Acabei de proporcionar aos amantes
da breve poesia, a trova, um concurso nacional, sob a égide de uma tradicional
organização de preservação do encanto que a trova encerra, a UBT. O resultado
foi diferente dos tradicionais concursos, pois houve sete trovas em primeiro
lugar. Na realidade, seriam vinte e duas colocadas em primeiro lugar, mas não
querendo escandalizar, organizei o resultado final, entre estas vinte e duas
selecionadas, de maneira a colocar sete em primeiro lugar, efetivamente, oito
como Menções Honrosas e sete como Menções Especiais. Quando da abertura dos
envelopes para que se soubessem os nomes dos poetas vencedores, muitos que participavam do evento, estranharam,
achando que as colocações não correspondiam às suas expectativas, aos seus julgamentos, instantâneos,
imediatistas, impressionistas e muito pessoal. Será que estas trovas são boas
porque foram bem escolhidas ou foram bem escolhidas porque são boas? Tal situação lembrou-me um artigo que li há
muito tempo, na verdade, um microensaio crítico muito bem elaborado, não só
pela escritura, como pelo desenvolvimento conteudístico. Chamava-se “Tostines
Invertido”, de Cristiane Costa. A autora, em síntese, vê a crítica literária
torcendo o nariz para as obras que mais vendem no comércio editorial, isto é:
os best-sellers. O efeito “Tostines”
está presente aí. Vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende
mais? E repensa o papel do crítico literário, em função do mercado editorial.
Já Flora Sussekind, no suplemento literário do Jornal O Globo, sugere que o
crítico literário se afaste cada vez mais da sua função de guia de consumo... E
Cristiane Costa, que desencadeou minhas reminiscências literárias e de
comunicação de massa, termina na oposição best-seller / worst-seller,
afirmando que “não é à toa que a lista de worst-sellers já engoliu a poesia e o
conto e está agora ameaçando o romance nacional.” O que queremos dizer com a
chamada de um texto desse tipo? Vejo que é fácil e pertinente fazermos uma
paráfrase com o que acontece nos julgamentos de concursos literários de poesia
e prosa, principalmente executados por pequenos grupos ou instituições que não
dispõem de pessoal preparado para a composição de uma banca julgadora. Pessoal
qualificado não é comum nessas situações, mas em concursos de notoriedade
nacional devem ser chamados, sim, pois críticos renomados ou pessoas com
qualificação e formação em Teoria Literária, pelo menos, são indispensáveis
para esse mister. Por pensar desta maneira, escolhi a dedo minha banca julgadora, formada por doutores em Teoria da Literatura e Literatura Brasileira. Assim, quando o júri atribui um veredito, baseado num
critério consubstanciado em argumentos relevantes e intrínsecos à escritura e à
escrituração, este, de certa forma, também, observa a criação literária como
algo que não conhece limites, regras, nem esquemas, resultando daí suas
escolhas. Escolhas estas com pertinências estéticas e nunca submetidas aos
resíduos farofentos do “slogan” dos biscoitos Tostines, invertido ou não.
ATÉ A PRÓXIMA
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