Estava escrevendo na minha pele o mapa de uma nova vida, sem você. Você tossia forte.

_Compra veneno de uma vez, já que vai comprar cigarro tão ruim.

_O corpo é meu.

Tossiu, tossiu e tossiu. Um bater de olhos no cigarro foi o bastante para ver. Tossiu, porque tinha um cigarro rabiscado de poesias. Tossiu. Essa mania minha de escrever em tudo que é lugar, sei que você ama. Você foi ao banheiro vomitar poesia e eu saí de casa. Não fui capaz de entender o que uma terceira voz dizia na minha cabeça.

Nada disso importa agora, preciso aceitar que o que era uma vez agora não é mais. E não é culpa sua, nem minha, nem daquele outro ou daquela uma. Não dá pra culpar alguém por ter um olho claro, um cabelo castanho ou uma doença genética. Tem coisas que não nos dão escolha, parece que só nos encaminham e nosso corpo vai que vai sozinho. Não se culpe por ter pulado algumas páginas de todas aquelas cartas, nem por ter chorado quando recebeu aquelas tantas rosas que joguei na sua varanda. Faltava sentido mesmo, tanto que nem percebemos quando tudo já tinha acabado. Você tem que prometer que não vai se culpar. Só assim posso dormir tranquilo, sem tanta culpa por estar esperando uma mensagem de celular que nunca vai chegar. Poderei dormir nesse hotel barato com essa mesa gigante, nesse universo barato com essa solidão gigante. É só que, bem, eu não preciso dela, não dessa mesa imensa. Aquela de canto de cozinha, dobrável, me parece perfeita agora. Gigante para dois mundos se reconstruírem.


ATÉ A PRÓXIMA

18 de fevereiro de 2011

TABU OU ESCRITA ?


Ao Prof. Leodegário A. de Azevedo Filho, in memoriam.


O vocábulo ESCRITA, em linguagem figurada informal, está dicionarizado e é assim que Antônio Houaiss registra: “o que constitui uma rotina ou aparenta constituir uma rotina. Esse termo tem sua origem nos cadernos de anotações que existiam nas antigas vendas, empórios ou armazéns de antigamente, onde o dono do estabelecimento dava crédito aos seus melhores fregueses, anotando, escrevendo no seu caderno os valores devidos, referentes a gastos no estabelecimento, geralmente de secos e molhados. Está no caderno ou ficar na escrita do português da venda eram expressões que se ouviam e se presentificavam como formas lingüísticas vivas, ativas, portanto, num determinado tempo, e perduraram enquanto esse comércio de bairro pode resistir às investidas dos supermercados, que hoje dominam esse segmento do comércio de atacado e varejo, utilidades e gêneros alimentícios de primeira necessidade. Essas expressões marcaram significativamente a vida de todos os cidadãos modernos e hoje estão recuperadas e se resumem no termo ESCRITA, que, portanto se prende ao campo semântico de rotina, de costume, de repetição. Em rotina está presente a idéia do hábito de caminhar. Aliás, rotina vem do francês “routine”, que significa propriamente hábito do caminho (route), como nos ensina A. Nascentes. Então, ESCRITA, sob este aspecto, surgiu como metáfora, uma forma de um crédito numa operação comercial. A metáfora se estendeu para a linguagem especial do futebol, como no exemplo acima, citado pelo filólogo Antônio Houaiss, em seu Dicionário da Língua Portuguesa. No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, vamos encontrar o mesmo registro, com um exemplo bem mais significativo, pois cita a fonte do emprego da linguagem figurada que envolve o termo ESCRITA, situado no campo semântico de ROTINA: “O América conseguiu sua primeira vitória na Taça de Ouro ao derrotar o Bahia por 2 a 0, ontem à noite, na Fonte Nova, confirmando a escrita de que dificilmente perde seus jogos na Bahia” (Jornal do Brasil, 14.2.1985).

