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24 de outubro de 2014

HAVER & EXISTIR


Lá, há pouco tempo, na página 15 do jornalzinho "Linha Popular", de Camboriú, Ano III - nº 115, li uma curta matéria intitulada Academia de Letras abre vaga para três novos acadêmicos, com o sub-lead: Escolha será feita com base em análise do currículo e de obras publicadas. E continua: No início da semana, já haviam seis inscritos para as vagas (sic). Numa primeira leitura manifesta, trata-se de uma informação aos interessados.  Mas, latentemente, é claro que divulga o progresso das duas cidades: Camboriú, que divulga e informa o fato, e Balneário Camboriú, cidade que abriga a Academia de Letras, que procura completar seu Quadro de Imortais, tudo através de seu pequeno jornal. Ambas as cidades em pleno e contínuo desenvolvimento material. O que não condiz com essa aceleração material e social é o fato de ainda haver jornalistas que não sabem que o verbo HAVER, quando significar EXISTIR, é impessoal, isto é, não se flexiona. Portanto, a frase que o jornalista usa, "No início da semana, já haviam seis inscritos para as vagas." deverá ser alterada, a bem da NORMA CULTA DA LÍNGUA, para: No início da semana, já havia seis inscritos para as vagas. Vejam! A linguagem jornalística tem de se pautar pela norma culta do idioma. Bem, isso, talvez, parece estar em conflito com uma não muito antiga posição (mas que não foi revogada) do MEC que publicou e distribuiu um livro didático de Português, onde anula o conceito de erro gramatical tradicional, admitindo como certas frases do tipo:  Os alunos veio de longe. Argumentam as professoras, que falaram sobre isso, que no Brasil há muitas formas de realizações linguísticas e penalizar o aluno que se expressa pelo modelo acima é uma forma de discriminação linguística. Não concordamos, porque não é isso. Há equívocos! A língua é um sistema de signos sociais, o mais perfeito, aliás, que passa de pais para filhos, dentro de uma comunidade cultural, quando, dessa forma, se caracteriza como língua transmitida, completamente diferente da língua adquirida, que é aquela que se aprende à escola, lugar específico, na estrutura social, para se disseminar o conhecimento. Então, a língua adquirida será usada por aqueles que pela escola passarão e dela levarão todos os ensinamentos necessários ao seu desenvolvimento, que, inclusive, acelerará a vida comunitária em geral. Essa visão de erro gramatical, realmente só existe num confronto com vários tipos de linguagem, isto é, confrontando-se os vários registros que a língua apresenta, dentro do espectro social. Assim: os que só se expressam através da língua transmitida; os que se expressam através da língua adquirida em seu estilo culto, ou familiar, ou literário. Comparando esses registros é que podemos falar em ERRO GRAMATICAL. Só haverá erro gramatical na comparação entre os registros da língua. Assim: o professor corrige o aluno na escola, dizendo que ele deverá falar ISSO É PARA EU FAZER e não ISSO É PARA MIM FAZER. O professor, sistematicamente, e qualquer um, assistematicamente, pode e deve assim agir. Continua haver ERRO GRAMATICAL quando um representante comunitário que deve se expressar pela norma culta da língua, não o faz, como o que ocorreu nas páginas desse jornalzinho de Camboriú. O que lá ocorreu foi erro gramatical. Então, há ERROS GRAMATICAIS e ERROS DE COMUNICAÇÃO. Continuo exemplificando: se alguém ouvir um falante da língua com pouca ou nenhuma instrução se expressar assim: "Eu vi dois capitões", essa pessoa não deverá ser discriminada, pois sua fala está presa ao registro popular de nossa língua e qualquer um entenderá o que o cidadão viu: dois militares com patente acima de 1º tenente e abaixo de tenente-coronel. Quanto à comunicação, objetivo primeiro da linguagem, não houve ERRO. Agora, vejam o ERRO de comunicação: se alguém ouvir a frase "João é pobre porque ganha um pingue ordenado" nada entenderá, pois como pode alguém ser pobre se ganha muito? (É importante lembrar que o adjetivo de dois gêneros PINGUE significa, entre outras coisas, abundante, farto e, por extensão, muito, muita quantidade). Assim, houve, nesse caso, um ERRO de comunicação e não linguístico. Então, o ERRO linguístico pode estar na comunicação sem prejuízo do entendimento, mas estará inevitavelmente presente na fala equivocada de alguém que, devendo se expressar pela norma culta do idioma, tendo internalizado, inclusive, a língua adquirida, o faz por seu viés popular, estropiando o idioma. Assim, como vimos, a impropriedade linguística pode oferecer à Comunicação uma falta total de entendimento (no exemplo citado, um ERRO semântico, falta do conhecimento do significado do termo PINGUE). Creio que foi isso que o MEC quis dizer, mas infelizmente, não disse. Em resumo, o MEC não se equivocou, pois não vamos acreditar que lá existam professores que desconheçam o que apresentamos agora. Agiu, sim, sub-repticiamente, de maneira política, e péssima política, diga-se a bem da verdade, para a nossa combalida EDUCAÇÃO, porque, depois desses absurdos a que me referi, ainda diz, clara e contraditoriamente, que o ENEM e os VESTIBULARES deverão examinar os alunos através da NORMA CULTA DA LÍNGUA. Vá entender essa confusão! Esse é o nosso BRASIL atual!
E A NOSSA PRESIDENTA AINDA VOCIFERA QUE VAI MELHORAR A NOSSA EDUCAÇÃO.
Como acreditar?
Chega de engodo. Chega de apedeutas no poder. Chega de corruptos. Chega de niilismo político.
Façamos a mudança agora.


ATÉ A PRÓXIMA  

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.