Estou postando nesse BLOG DO PROFESSOR textos dedicados à memória do Professor Leodegário A. de Azevedo Filho, meu amigo e compadre, falecido no dia 30 de janeiro de 2011, no Rio de Janeiro e também os que escrevo normalmente sobre as coisas do Sul, da Bola e das Letras. Crônicas do dia-a-dia que há quatro anos venho postando nesse espaço aberto aos que apreciam esse estilo que reflete a vida social, os costumes e o cotidiano de nossa gente.
“Tanto riso, oh quanta alegria, mais de mil palhaços no salão...
Será que ainda existem arlequins e colombinas ? Não há mais bailes de carnaval ! A Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro mudou. O Brasil mudou. O mundo mudou. Nós mudamos. A folia de carnaval combinava com o romantismo do pecado, escamoteado em rápidos agarramentos, beijinho no pescoço, alguns até na boca e mãos alisando os seios pela metade. Isso mesmo, só a parte de cima. Apalpá-los totalmente só na terça-feira gorda. Hoje, as cenas da Casa Mais Vigiada do Brasil, que repetem as orgias das casas de prostituição da Rua Alice, dos idos dos anos 40, com muito mais profissionalismo, não despertam em ninguém nenhuma sensação de desejo. Vulgarizou geral. As investidas da rapaziada nos blocos de sujo para cima das meninas deixaram de ter motivação. Consegue-se tudo isso a qualquer momento, com qualquer parceira, em nome de uma modernidade luxuriosa, presente em todas as casas que tenham um aparelho de televisão ligado na Rede Globo, ufanisticamente aplaudida por um povinho sem cultura nenhuma e com um gosto musical, esteticamente castrado, fã ardoroso de um grande animador, dublê de literato, apresentador desse programa chamado, só para disfarçar, de jogo de relacionamento social.Nos carnavais de antigamente uma libidinagem bem acanhada e o proibido mesmo alimentava a fantasia do desejo, explodindo toda a manifestação sensual reprimida, na verbalização das marchinhas carnavalescas, com suas letras quase sempre falando da paixão carnal, dor de cotovelo, de amor não correspondido, tudo com metáforas poéticas, sem vocábulos chulos e muito duplo sentido, um resquício de recato, para não falar vergonha, que desapareceu totalmente nos dias de hoje. Os temas recorrentes a assuntos que agora poderíamos chamar de politicamente incorretos, ou de socialmente degradados, como, por exemplo, a famosa Cabeleira dos inúmeros Zezés, que andam por aí, eram retratados metaforicamente, com recato e com duplo sentido, diluindo o referencial numa linguagem figurada bem arrumada. Isso mesmo, com RIMA !Também era muito comum nas letras das marchinhas de carnaval a crítica política, explicitada através do humor como riso. As "maracutaias" dos políticos da época surgiam espirituosamente nas músicas carnavalescas, sempre com retumbante sucesso, como se o desvio social do homem público fosse alguma coisa para se achar graça. Mas era assim, mesmo e creio que a coisa ainda não mudou... Quanto aos desmandos e às roubalheiras dos políticos atuais, parece que nisso ninguém mais acha graça, não. Mas muita gente deixa como está, porque pior não pode ficar, não é Deputado Tiririca? Esses desvios no comportamento político não têm mais graça nenhuma e, agora, não seria tema de nenhuma música carnavalesca, pensamos nós. A censura dos anos 40 e 50 ainda despertava a vontade de se criticar o “status quo” . Parece que hoje, isso não funcionaria. A divulgação das músicas vencedoras nos concursos de marchinhas carnavalescas da TV Globo não são muito divulgadas pelo rádio, como antigamente. Aliás, o Rádio também mudou. Não se faz mais uma PRE-8, Rádio Nacional, como antigamente, no Rio de Janeiro! No interior do Brasil as emissoras de rádio só tocam música da pior qualidade. E quem ouve? Gente de uma sensibilidade também muito questionável. Realmente, os tempos mudaram, mas a música, erudita ou popular, e a poesia construída com nosso idioma sempre terão um lugar de destaque na vida artística de todos aqueles que cultuam a arte e trabalham com a estética do belo.
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina, no meio da multidão”.
ATÉ A PRÓXIMA
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