Ultimamente estamos observando que muitos comentaristas de futebol, como também locutores, repórteres e demais profissionais ligados aos esportes de massa, estão relacionando o termo ESCRITA com o termo TABU, atribuindo a este os significados daquele, numa espécie de expansão de conceitos, aliás, fenômeno lingüístico comum e que acontece com alguns termos da linguagem especial do futebol. Seve como exemplo o verbo PENDURAR, que passa a significar APOSENTAR-SE, na expressão PENDURAR AS CHUTEIRAS. Isso ocorre por similitude das ações, pois quem PENDURA a sua ferramenta de trabalho (as chuteiras) num prego em uma parede, deixa o trabalho, no caso a profissão de jogador, APOSENTA-SE , para viver de outras fontes de renda. Mas entre ESCRITA e TABU essa similitude não é tão evidente, a não ser que o conceito de TABU esteja coletivamente, tomando outro significado, num determinado segmento sócio-cultural, de forma equivocada. Isso também pode acontecer e é um fenômeno lingüístico possível de ser explicado, como acontece, por exemplo, com o termo PINGUE, onde seus constituintes fônicos parecem quebrar a arbitrariedade do signo lingüístico, dando a falsa impressão de se tratar de alguma coisa que significa POUCA, quando, na realidade etimológica (Lat. Pingue, is), PINGUE significa MUITO, ABUNDANTE, GORDO, NUTRIDO.

O termo TABU vem do polinésio tabu, que significa sagrado, invulnerável. "TA" significa marcado e talvez esteja aí a ligação semântica, através do processo conhecido como etimologia popular, pois é forte o SEMA contido em ESCRITA, relacionado a ANOTADO, ROTINEIRAMENTE ANOTADO, ROTINEIRAMENTE ESCRITO. Mas isso é uma especulação etimológica, uma hipótese diacrônica, num estudo superficial que pode até estar correto, mas é duvidoso. Contudo, a nosso juízo crítico e aprofundado, não existe essa ilação e o que ocorre mesmo é que está se dando um novo significado ao significante antigo TABU. Ou por desconhecimento dos sentidos primeiros do termo polinésio ou por se querer encontrar no invulnerável, no sagrado de TABU uma relação qualquer com ROTINA. Não vejo como conciliar isso. A não ser que, através de um tremendo esforço semântico, se imprimisse ao sintagma QUEBRAR UM TABU, o sentido de QUEBRAR UMA ESCRITA e, nesse caso, o termo TABU perderia totalmente o seu significado primeiro. Isso pode ocorrer e não é nenhuma surpresa, pois é muito difícil, já dizia Freud, encontrar uma tradução final para o TABU polinésio, pois não se possui mais o primitivo conceito que conotava.

Nos exemplos abaixo isso assim funciona.

O Brasil nunca foi campeão olímpico. Vamos quebrar esse TABU (ESSA ESCRITA), em 2014.

Veja esse TABU (ESSA ESCRITA) futebolístico(a). O Brasil sempre perde nas Olimpíadas.

O Brasil não possui o título de campeão olímpico. Isso é um TABU (UMA ESCRITA) a ser quebrado(a).

Portanto, não pretendemos criar novos significados para TABU, deixando essa palavra que era conhecida entre os antigos romanos como “sacer”, entre os gregos como “äyos”e entre os hebreus como “kadesh”, todas com o sentido aproximado do termo polinésio. TABU será tanto sagrado, consagrado, como misterioso, perigoso, proibido, impuro. Mas nunca ROTINA, e muito menos ESCRITA.

ATÉ A PRÓXIMA

AS FOGOSAS AVENTURAS DE J. FERREIRA




Estou postando nesse BLOG DO PROFESSOR textos dedicados à memória do Professor Leodegário A. de Azevedo Filho, meu amigo e compadre, falecido no dia 30 de janeiro de 2011, no Rio de Janeiro e também os que escrevo normalmente sobre as coisas do Sul, da Bola e das Letras. Crônicas do dia-a-dia que há quatro anos venho postando nesse espaço aberto aos que apreciam esse estilo que reflete a vida social, os costumes e o cotidiano de nossa gente.


