VELHACO é um adjetivo da língua portuguesa que se prende ao espanhol bellaco, de radical ignorado, segundo um dos maiores filólogos de todos os tempos, o alemão W. Meyer-Lübke, apud Nascentes, in Dicionário Etimológico da língua portuguesa, Volume I. Outros insignes filólogos, como Cortesão, Figueiredo, Diez, Adolfo Coelho e Franco de Sá dão como origem de VELHACO o latim VILIS, significando vil, mais sufixo ACA. João Ribeiro, in FRASES FEITAS, já ensinava que VELHACO nada tem a ver com VELHO, não é derivado, pois, desse adjetivo. Cita como exemplo o Canto XVI, Estrofe 75 de Viriato trágico:
“Repara em que aos mais retos julgadores/ Chama de sanguinários e velhacos”.
E acrescenta: “O verdadeiro étimo de VELHACO é viliacus, de vilis, significando VIL”.
Assim, não deu para entender por que André Rizek bom e lúcido comentarista esportivo do programa “TROCA DE PASSES”, do SPORTV, da Rede Globo de Televisão, Canal 39 da SKY, que eu assino, e a ele assisto, principalmente quando o Fluminense vence seus jogos, utilizou esse adjetivo nos comentários da noite do dia 7 de novembro de 2010, para caracterizar o time do Corinthians, chamando-o de time VELHACO. Disse que não se tratava de nenhuma ofensa, nem que o time paulista era composto por jogadores velhos. Bem, não entendi o epíteto dado ao sério concorrente ao título desse ano de 2010. Se o ilustre comentarista quis dizer que VELHACO poderia significar uma boa qualidade enganou-se completamente. Se consultasse o dicionário de Antônio Houaiss veria que em todas as acepções desse adjetivo há um SEMA ligado ao campo semântico daquilo que é ordinário, que não presta. Fiquei sem entender e com a impressão de que foi uma precipitação do rapaz, tentando criar uma novidade linguística, talvez! Bem, se os meus leitores quiserem anotar, creio que expliquei o étimo de VELHACO. Muitos comentaristas do futebol adoram acrescentar UM ALGO MAIS aos comentários que fazem nos programas esportivos de rádio e de televisão, contudo, às vezes, ou quase sempre, metem os pés pelas mãos. Creio que o cesteiro não deve ir além do cesto.
ATÉ A PROXIMA.
3 comentários:
Concordo com a lógica do eminente filólogo, Prof. Feijó.
Confesso que também fiquei surpresa quando em uma palestra recente na UDESC sobre o tema Inclusão Social uma doutoranda que pesquisa Educação e Sexualidade se reportou ao vocábulo "velhaco" para tentar esclarecer que "se trata de 'pessoa velha e sem posses'. A acadêmica enfatizou que "não se trata apenas pessoa idosa, mas que além de contar com idade avançada, ainda não tem recursos financeiros.(..) ".
Nesse caso, segundo a referida estudiosa, tal palavra seria um depreciativo atribuído à pessoa idosa desprovida de dinheiro.
Como pode ser comprovado, os acadêmicos precisam estar mais atentos às categorizações que criam e empregam sem critérios mais apurados.
Prof. Tereza Santos da Silva
Prezada Prof. Tereza Santos da Silva. Obrigado pela leitura e pelo "eminente". Realmente o vocábulo VELHACO em sua origem se prende ao latim VILIS,vil + suf. ACA. Isso é atestado por João Ribeiro em Frases Feitas, referindo-se à expressão PAI DE VELHACOS. É sempre interessante conferir lá na página 365, minha edição é a 2ª, de 1960, Livraria Francisco Alves. VELHACOS (forma arcaica VALHACOS)eram a gente incerta, ciganos, nômadas, forasteiros e adventícios sem origem conhecida. Por um tempo se confudiu com VALÁQUIOS como os ciganos com os egipcianos. VELHACOS, que se poderá escrever VILHACOS, é a gente VIL e BAIXA. O verdadeiro étimo é VILIACUS de VILIS, vil. Cf. o italiano VIGLIACO, o espanhol BELLACO. Assim nos ensina o mestra João Ribeiro.
O que ocorre também é a confusão proporcionada pela prosódia de VELHO, idoso, causando dúvidas em quem não é do ramo glotológico. Pode-se até se ver nessa confusão, para os que pensam em que a origem de VELHACO é VELHO, e acredita nisso, difundindo essa etimologia, através de comentários estranhos como fez o ex-jogador de futebol, Caio, um fenômeno linguístico conhecido como FALSA ETIMOLOGIA.
Agora, professora, não entendi a última parte de seu comentário, quando diz que "os acadêmicos precisam estar mais atentos às categorizações que criam e empregam sem critérios mais apurados".
Quem assina o comentário anterior é o Prof. Feijó. Não sei porque não saiu minha assinatura.
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