No dia 25 de
abril, às 19h30min, na Biblioteca Pública de Itajaí, na rua Silva, Centro, será
lançada a mais recente obra de Luigi Maurizi, Comod’Antes. Livro de poemas, editado por Saulo Amami, Editora Dom,
Brusque, 2012.
Luigi Maurizi é um desses inquietos
poetas que se alumbra com todas as manifestações de vida, sejam elas
encontradas, tanto na palpitação frenética dos amores que sempre perseguiu,
amando e sendo amado, como no bucolismo simplório das pequenas cidades por onde
viveu. Trata-se de um poeta culto que
domina a língua, dela se apropriando dos mais significativos recursos
expressivos, para marcar sua sobriedade literária, como afirma ao fim desse
belo trabalho que estará lançando brevemente: “Só terei / a sobriedade...
/ De fazer-me um encantador / de almas
! ”.
COMO’DANTES é mais do que um jogo de palavras que
marca as pessoas que doam ou oferecem algo de maneira gratuita e esperam
receber em troca o mesmo que ofertou. É um índice semiológico, pois
signicamente se relaciona com o objeto que denota, o prazer materializado de
ler. Com esse sentimento, motivado, o
leitor espera encontrar, com toda certeza, o que procura, e retribuirá, agradecido, com o prazer advindo
da leitura, esperando, ainda, encontrar, talvez, uma Beatriz, nos amores
secretos do autor, fechando-se, assim, o ciclo desse comodato lírico, que só
poderia ter saído da verve criativa de Luigi Maurizi.
Sua poesia é
marcada pelo verso livre, sem a medida certa, sem a rigidez canônica da
metrificação tradicional, disposta convencionalmente em estrofações que passam
pelos dísticos, tercetos, quadras, quartetos, quintilhas, sextilhas e septilhas.
Essa
modernidade do verso livre, na poesia de Luigi Maurizi, pode ser vista na estrutura
rítmica, também fora dos cânones clássicos, com sua métrica nada convencional,
junto a um esquema de rimas e sua tipologia, desenvolvida por um sensualismo
velado, que toma proporções maiores, “emprestando” ao texto uma forma tradutora
do eu-lírico do poeta, que o leitor absorve com sua sensibilidade, obsequiado
pelo canto significativo dos versos de COMO’DANTES, em louvor à mulher, ora apenas desejada, ora amada intensamente.
Mulher ideal e mulher real. “Dar-te-ei o
beijo, / sem a ardência de outrora, / mas que ainda assim / te relembre toda
volúpia / da tida incontida paixão!...” SOB O BEIJO, (p.12). E a mulher desejada se
presencia em versos como: “Desejo
ventanias... / Um instigo / a fustigar meus instintos, / a contrapor-se a meus
brios, / a conduzir-me aos teus cios / num instante incomum, / sem a prévia
intenção! ” DERRADEIRO, (p.14). O sensualismo lírico povoa o livro,
intercalando-se com outros temas sempre presentes: o filosófico introspectivo,
as reflexões poéticas, o amor como forma encantatória, enaltecendo a pureza no
relacionamento com o outro e o bucolismo rural, com a presença da mulher
desejada, como acontece em “Acordei com teu corpo / e teu rosto
sorridentes / na matutinal aurora / do flertar de um sonho... E a vida
acordando / com o galo que canta, / com o clarão da aurora, / com a porta que
range... TRANSPARÊNCIAS, (p. 64).
Os versos
dos poemas de COMO’DANTES , como já
observamos, são livres, soltos ou brancos, como ou sem rimas, estruturados em
estrofações assimétricas. As rimas consoantes e assonantes, externas e
internas, emparelhadas, alternadas ou cruzadas, interpoladas ou opostas,
encadeadas, repetidas, misturadas e finais são pouco usadas e, geralmente,
estão presentes no fim dos poemas, chamando a atenção para o desfecho, numa,
talvez, tentativa de desconstrução dos poemas clássicos de forma fixa. A rima
polifônica, com as vogais tônicas abertas, e as consoantes constritiva e
oclusiva, respectivamente, em “enverdece
/ percebe”, que aparece em CONTINUIDADE (p. 19), mostra a sensibilidade
perceptiva do poeta para o aproveitamento dos sons da fala, na materialização
poética de suas composições.
Suas quadras
e trovas apresentam uma desconstrução formal, mantendo a proposta poética,
quebrando o ritmo em favor do tema exposto, como em “Essa tanta inquietude / a afligir tuas diretrizes... / Imaginavas ser
magnitude, / e o que viste foram cicatrizes!” (p. 22).
O poeta experimenta
inúmeros tipos de estrofes para exteriorizar sua emoção, basicamente envolvida pelo
carinho com a amada, pelo amor, pela vontade de estar com quem ama e soluçar seus
mais recônditos sentimentos. Esse transbordar de emoções surge em dísticos e
tercetos, onde também a voz do homem do campo se levanta, para cantar a beleza da
dicotomia das flores, em aliterativas metáforas lúdicas e telúricas, envolvidas
por construções especiais, como hipálages e a predominância da parataxe sobre a
hipotaxe, em : “Dálias crescem,
florescem, permitem... / Dálias murcham, fenecem, desistem... / Das batatas...
Dálias renascem!” .... “Te vestes de
verde, / para teres o direito / de novamente amadurecer...” (p. 41); “Tardes
anoitecem endoidecidas.../ E têm os dias / que não se quer ver o findar... e O amor também chora saudades...” (p.42).
Ainda podemos encontrar hipálages metafóricas, além de expressiva e esdrúxula
sintaxe, como em “tingindo de esperanças”,
p.29 e “ao deparar de rostos” p. 17,
por exemplo. Numa oitava, que não é nem heróica nem lírica, por não se enquadrar
nos cânones clássicos, com versos decassílabos, Luigi Maurizi, em “Sonhei o teu abraço / e abracei-me ao
sonho...” precipita o poético com a também transgressora regência verbal, e
retoma o lírico, bucolicamente materializado nos versos: “com o galo que canta”, “com o clarão da aurora” e “na porta que range” (p.64). Sua
linguagem estrutura formas sintagmáticas bem elaboradas e traz o imprevisto que
precipita o poético. Isso acontece no poema AGUARDO (p.67). A sonoridade de
seus versos surge com aliterações e coliterações, em: “Passas bases.../ Plantas-te em cerdas de pincéis”, p. 68; com jogos de palavras, alternância de timbre em
vocábulos marcantes, como em “Acordo em
aguardo dos acordes... / Pra ser
parte do acordo / no gorjeio matinal, onde antíteses fônicas marcam, ainda,
o ritmo do poema. Como poeta culto, o texto poético de Luigi Maurizi transfigura a realidade e nele, como vimos, inúmeros recursos linguísticos se
presentificam, ficando sua obra marcada pela excelência, poucas vezes vista nas
manifestações líricas catarinenses.
Está de parabéns a Biblioteca
Pública de Itajaí que abrigará o lançamento de mais uma obra poética desse
autor, natural da cidade de Brusque, que honra as letras desse belo Estado de Santa Catarina.
ATÉ A PRÓXIMA
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