EDITORA 7 LETRAS, RIO DE JANEIRO, 2008, 128 PÁGINAS.

AS FOGOSAS AVENTURAS DE J. FERREIRA é um romance de Maurício Murad que pretende ser uma fábula, com resquícios literários machadianos e que fala da vida, do amor e dos percalços por que passa um casal da classe média de nossos dias. Uma doença degenerativa, o Mal de Alzheimer, ceifa a vida do personagem central. A narrativa se torna densa. Ceifa a vida, mas não o prazer do texto, como diria Roland Barthes. O Autor mistura suas experiências de vida com um imaginário relacionamento familiar. Nos seus dez capítulos, o livro nos apresenta a progressão de um envolvimento bem articulado do narrador com o personagem central, João Ferreira, tratado referencialmente como J. Ferreira. Cada capítulo recebe um nome, significativamente retirado da história do texto desenvolvido.
O livro apresenta uma DEDICATÓRIA poética, referindo-se a três personagens chaves, onde a poesia já contracena com as duras vicissitudes da vida, prenúncio da morte, suavizada por uma narrativa eminentemente conotativa, escamoteando o triste desfecho da história. Assim, a partir desse primeiro contato com o romance, a metáfora do riso surgirá principalmente no primeiro capítulo, contrastando sempre, por antítese, com a tristeza da morte. E o primeiro capítulo funciona como uma introdução, apresentando o personagem Jota, através do discurso indireto livre e uma fala direta propositadamente dirigida ao leitor, que se excita e por isso se seduz com um discurso que lembra a técnica machadiana, fazendo do leitor seu cúmplice e parceiro.Os recursos estilísticos utilizados por Maurício Murad são inúmeros e variam da metáfora ao estranhamento. Das sinestesias às hipálages, as mais variadas.

Olhei, meio porque não estava fazendo nada mesmo, e porque fui induzido a olhar para a frase que insistente serpenteava o tempo e ondulava o espaço”.

Com erudição, trabalha com maestria a grande característica do protagonista Jota, a sua simpatia e o seu riso, para quem, talvez, a vida poderia ser vista como uma grande comédia, rindo com todo o corpo, “menos com a boca”, região do corpo humano em que se especializou profissionalmente, como dentista. E no bloco praticamente da apresentação do personagem central, com uma sutil e bem colocada ironia, percorre inúmeras veredas do conhecimento, como na apresentação do bordão criado por J.Ferreira, o calor de bode. E as citações latinas surgem sem agredir o leitor, como a clássica sentença romana, “asinus ad liram”. De Santeui recolhe a máxima latina "ridendo mores castigat". E continua como crítico do cotidiano a colocar o dedo sobre as mazelas da vida social:
Crime pior do que assaltar um banco é fundar um banco”.

A leitura da vida se faz pelas palavras e seus significados primeiros.

Apesar da idade avançada e o jeito lento, tinha um aperto de mão cheio de personalidade e presença, dava pra sentir e eu senti o seu vigor. Fogoso, claro, fogoso! Tudo nele era fogoso. Todas as aventuras dele eram fogosas e fogosas não no sentido comum do termo. Marketing apelativo de um erotismo barato e diário, não, mas fogosas como fogo e fogo como energia, como vida, com alma, desse jeito mesmo como entendiam os gregos e sua mitológica mitologia”.

Serve-se de termos e frases latinas demonstrando erudição sem a pompa discursiva do academicismo, privilegiando a diacronia sobre a sincronia vocabular. E isso ocorre sempre que pretende teorizar.
Maurício Murad trabalha com o intertexto e sabe dosá-lo, sem ser ostensivo, colocando o saber no lugar certo, onde ele deve ser colocado, compondo o enredo, com exatidão, sem pernosticidade.

