Campeonato carioca era o do meu
tempo de criança e adolescente. Eu sempre soube que só é carioca quem nasce na
cidade do Rio de Janeiro. Por extensão, qualquer evento nesta cidade
maravilhosa é um evento carioca. Então, Campeonato Carioca de Futebol era
aquele dos tempos de antanho. Os times? Sim, lembro-me bem de todos. Aliás,
havia, sim, uma única exceção. O Canto do Rio de
Niterói, que só conseguiu ser campeão do Torneio Início, disputado no Maracanã,
num ano perdido, lá na minha saudade de menino. E eu assisti a esse fenômeno!
Estava na arquibancada, comendo cachorro-quente, chupando Chica-Bom e tomando
Café Pucará... Na Tijuca havia o América Futebol Clube,
carinhosamente chamado de Mequinha, ali na Rua Campo Sales, onde meu pai se
reunia com os outros abnegados e entusiasmados conselheiros. Na Zona Sul havia os
times do Flamengo, do Botafogo,
e o meu Fluminense tricolor, um timaço da Rua
das Laranjeiras, muitas vezes campeão, bicampeão e tricampeão, desde os tempos de Robertinho, Gualter e Haroldo, Pascoal,
Telesca e Bigode, Pedro Amorim, Ademir, Simões, Orlando e Rodrigues... No
bairro da antiga nobreza dos Orléans e Bragança, podíamos torcer, assistindo aos
jogos do São Cristóvão de Futebol e Regata, o São Cri-Cri,
com seu uniforme branquinho, branquinho...Uma beleza! Ali, onde a cidade começa
a se afastar, levando um pesado trânsito de caminhões e ônibus para fora de
seus limites, fica o Estádio do Vasco da Gama, à
sombra de sua famosa colina, detentor do maior estádio da cidade, na Rua São Januário. O subúrbio da
Leopoldina, caminho de uma estrada de ferro de respeito, torcia pelo Bonsucesso, ou pelo Olaria
da Rua Bariri. Na outra linha férrea, o subúrbio da Central do Brasil, na Rua
Conselheiro Galvão, está o tricolor suburbano Madureira,
que sempre foi celeiro de excelentes jogadores. Lá, bem longe, onde se plantava
de tudo, num capo enorme, ao pé do maciço da Pedra Branca, o Campo Grande arrebatava emoções e dominava os corações
de seus moradores. Era o simpático Campusca, um dos representantes da Zona Oeste
da cidade. Mas, alguns poucos quilômetros antes, os trabalhadores da empresa têxtil
inglesa, Companhia Progresso Industrial do Brasil, já tinham se organizado e
fundado o Bangu Atlético Clube, que nos anos 40
e 50 se destacou na Liga com seus mulatinhos
rosados. Quase ia me esquecendo que a Ilha do Governador também se fazia representar
no verdadeiro campeonato carioca de futebol, com a Associação
Atlética Portuguesa, a Portuguesa Carioca,
que jogava em seu enorme campo dos ventos uivantes... Então, foram esses treze
clubes, doze, genuinamente cariocas, que tornaram possível o surgimento daquele
glamour tão festejado e cantado em prosa e verso pelos jornalistas esportivos
de hoje, que, talvez, nem percebem que o sucesso desse campeonato está lá
atrás, nos tempos românticos do velho e violento esporte bretão. Mas, se esse
passado não for resgatado, de alguma forma, com a volta desses times envolvidos
em competições sucessivas (e como, não cabe aqui e agora comentar), em pouco
tempo não sobrará nada para justificar essa formidável qualificação do mais
maravilhoso e único campeonato de futebol, já realizado em uma única cidade
brasileira: a Cidade Maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro, pátria dos
cariocas.
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Quem sou eu
- Professor Feijó
- Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
- Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.
Um comentário:
Belíssima crônica, como sempre! Lembrando os bons tempos em que o futebol carioca ainda contava com os clubes tradicionais de menor porte, que davam um sabor diferente ao campeonato.
Um forte abraço do
Laércio
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