“Minha
alma no azul se expande...
Parece
um sonho sem fim.
Sendo
o nosso amor tão grande
Sinto
o céu dentro de mim”!
Autor: João Batista
Xavier Oliveira
A análise da trova acima visa
encontrar uma relação significativa entre as quatro elucubrações ou pensamentos
contidos em cada verso, sustentados pelos respectivos verbos de cada oração.
Assim, o 1º verso (MINHA ALMA NO AZUL
SE EXPANDE) pode ser entendido, de acordo com os significados dos nomes
substantivos, verbos e relacionamentos sintáticos, como: Minha alma vai se
expandindo no azul do céu. A esse primeiro verso se coordena (se liga) um
outro, o 2º, sem que haja entre eles nenhuma dependência sintática. Isto é, um
verso não é função sintática do outro. Observem: PARECE UM SONHO SEM FIM. É
como se dissessem: “Minha alma no azul se expande” e “isso parece um sonho sem
fim”.
Esses dois versos, um dístico, é um
pensamento poético, com total e plena estruturação sintática. Com total sentido
formal. O sentido formal deve existir em qualquer tipo de escritura, seja ela
uma escritura denotativa, seja ela uma escritura conotativa. Quer dizer, tanto
o referencial quanto o metafórico devem se estruturar dentro de um modelo
linguístico pré-estabelecido. No caso trata-se de se seguir a estrutura da
língua portuguesa. Observem o exemplo:
“Minha terra tem palmeiras,/ Onde canta o Sabiá; /As aves que aqui gorjeiam,/
Não gorjeiam como lá.” (Canção do Exílio, Gonçalves Dias). Os dois primeiros versos
formam um dístico com sentido complementar, um completa o sentido do
outro. É como se dissesse: O sabiá canta
nas palmeiras que existem na minha terra. Da mesma forma os dois últimos versos
também se completam. Seria: “Onde estou agora (no exílio, em outras terras) as
aves daqui não gorjeiam como as aves que gorjeiam lá na minha terra natal”.
Pode-se concluir, dizendo que existe um nexo significativo entre todos os
quatro versos da estrofe de Gonçalves Dias. Agora, jamais se poderá dizer que o
poético se ausentou da cena descrita naquele texto, pelo fato de que nunca
ninguém viu um sabiá cantar empoleirado nas folhas das palmeiras do Maranhão. E
mesmo assim, a imaginação inspirou o poeta... Queremos dizer com isso que, nos versos,
a poeticidade se constrói com ou sem palavras, com ou sem subjetivismos, mas o
sentido poético só se constrói com a ordenação das palavras na frase,
obedecendo às estruturas rítmicas e sintáticas da língua. Portanto, se invertêssemos
a ordem de aparição dos vocábulos dos quatro primeiros versos da Canção do
Exílio, num hipérbato desconcertante, prejudicando totalmente o entendimento do
discurso, sem nenhuma gramaticidade ou aceitabilidade, a poesia jamais lá se instalaria.
Assim: Tem palmeira terra minha / Canta onde o Sabiá / Gorjeiam as aves que aqui / Como não
gorjeiam lá.
Observemos, agora, os dois últimos
versos da trova em questão: Sendo o nosso
amor tão grande / Sinto o céu dentro de mim.
Esses dois versos estão subordinados
um ao outro, numa ordem invertida. O verso Sendo
o nosso amor tão grande tem o seu verbo no gerúndio (sendo) o que torna essa oração uma oração reduzida, com valor
causal, subordinada, portanto à seguinte, que seria a principal. Correspondendo
a esta interpretação: Eu sinto o céu dentro de mim, porque o nosso amor é tão
grande. Nesse caso, entenda-se a expressão “tão grande” como equivalente a “muito
grande”, não se considerando haver aí uma consequência.
Se formos considerar a existência de
uma consequência, a interpretação seria outra. Vejamos esta hipótese. Vamos
considerar o verbo SER, na forma de gerúndio, um verbo vicário. Sem significado,
só para dar corpo fonético à frase. Portanto, excluído de cena, entender-se-ia
assim esse terceiro verso da trova em questão: O nosso amor é tão grande (ração principal) que sinto o céu dentro de mim (oração subordinada consecutiva, pois
depende da oração principal, para o conjunto das duas formar sentido).
Parece-nos que esta última
interpretação é menos plausível. Ficaremos com a primeira interpretação.
Agora, juntando os quatro versos
analisados, dois a dois, verificamos que os dois primeiros estão desconectados,
formalmente, dos dois últimos, pois não produzem sentido. Os dois primeiros
versos da trova formam um período coordenado, com sentido finito, embora haja uma
visão conotativa, poética, metafórica, portanto. Mas as metáforas estão, no
nível do significado, perfeitamente estruturadas. Já os dois últimos versos da
trova, tomando-se a primeira interpretação, constituem uma estrutura em
subordinação, sem liame conceitual com os dois primeiros.
Concluindo, podemos dizer que se
entende o que o autor quis dizer, ao se expressar dentro das amarras de um poema
fixo como a trova, mas entende-se, por pura intuição, por puro impressionismo,
pois neste caso mostrou-se - e a análise é para isso mesmo – que a
grandeza do conteúdo foi tanta, que não coube nas amarras das estruturas
linguísticas conhecidas e trabalhadas inconscientemente pelo poeta.
ATÉ A PROXIMA
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