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17 de julho de 2007

CULINÁRIA PORTUGUESA II

Já escrevi uma crônica sobre a Culinária Portuguesa, no jornal português O PROGRESSO DA FOZ e a republiquei aqui nesse BLOG. Hoje, reproduzo essa matéria recebida diretamente da “terrinha”. Depois vou fazer os comentários filológicos, mas, por enquanto, o mais importante é verificar, de maneira engraçada, que a mesma língua portuguesa, nos dois países irmãos, apresenta uma semântica bem diferente.
Acredite, as denominações estão corretas. Se você pedir qualquer destes pratos em qualquer restaurante em Portugal, vai ser atendido sem nenhuma risada do garçom.
O que vai almoçar hoje? Há muitos motivos para se visitar Portugal. Mas um deles é, com certeza, a culinária regional. E como os prazeres da mesa merecem ser compartilhados, faço a minha sugestão para um almoço à portuguesa aí na sua casa.
Lá vai:
1- AperitivoPunheta de Bacalhau. Enquanto faz o almoço, nada melhor do que reunir os amigos para uma punheta rápida. É um bacalhauzinho desfiado, temperado com cebola, azeite e vinagre. Simples e dá muito prazer. Fácil de fazer, é uma boa opção para os solitários.

2-Entrada Sopa de Grelos ou Sopa Seca que se Agarra às Costas. Por alguma razão, a sopa de grelos é a preferida dos marmanjos. Já os que não se importam de ter algo agarrado às costas preferem a segunda sopa, típica da Beira-Litoral e feita à base de feijão e pão.

3- Prato principal Arroz de Pica no Chão. É uma especialidade da região do Entre-Douro e Minho, no Extremo-norte do país. O Arroz de Pica no Chão é feito à base de frango e toucinho, levando os devidos condimentos. É um prato delicioso, mas um tanto pesado e por isso deve ser apreciado com moderação, em especial por quem gosta de um "rala-e-rola" depois do almoço. Com Pica no Chão a coisa fica mais difícil .

4- Acompanhamento Caralhotas ou Cacetes. Uma refeição portuguesa tem sempre pão à mesa. As caralhotas são pequenos pães típicos da região de Almeirim. Já os cacetes são comuns em todo o país. É fácil encontrar um português com o cacete na mão.

5- Bebida - Vinhos Portugueses. Os vinhos são classificados por regiões e há para todos os gostos. Como é sempre verão no Brasil, talvez seja bom optar por um vinho com aspecto mais leve e feminino. Pode escolher um Monte das Abertas, um Monte dos Cabaços (Alentejo), um Quinta da Pelada (Dão) ou, talvez, uma Garrafa de Rapadas (Ribatejo). Mas, se insiste em uma bebida mais encorpada e masculina, uma boa opção pode ser o Três Bagos (Douro). Ou, ainda mais intenso, um Terras do Demo (Beiras).

6- Sobremesa Mamadinhas da Pousadinha de Tentúgal ou Espera-Marido à Transmontana. A confeitaria portuguesa é muito rica e os doces conventuais são mesmo um objecto de culto. O Espera-Marido é um doce simples que se faz com açúcar, ovos e canela em pó. Já a mamadinha é uma das maiores delícias surgidas nos conventos.

7- Digestivo Licor de Merda. É uma bebida da região de Cantanhede, feita à base de leite, baunilha, cacau, canela e frutas cítricas. Quem experimentou diz que é uma merda, mas muito gostoso. É como diz o velho ditado: "Eu, por exemplo, gosto de comer sapateiras, madalenas e trouxas".

8-E tem também "água mineral PENACOVA, a eterna pureza da Serra do Buçaco" .

Ass. José António Baço, jornalista e publicitário.

