“Como é incoerente este mundo,
pois a alegria completa
e o sofrimento profundo
se unem e formam o poeta”.
POETA vem do grego “poietés” e
significa o que faz; o autor. Chegou até nós pelo latim poeta. Desde os tempos
de Heródoto e Píndaro significa o que faz versos.
Michel Jules Alfred Bréal, linguista
francês, considerado o fundador da semântica moderna, em seu célebre livro
Essai de sémantique, assim nos diz sobre aquele que faz versos:
“On croit communément que le poète, aux yeux des Grecs, était “le créatur”, et le poème “ume creation”. Mais la réalité est un peu différente"...
Contudo, deixando a semântica no seu lugar nominativo e voltando para a produção, isto é, para a "creation", parece que o poeta é um melancólico, inscrito no erotismo de todas as visões: a antiguidade clássica,
o período quinhentista e o período modernista neo-hegeliano. O poietés, o poeta grego, sujeito de seu
discurso, a poiesis pós Heródoto, existe como melancólico, bem antes da era
psicanalítica. O poeta é o sujeito sobre o qual recaiu a sina do mito tebano.
Antônio Sérgio Mendonça diria: “o que quisera não ter nascido com tal destino”.
Nos textos camonianos, por exemplo, o
poeta canta a fragilidade da vida e a fugacidade do mundo e da vida, num lírico
devaneio conflitual entre morte e vida, internalizando o luto.
O poeta barroco, mesmo o da tradição
alemã com tendências românticas, também se envolve na melancolia freudiana,
embora se aproxime do bovarismo e da paixão.
O poeta realista de modelo machadiano
irá articular melancolia com o riso, não como amor e dor, tradição freudiana, mas
como fenda na articulação social. Mas outras vertentes atingem o realismo
poético diferentemente, articulando gozo e dor.
O poeta romântico poderá ser visto
como melancólico inveterado, como Jean Alluch colocará, no dizer ainda de
Antônio Sérgio Mendonça, “no choro constante da carpideira como perenidade do
estado melancólico crônico”, romântico, por conseguinte.
O poeta do moderno e do pós-moderno
estrutura-se (ou desestrutura-se) entre Nephentée, um simulacro de Afrodite
materializada em Helena e a “acedia”,
desestruturando, também, a cultura, envolvendo-a na mortalha da morte.
Portanto, se POETA é o agente, o que
faz, será poeta, quem fez? Já a melancolia, contida na escritura, seria para
Freud um juízo de existência, mas para isso, tal escritura terá de ser considerado
verso. Será?
Dispensa-se o “RISUM TENEATIS” de
Horácio.
ATÉ A PRÓXIMA
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