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8 de abril de 2011

PEQUENA LEITURA SOBRE UMA GRANDE MESA


No miniconto, “Questão de Mesa”, publicado horas atrás, neste BLOG, Leo Yang envolve sua narrativa numa linguagem fluente, fácil de ser entendida, oscilando entre o prosaico e poético, o que logo coloca o leitor na expectativa de encontrar uma boa trama relacionada a uma aventura de um jovem andarilho, quem sabe? Sua descrição do ambiente circundante, antes e depois do início do conto prepara o leitor para conhecer um excelente texto, repleto de prazer, aquele mesmo prazer de que nos falou Roland Barthes. É, precisamente, no início do segundo parágrafo que a narrativa toma o caminho do memorialismo literário, pois, enquanto suposta realidade, recria o real, com formas expressivas, como atesta o antitético quiasma “não sei se te odeio saudosamente ou te amo odiosamente”, passando a criar novas significações, para o isolamento em que o autor se encontra, ou imagina se encontrar. As construções que usa para mensuração são inéditas e muito criativas. Assim: “E leio tudo, tudinho, só para ficar com a cabeça aqui, e não lá distante dois ou três ônibus, três ou quatro oceanos “ (o grifo é nosso). A mesa, questão ou proposta, está sempre acompanhando a narrativa: “quando todos se retirarem vou usar a faca para escrever na mesa um refrão, algo como: -Você sempre chega e já some, se é por mal ou por bem eu não sei, só sei que me consome”. Sabemos que todo texto denuncia. Denuncia através do manifesto ou do latente, e quase sempre nos dois estados da literariedade da escritura. Então, o texto denunciou o jovem adolescente apaixonado. Mas se não for isso? Não importa, vale o que está escrito! Já ouvi essa frase em outro contexto. Creio que sim, mas aqui ela tem o peso da seriedade literária que envolve esse miniconto de Leo Yang. A narrativa é suave, pois se forma com o discursos direto e indireto livre. Assim: “-Não tem cigarro?” “Você nem respondia, sabia que era só fitinha de escritor. E ria enquanto eu dizia que o escritor precisa fumar para poder ter uma caixinha de ferro da Marlboro, toda amassada, para quando uma garota pedir um cigarro poder inventar uma história de como a lata se amassou, num deserto em que ele fez mochilão no dia em que pulou de um avião para encontrar e pedir a mão da garota da sua vida, sempre a garota da sua vida”. A grande mesa do início da narrativa deixa de impressionar para ceder lugar à “pequena mesa dobrável”, que irá desencadear o desfecho do miniconto. Os dois mundo do universo poético de Leo Yang, discutidos filosoficamente já no fim da sua escritura se resumem a uma questão de mesa . O autor prepara com passagens poéticas, envolvidas em vocábulos simples, mas especialmente escolhidos (“de paisagem de fundo”, “pensamento um pouco mais baixo”, “ ...o mapa de uma nova vida”) uma declaração manifesta de amor, envolvida em metáforas e enálages, como em “um cigarro rabiscado de poesias”. Já a escrita na própria pele revela, e todo texto revela, não esqueçamos disso, a autoflagelação poética, a que o autor se submete, exigindo, acima de tudo, um sentido em sua vida para se entregar ao amor verdadeiro, uma vez que sua solidão gigante, numa espécie de desterro procurado, se identifica com a imensa mesa, geradora do motivo condutor de seu texto lírico, em prosa poética, numa linguagem simples, culta e escorreita. Sua felicidade cabe na pequinês de uma mesa dobrável, que se faz “gigante para dois mundos se reconstruírem”.


ATÉ A PRÓXIMA

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.