6 de julho de 2007

UM NOME DE MULHER



Num dia frio de chuva irritante, arrumando umas caixas e tirando a poeira de umas fotografias antigas, comecei a sentir saudade. É isso mesmo! Gosto do pretérito. Sempre tive uma profunda vontade de viajar no tempo, principalmente para o passado. Aquelas fotos - agora quase todas são digitais - ainda estavam em bom estado, pois o papel fotográfico era de primeira qualidade. Que emoção! Estava em Lisboa e passeava todos os dias por seus arredores, procurando tudo que pudesse me extasiar. Verdadeiramente consegui! Naquele papel brilhoso, de tamanho 10 x 15, identifiquei um mosteiro santo de doces lembranças. Eram quitutes para ninguém botar defeito. Uma delícia! Estava em Odivelas, envolvido por sua história e por seu rei-poeta, o impulsionador do progresso, que erguendo mosteiros e igrejas, atraiu muitos monarcas, príncipes e artistas para a região. Andava pelos dolmens das Pedras Grandes e por terrenos das fabulosas batalhas ali travadas entre fortes e nobres combatentes. Pisava em pedras de templos romanos, onde um dia o povo que ali viveu respirou a beleza do mármore, cantou ao som da lira e a brisa temperada do verão amenizou, como de costume, os trabalhos do campo. Recordando esse passado de feitos petrificados nos livros escolares, lembrei-me de que foi no Paço de Odivelas, em 1415, que Dona Filipa de Lancastre, no leito de morte, abençoou seus filhos D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, que partiram com Deus e a cavalo, em direção ao Restelo, onde embarcaram para Ceuta. Então, percebi outra coisa interessantíssima. Uma espécie de superstição, vinculada ao nome Isabel, que me acompanha, há alguns anos, envolvendo-me numa atmosfera de relaxamento e alegria. Esse nome de mulher chegou à língua portuguesa, lá pelo século XIII, do espanhol, Isabel, vindo pelo francês Isabelle, sendo as formas mais antigas Ysabel e Isabeau. Posso até dizer que esse nome me perseguiu e me deu sorte. No Rio de Janeiro, morei, por mais de vinte e oito anos, no bairro boêmio de Vila Isabel. Lá, vivi muito feliz e fiz inúmeras amizades. Tenho uma neta que se chama Maria Isabel, linda e muito inteligente. Ela sempre vem passar conosco as férias escolares, por estas bandas do sul do país, onde vivo agora, alegrando nossa casa com sua ativa presença, reconfortando-nos de quaisquer aborrecimentos ocorridos nessas plagas de cultura estranha e interiorana. Sua presença faz cessar esses incômodos, que passam logo e desaparecem completamente com a tagarelice de sua vozinha fina e sorridente. O nome próprio Isabel ocorre em minha família, atualmente, em mais de cinco pessoas e deixou seu registro em muitos parentes próximos, lá nas folhas amareladas dos cartórios de algumas cidades do interior longínquo. Esse nome da princesa brasileira, a Redentora, filha de D. Pedro II, é, também, o nome de uma santa, rainha de Portugal, de origem aragonesa, nascida em Saragoça, no século XIII, em 1271, filha do rei Pedro II de Aragão e Constança da Sicília. Santa Isabel casou-se aos 17 anos, por procuração, com Dom Dinis, rei de Portugal, homem de muita cultura e um dos maiores representantes da poesia trovadoresca, de visão ampla, mas de vida um tanto quanto desregrada. A bondade e a piedade de Isabel contrastavam com a avidez por prazeres e com as inúmeras incursões extraconjugais do rei. Segundo a lenda, conta-se que sabendo a Rainha que o marido ia constantemente visitar as damas de um determinado sítio, em vez de recriminá-lo, dizia, angelicalmente: “Ide vê-las, senhor.” Daí, por corruptela popular, teria nascido o nome da cidade de Odivelas. Essa etimologia é muito mais bela do que dizem os filólogos. Eles só estão interessados em vogais átonas, consoantes mudas, mutações vocálicas no árabe e muitas outras coisas sem nenhuma graça e poesia. Então, Odivelas e Isabel, dois nomes próprios de instigantes significados para mim, me vêm à mente, trazendo lembranças de doces e mimos familiares. Os famosos doces, produzidos nos mosteiros e conventos dessa cidade portuguesa, sempre foram mantidos em segredo durante muito tempo, mas não resistiram aos cochichos das cozinheiras e as receitas vazaram, chegando ao conhecimento do grande público. Assim, esses segredos se transformaram em clássicos da doçaria sazonal, como o arroz-doce, o pão-de-ló, a aletria e tantos outros. Seguindo a tradição deixada, por exemplo, pelo Mosteiro de S. Dinis, ocupado pelas monjas até ao século XIX, Odivelas orgulha-se da sua doçaria conventual e do fabrico de especialidades, como a marmelada e o doce de abóbora. Já o nome de mulher Isabel ficou ainda mais vibrante em meu coração, depois da sessão de nostalgia e história, motivada pelas fotos que eu tirei, há muito tempo, em Odivelas, situada na área da Grande Lisboa e que está, indelevelmente ligada ao nome Isabel, de que minha família tanto gosta, e, também, relacionado à vida da santa portuguesa de Aragão, a rainha da paz, morta no dia 4 de julho de 1336.
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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.