Há muitos programas nos canais
esportivos das televisões brasileiras, abertos e a cabo, que apresentam uma
formatação nada interessante e muito equivocada, mesmo. Refiro-me, principalmente
aos programas que vêm sempre depois dos jogos de futebol dos campeonatos
brasileiros e regionais. Esses programas apresentam comentários dos técnicos,
em entrevistas coletivas, sendo sabatinados por repórteres ou coisa parecida.
Ora, tudo que é perguntado e também o que é respondido, dificilmente interessa ao
torcedor, ou lhe é interessante. Antigamente, e isso começou no rádio, é claro,
por este ser mais velho do que a televisão, havia os comentários técnicos sobre
a partida, feitos por analistas de fala fácil e de raciocínio lúcido, sempre no
meio e no fim das partidas, isto é, no intervalo do primeiro para o segundo
tempo e no final de cada jogo. No decorrer da transmissão, só a interferência de
repórteres de campo e as opiniões dos comentaristas da arbitragem. Citemos, por
exemplo, João Saldanha e Luís Mendes, cujos epítetos, “O realmente técnico“ e “O
Comentarista da palavra fácil”, até hoje são lembrados por seus fãs, que têm
muitos motivos para deles se orgulharem, pois eles sabiam dizer o que o ouvinte
queria escutar. Eram profissionais da imprensa que falavam do futebol que fora jogado
minutos atrás, levando aos ouvintes ou aos telespectadores aquilo que poderia
ter passado despercebido, como o despreparo de um jogador para ocupar uma
posição de jogo em campo, para a qual não fora treinado durante a semana, por
exemplo. Ou, talvez, suas vozes marcantes levassem aos ouvintes informações
colhidas pela produção de suas emissoras, que se transforariam em verdadeiros furos
de reportagem. O fato é que hoje, a formatação desses programas de comentários
após as partidas de futebol é ridícula, sem criatividade e sem propósito. A
própria disposição cênica é saturadíssima e redundante. Um elemento comanda as
indagações, em pé ou sentado, ao lado de uma mesinha, e dois ou três, numa mesa
maior, respondem perguntas óbvias ou comentam a fala dos técnicos das equipes
que se confrontaram, outra forma horrorosa de produzir informação, como se
fosse o rescaldo de um incêndio ocorrido em noventa minutos de sofreguidão.
Qual o objetivo de um técnico ficar falando por longos minutos sobre como ele
viu o seu time jogar? Ele é técnico para arrumar o seu time e prestar contas a
quem o contratou. Quem vai prestar contas à torcida é o dirigente do Clube. Se
o técnico não gostou do desempenho de sua equipe, que mude a forma de atuar no
próximo jogo, ou, pelo menos, tente mudar. Ou ele não é o supremo comandante?
No fundo, no fundo, toda a falação não serve para nada, a não ser para ser mote
de fofocas. E se estendermos nossas observações para os programas esportivos
sobre futebol, em dias e em horários distantes das partidas do meio ou do fim
de semana, a coisa fica muito pior. Há programas que misturam bate-papo
futebolístico, música popular brasileira e teorias científicas, tudo discutido entre
jogadores, ex-jogadores, técnicos, ex-técnicos, ex-árbitros de futebol, músicos,
gestores empresariais, numa mistura de repertório e competência, ficando tudo muito
parecido com programa humorístico. Sabemos que o futebol é uma grande metalinguagem
que irá falar dele mesmo, através de outros códigos, mas no fundo, no fundo,
futebol é prazer lúdico em primeiro lugar. Depois é que vem, ou veio o futebol
profissão, o futebol negócio. Agora vejam. Esses programas de rádio e televisão
visam um público com expectativas centradas na ludicidade, mesmo porque a
grande maioria dos ouvintes ou telespectadores sem rosto, isto é, a audiência,
tem um repertório limitado e preso aos prazeres desse magnífico esporte de
massas. Para outro público, outra formatação. Outro discurso. O que irrita é que
está tudo junto e misturado.
ATÉ A PRÓXIMA
3 comentários:
Oi,Prof
Cada texto seu é uma aula!
Estou aqui pensando no Oduvaldo Cozzi e seus textos respeitosos mas meio exagerados nos salamaleques..
Thereza
perdão,,,,,nas locuções exageradas etc etc
Obrigado, Thereza, você sempre gentil e atenta. Saudações tricolores vitoriosas.
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