Ai, que saudades eu tenho, da aurora de minha vida, da minha infância querida, dos tempos que não voltam mais”.

O poético e a poesia em As fogosas aventuras de J. Ferreira surgem, muitas vezes, pela tentativa de uma teorização crítico-literária (“a poesia não é de quem a faz, mas de quem dela necessita”) e por alternância sintagmática em quiasma (“...e simultaneamente chorou e sorriu, sorriu e chorou”). Essa combinação de artifícios estéticos e lingüísticos imprime ao texto de Maurício Murad um estilo próprio, colocando seu discurso numa posição de significativo destaque na literatura brasileira atual. E com essa técnica narrativa apurada, o romance flui através do discurso indireto livre, o que posiciona o leitor no tempo subjetivo da narrativa. Nesse tempo proposto pelo autor, quase sempre, os diálogos surgem sem possibilidade de um feed-back, mas têm poder de captar a nossa atenção, evitando a dispersão. Diálogo proposto, monólogo exposto.

Ao retornar já tinha um plano completo para mim, que nunca revelou... para mim. Soube tempos depois, certa feita, num desses encontros em que caminhávamos pelo calçadão, soube por Jota que estava bravo com Analu, porque ela agora deu para inventar que eu estou esquecendo as mínimas coisas e não é verdade, eu lembro de muitas e muitas coisas, mesmo quando antigas”.

A narrativa do romance oscila sempre entre o autor onisciente e seu contraponto, J. Ferreira. É uma conversa com o leitor, para tentar chegar à degeneração física da personagem, praticamente biografada, no último capítulo, mas sempre com atenuantes minimizadoras da terrível realidade, o Mal de Alzheimer. Os textos se aproximam de um relatório amenizados por passagens poéticas (“Assim aspiro, assim espero”).
O caminho que se avizinhava era tortuoso e imprescritível. Nesse tipo de morada, as ruínas humanas eram vistas a olho nu. O nosso Jota havia chegado a um ponto onde os limites da existência se apresentavam duros e cruéis, acotovelando-se impiedosamente ao redor da pessoa. Eu era sabedor que essas baixas camadas da vida lá estaria pra nos receber”.

Finalmente, a personagem J. Ferreira fala pela narrativa onisciente do autor e uma das atenuantes acima referidas pode se encontrar no próprio título do último capítulo: PRIMEIRO DE ABRIL É UMA BOA DATA. Lá, até as metáforas, indicadoras do predomínio da conotação sobre a denotação são mais fortes, pesadas, mas aliviam a tensão que domina o texto final, impregnado pelo intertexto machadiano, onde o poético dilui o trágico.


ATÉ A PRÓXIMA

AS MARCHINHAS CARNAVALESCAS VÃO VOLTAR ?


Estou postando nesse BLOG DO PROFESSOR textos dedicados à memória do Professor Leodegário A. de Azevedo Filho, meu amigo e compadre, falecido no dia 30 de janeiro de 2011, no Rio de Janeiro e também os que escrevo normalmente sobre as coisas do Sul, da Bola e das Letras. Crônicas do dia-a-dia que há quatro anos venho postando nesse espaço aberto aos que apreciam esse estilo que reflete a vida social, os costumes e o cotidiano de nossa gente.



“Tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...



