Tenho lido ultimamente muitos versinhos e poemas interessantes,
na produção vibrante de muitos amigos e poetas que surgem, muitas vezes, meteoricamente, nas páginas das
Redes Sociais. Muitos trovadores, muitos cronistas, alguns contistas e romancistas
aqui na Rede se expressam literariamente, e isso é muito bom.
De todas as formas literárias, que passam por aqui a trova é,
indiscutivelmente, a forma fixa de poema mais assídua, muitas vezes bem trabalhada, outras vezes nem tanto, sendo, mesmo assim, a
que maior impacto causa aos leitores. Sobre ela tenho falado muito, por ver
nesses quatro versos heptassílabos ou de
Redondilha Maior, o verso considerado clássico da lírica occitânica, entre muitas outras coisas, uma
síntese de emoção, um soluço de tristeza, um ímpeto de alegria, uma pitada de prazer, uma angústia sofrida e muitos outros segredos da alma e do coração. Vejo temas filosóficos, difíceis de serem sintetizados em tão poucas
palavras, inebriando e extasiando nossos sentimentos. Os sentimentos dos amantes do belo.
A trova são dois dísticos que, rimados (abab), completam um
pensamento. É uma forma de como o poeta transfigura o mundo em que vive, vendo-o
e sentindo-o com os olhos da poesia. Os elementos linguísticos da trova, bem estruturados,
fazem predominar a conotação sobre a denotação e traz à cena, como um broto emergindo
da terra florida, a função poética da linguagem, que dominará o plano da
hermenêutica sígnica da fala. Fora isso,
é tentativa vã de buscar o belo, o que, na realidade, muita gente faz. O fazer
poético é para poucos. Não entender isso é deixar a mediocridade prosperar numa
seara, onde alguns sabem cuidar bem da terra, outros não, pois, em vez de
ará-la suavemente, passam sobre seus prados verdejantes de relva rasteira o
trator bruto da referencialidade. Muitos insistem em produzir assim mesmo,
simplesmente pela mecânica da produção, aos borbotões, por encomenda, em série,
sem dar ouvidos aos acordes musicais - tristes ou alegres - do coração... Há de se fingir! Há de se transgredir
um pouco, pelo menos! Fingir e transgredir como o verdadeiro poeta tenta fazer,
tal como Pessoa falou, para que sua criação seja compatível com a forma estética,
que intrinsecamente os textos literários precisam ter. Vamos produzir, mas com
os cuidados devidos! Um pouco de teoria e estudo sobre a nossa matéria prima, a
língua, é essencial e importante. Um pouco de teoria sobre versificação é mais
importante, ainda, para não nos comportarmos como o pequeno e ingênuo lavrador que,
empolgado pelo prazer do trabalho agrário, envolvido pelo saboroso ambiente
telúrico, só consegue colher, em seus campos arados, algumas frutinhas doces e saborosas,
mas manchadas pela marca da presença de insetos indesejáveis. Ler e pesquisar
sobre o fazer poético também é muito bom.
ATÉ A PRÓXIMA