A poesia de Ernesto Wenth Filho enquadra-se no que se
convencionou chamar de produção poética contemporânea, que são os textos em
verso ou prosa poética, surgidos a partir de 1945. Seu último livro, lançado
recentemente em 2017, pela MJ Editorial, Balneário Camboriú, em 2017, traz no
título da “capa” e da “quarta de capa” o título do livro, é claro, mas
trata-se, também, de um poema. O poema-título SÓLIDO. Do que se trata? Trata-se do nome do livro que se consubstancia
como poema, cuja produção denuncia a manipulação da linguagem. Isso se dá pela
captação da sensibilidade poética que vai buscar na realidade do referencial
linguístico o significado cultural do termo SÓLIDO, assim: “Que dificilmente se deixa destruir por uma força
externa; que tem fundamento real, seguro; digno de confiança, incontestável;
firme, sério, duradouro; resistente”. E acrescentamos nós: todas as
constelações semânticas advindas desses significados primitivos, que vão se
multiplicar no “receptor-leitor” e em seu repertório.
A visão espelhada do esboço original da capa e a capa acabada
é uma viagem que o leitor faz, antes mesmo de folhear as primeiras páginas
desse último livro de Ernesto Wenth Filho. Essa forma original de produzir um
texto poético é, na verdade, uma forma de linguagem, pois seus significantes,
que adquirem significados motivados no real, fazem com que surja uma comparação
inconsciente, no entendimento do receptor dessas novas mensagens codificadas, incorporando-as
a seu repertório, a fim de ver nesse conjunto de signos, que é o texto
produzido, uma forma expressiva, com novos significados, portanto, uma forma
poética, com nova linguagem. Assim, passamos a caracterizar como poema, uma
forma de linguagem, e o texto em questão, o é, por tudo que foi considerado e
porque, acima de tudo, recria a linguagem articulada, recriando, com ela, uma
nova maneira de se ver um mundo transfigurado.
A linguagem poética de Ernesto Wenth Filho está projetada
para ser cantada em ritmos alucinantes da musicalidade muito próxima do ritmo
do rock (p. 38), pois a referencialidade soprepuja a conotatividade de seus
enunciados. Isso, contudo, não tira de cena a poesia contida em seus textos,
como exemplificam os versos dos pequenos poema de seus textos, visualmente
destacados entre sinais gráficos de grandes aspas. Aliás, funcionando dentro do
contexto de SÓLIDO como verdadeiros grafemas, pois colocam significativamente
em destaque uma outra forma de dizer o poético.
Sua linguagem mais referencial, portanto, convive, dividindo
espaço com a suavidade das formas adjetivadas, que são, realmente, em menor
número do que as substantivas, mas não desmerecendo o conjunto, que se sustenta
por vários outros predicados, inerentes ao processo de criação poética.
Assim, a poesia de Ernesto Wenth Filho, neste seu livro
SÓLIDO está relacionada com a descrição da realidade circundante e trabalha com
diversos tipos de textos, incluindo a prosa poética narrativa-reflexiva (p. 8,
58).
Sua estrofação apresenta os seguintes segmentos: dísticos: (p. 65); tercetos (p. 29, 74); quadras
(p. 14, 16, 38, 62, 72, 75); quintilha:
(p. 70); estrofação mista de quadras e sextilhas (p. 6); estrofação mista de tercetos, quadras e
dísticos (p.10); poemas de
estrofação mista bem variada (p. 12, 18, 20, 22, 24, 26, 28, 30, 32, 34,
36, 40, 41, 43, 46, 48, 50, 52, 56, 64, 66, 68, 69, 71). Todos os seus poemas
se compõem de versos modernos, com e sem rimas, sem métrica, mas com certo
ritmo, nessas estruturas bem diversificadas de estrofes.
Finalmente, temos certeza que, futuramente, as obras poéticas
de Wenth Filho, nos brindarão, plenamente, com poemas sequenciais, seguindo aquela
linha inicial, quando inovou, desconstruindo o figurativo tradicional, em Só –
LIDO, para construir uma nova forma de se ver o mundo, transfigurado pelo
dialogismo da linguagem, com suas inúmeras possibilidades de leitura.
ATÉ A PRÓXIMA
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