Será que ainda existem arlequins e colombinas ? Não há mais bailes de carnaval ! A Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro mudou. O Brasil mudou. O mundo mudou. Nós mudamos. A folia de carnaval combinava com o romantismo do pecado, escamoteado em rápidos agarramentos, beijinho no pescoço, alguns até na boca e mãos alisando os seios pela metade. Isso mesmo, só a parte de cima. Apalpá-los totalmente só na terça-feira gorda. Hoje, as cenas da Casa Mais Vigiada do Brasil, que repetem as orgias das casas de prostituição da Rua Alice, dos idos dos anos 40, com muito mais profissionalismo, não despertam em ninguém nenhuma sensação de desejo. Vulgarizou geral. As investidas da rapaziada nos blocos de sujo para cima das meninas deixaram de ter motivação. Consegue-se tudo isso a qualquer momento, com qualquer parceira, em nome de uma modernidade luxuriosa, presente em todas as casas que tenham um aparelho de televisão ligado na Rede Globo, ufanisticamente aplaudida por um povinho sem cultura nenhuma e com um gosto musical, esteticamente castrado, fã ardoroso de um grande animador, dublê de literato, apresentador desse programa chamado, só para disfarçar, de jogo de relacionamento social.Nos carnavais de antigamente uma libidinagem bem acanhada e o proibido mesmo alimentava a fantasia do desejo, explodindo toda a manifestação sensual reprimida, na verbalização das marchinhas carnavalescas, com suas letras quase sempre falando da paixão carnal, dor de cotovelo, de amor não correspondido, tudo com metáforas poéticas, sem vocábulos chulos e muito duplo sentido, um resquício de recato, para não falar vergonha, que desapareceu totalmente nos dias de hoje. Os temas recorrentes a assuntos que agora poderíamos chamar de politicamente incorretos, ou de socialmente degradados, como, por exemplo, a famosa Cabeleira dos inúmeros Zezés, que andam por aí, eram retratados metaforicamente, com recato e com duplo sentido, diluindo o referencial numa linguagem figurada bem arrumada. Isso mesmo, com RIMA !Também era muito comum nas letras das marchinhas de carnaval a crítica política, explicitada através do humor como riso. As "maracutaias" dos políticos da época surgiam espirituosamente nas músicas carnavalescas, sempre com retumbante sucesso, como se o desvio social do homem público fosse alguma coisa para se achar graça. Mas era assim, mesmo e creio que a coisa ainda não mudou... Quanto aos desmandos e às roubalheiras dos políticos atuais, parece que nisso ninguém mais acha graça, não. Mas muita gente deixa como está, porque pior não pode ficar, não é Deputado Tiririca? Esses desvios no comportamento político não têm mais graça nenhuma e, agora, não seria tema de nenhuma música carnavalesca, pensamos nós. A censura dos anos 40 e 50 ainda despertava a vontade de se criticar o “status quo” . Parece que hoje, isso não funcionaria. A divulgação das músicas vencedoras nos concursos de marchinhas carnavalescas da TV Globo não são muito divulgadas pelo rádio, como antigamente. Aliás, o Rádio também mudou. Não se faz mais uma PRE-8, Rádio Nacional, como antigamente, no Rio de Janeiro! No interior do Brasil as emissoras de rádio só tocam música da pior qualidade. E quem ouve? Gente de uma sensibilidade também muito questionável. Realmente, os tempos mudaram, mas a música, erudita ou popular, e a poesia construída com nosso idioma sempre terão um lugar de destaque na vida artística de todos aqueles que cultuam a arte e trabalham com a estética do belo.


Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão”.


ATÉ A PRÓXIMA

6 de fevereiro de 2011

OS AMIGOS VÊM DE LONGE



Na lindíssima e emocionante Missa de 7º Dia da Ressurreição de Leodegário A. de Azevedo Filho, rezada pelo Pe. Jorjão, na Capela da Universidade de Notre Dame, neste último sábado, os amigos do grande mestre Leodegário vieram de todos os cantos do Brasil e do mundo.
Sebastião Tavares de Pinho, seu amigo de muitos e muitos anos, chegou de Lisboa para confortar a família enlutada e chorar com os amigos comuns. Muito comovido abraçou-nos a todos.
Somente figuras grandiosas de espírito, como Leodegário A. de Azevedo Filho, são capazes de conquistar o respeito e a amizade sincera de tantos com quem lidou, tanto no campo profissional como no dia-a-dia, conforme testemunhei em suas participações nas inúmeras Exposições de Canários, realizadas nos subúrbios cariocas.
Leodegário, a nossa eterna saudade, amigo de mais de 50 anos!
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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.