- I -
Subi a serra de Nova Friburgo com o coração cheio de saudade
e amor. Tive um pequeno apartamento no condomínio, Serraville, perto da fábrica
Ipu. Lá passava meus fins-de-semana, recarregando as baterias, gastas pelo corre-corre
e sofreguidão do ofício, a fim de dar conta das quase quarenta e duas horas
semanais de aulas, nas diversas escolas da rede pública do Estado do Rio de
Janeiro. Como é linda a serra! Árvores ancestrais! E a brancura alta das esguias
embaúbas! O amarelo dos ipês sempre me encantou! As acácias e as quaresmeiras tricolores
se enroscavam no verde escuro da vegetação. Parece, como dizia Raul Bopp, que aqui, também, as árvores
estudam geometria, tal o simétrico arco de círculo, criado pela cúpula das
doutas e enormes árvores daquela floresta de Mata Atlântica. Alumbramento fantástico...
Meu amigo fantasma estava mais branco ainda de admiração! A brancura dos
fantasmas está ligada à pureza, pois a morte apaga todas as mazelas dessa nossa
vida mundana e lava a alma do homem, como o sabão enxagua as roupas finas que
nós vestimos a vida toda. Alveja-nos, purificando-nos, clareando o novo
ambiente onde viveremos para todo o sempre. Assim, tornamo-nos, de verdade,
quase anjos. É isso! Mas anjo é um patamar superior, outra situação nesse
diferente campo simbólico da significação, na concepção de eternidade, algo também
relacionado ao conceito de estruturas espaciais, o que poderá ser futuramente
discutido. O meu amicíssimo amigo e digno fantasma, é claro, quis vir comigo de
carro – uma nova experiência - e viajávamos com o veículo todo fechado, para que
ele não se desmanchasse. Eu tomava muito cuidado e pedia sempre, encarecidamente,
a ele que não ficasse a sotavento, no banco de trás, pois tinha medo de que se
perdesse por alguma pequena brecha, nos vidros das portas traseiras. Paramos em
Muri. Abasteci o possante e segui viagem. Deixamos Nova Friburgo para trás e
rumamos para Santa Maria Madalena, pois meu fantasmagórico passageiro dissera
que lá, iria me contar, recriando o seu espaço-tempo, uma história magnífica -
bestial, em suas palavras – vivida por meus antepassados. Só aceitei viajar porque
percebi, desde aquela sua agitada aparição, com chilique e tudo, em São José do
Cerrito, no planalto catarinense, que algo muito emocionante me esperava.
ATÉ A PRÓXIMA
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