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16 de outubro de 2016

BOB DYLAN – NOBEL DE LITERATURA - 2016



O PRÊMIO NOBEL de Literatura deste ano de 2016 dado ao músico, cantor e poeta norte-americano Bob Dylan, me fez pensar nas pesquisas e descobertas fonéticas de Kenneth Burke, valorizando o verso moderno e, consequentemente, dando maior vida às formas poéticas, envolvidas em sugestiva musicalidade, justificando, assim, a fala do porta-voz do Comitê de Premiação da Academia Sueca:  “o prêmio vai para Bob Dylan, por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição norte-americana da canção”.

A obra de Kenneth Burke vai tratar também da musicalidade no verso. Em seu livro The Philosophy of Literary Form, A. Vintage Book. N. York, First Published, 1941, nas páginas 295 e seguintes, no  capítulo On Musicality in Verse, o autor se servindo de material dado no curso de verão, na Universidade de Chicago, em 1938, trata do consonantismo fonético nos versos, mostrando a árvore cognata dos sons consonantais na língua inglesa, o que pode ser aplicado em quaisquer outros idiomas. A adaptação, portanto, à fonética portuguesa é tranquilamente possível e praticável. Assim, há mais de setenta anos, esses fenômenos vêm sendo estudados pela micro-estilística fônica, o que, de certo modo, também acontece, a partir do modernismo, quando novos ritmos surgem na poesia de língua portuguesa. Oswandino Marques, em 1954 já a estes fenômenos se referia em seu estudo, Matrizes Estruturais do Verso Moderno, in Modernismo, Estudos Críticos, Revista Branca, Rio de Janeiro. Oswaldino vai usar uma nomenclatura, em parte, tomada de empréstimo ao linguista e filósofo Kenneth Burke, na obra acima citada. Tudo isso se estabelece porque a base das células sonoras e a própria sonoridade dos sintagmas frasais nos versos modernos estão na consonância e não no vocalismo. Nos versos premiados do “poeta-trovador” não foram mencionados os efeitos consonânticos estudados por Burke, mas, certamente, em seus poemas e em suas canções lá estão, certamente, presentes os grupos de força, as aliterações, as coliterações, as amplificações, os quiasmas, as amplificações e toda uma série enorme de realizações fonéticas estudadas por muitos críticos da micro-análise estilística. Em 1967, escrevi para a Revista da Editora Tempo Brasileiro, em homenagem a Serafim da Silva Neto, um artigo que reverenciava esses estudos fonéticos e estabelecia definitivamente a questão de autoria dessa nova metodologia de abordagem analítica, numa época em que muito se falava sobre inovações, mas muito poucas eram as citações meritórias. O crítico Oswaldino Marques, introdutor no Brasil da técnica de análise da textura sonora do verso, no ano seguinte, em 1968, ao editar Ensaios Escolhidos, pela Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, no Prefácio de sua importante obra, onde republicou o trabalho sobre o consonantismo no verso, intitulado Matrizes Estruturais do Versos Moderno, na página XVIII, comentando a insensibilidade de alguns intelectuais que não registram seu pioneirismo, nos cita, em nota de pé de página, com rasgos de profundo agradecimento pelas nossas colocações. Transcrevo as palavras de Oswaldino Marques: “Registro aqui com satisfação o trabalho de Luiz Cesar Saraiva feijó, “Células Sonoras no Verso Moderno” baseado no estudo objeto das considerações acima. Cf. Estudos Filológicos (Homenagem a Serafim da Silva Neto), Rio de Janeiro, Edições Tempo Brasileiro Ltda., 1967”.

Não afirmamos que a excelência dos versos e das canções de Bob Dylan provém somente da textura sonora de suas “frases-texto-canção”, mas essa textura sonora dá sustentáculo e corpo fonético à sua estética poético-musical. Outros inúmeros fatores são, também, responsáveis pela criação de uma nova expressão poética, dentro da canção norte-americana. Na balada Lay, Lady, Lay, a aliteração do título dá o romântico compasso que repetido com o segundo segmento do verso, onde uma segunda aliteração de fonemas bilabiais, forma uma coliteração, que se repete no estribilho, até o fim da canção. As rimas são sonantes e semanticamente calmas como a noite: night is still. Marcamos os fonemas aliterados e as rimas sonantes neste segmento da canção.


Lay, Lady, Lay



Lay, lady, lay, lay across my big brass bed
Lay, lady, lay, lay across my big brass bed
……………………………………………………………….
……………………………………………………………….
Stay, lady, stay, stay with your man awhile
Why wait any longer for the world to begin
You can have your cake and eat it too
………………………………………………………………..
………………………………………………………………..
Stay, lady, stay, stay while the night is still ahead
I long to see you in the morning light
I long to reach for you in the night.




ATÉ A PRÓXIMA





4 comentários:

THEREZA FISCHER PIRES disse...


Prof, boa tarde, boa noite aqui pra mim.

Encerrando mais uma viagem `a Europa pela querida "terrinha",vi ontem numa livraria do Chiado (que o sr deve conhecer), os dois volumes da nova edição das letras de Bob Dylan perfazendo-no conjunto- umas mil páginas.Taalvez mais. (a letra no original e a tradução no idioma local..)
Seu texto me encantou!Não é texto, é aula.

Sugeri que ele fosse ampliado via G+, para que mais e mais leitores possam compartilhar.

Estamos fechando as malas para voltar e encarar tanto os 43 graus no Rio como as barbaridades na área política.
Não votamos no 2º turno.
Até breve !

Professor Feijó disse...

Mais uma vez você , Thereza, com suas amabilidade, prestigiando essas minhas mal traçadas linhas... Obrigado, amiga! Seja bem-vinda às terras cariocas, que estão reproduzindo, citadinamente, as loucuras da política brasileira.

Professor Feijó disse...

*com suas amabilidade.

Professor Feijó disse...

Mais uma vez você , Thereza, com suas amabilidade, prestigiando essas minhas mal traçadas linhas... Obrigado, amiga! Seja bem-vinda às terras cariocas, que estão reproduzindo, citadinamente, as loucuras da política brasileira.

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.