Hoje, dia 21 de abril de 2018, a Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), através
do acadêmico, Professor Carlos Eduardo Falcão Uchôa prestará homenagem à memória
de nosso confrade Rosalvo do Valle, recentemente falecido. Como não poderei
comparecer, sirvo-me do texto que segue, para também expressar meus
sentimentos ao querido amigo, emérito professor, filólogo e latinista, que nos deixou há
muito pouco tempo.
Relendo o magnífico
conto do Padre Manoel Bernardes, O Monge e o Passarinho, fui interrompido pelo
toque estridente do telefone. Confirmado. Mais um querido amigo partira para aquela
dimensão estrutural do mundo de Bernardes. Tristeza. Era a terceira hora do dia
e as nonas se faziam presentes. À janela, meditativo, também fui atraído pelo
voo de um negligente e distraído pássaro azul que pousou no telhado do prédio
vizinho, avistado de meu quarto. Seus constantes piados, ensaiando um canto,
conseguiram me entorpecer. Parece que cochilei. Era um corredor claro, rodeado
de bancos longos, ocupados por pessoas alegres e tranquilas. Passando por elas,
as reconhecia perfeitamente. Estavam ali meus amigos de verdade, alegres e
satisfeitos, todos com livros abertos diante de seus olhos penetrantes nas
leituras proveitosas que realizavam. Alguns os tinham debaixo dos braços, como
se a leitura fora interrompida há pouco tempo. Outros anotavam nas próprias
folhas suas considerações notáveis, forma de estudo que muitos deles me
ensinaram. Havia os que comparavam textos de livros diferentes. Outros
escreviam poemas. Alguns traduziam e vertiam textos clássicos. Realmente, eram
os meus amigos! Todos estiveram presentes na história de minha vida. Ao retornar pelo mesmo corredor etéreo, uma
nuvem hialina, bem fina, me envolveu e, arrepiado, ouvi as vozes de ninfas e
tágides a cantar elegias fúnebres e sentidas. Abracei, emocionado o recém-chegado.
Separamo-nos e percebi estar com plumas azuis nas mãos. Plumas que o vento
morno da manhã havia me trazido desde o telhado da casa ao lado, para a
inquietação da vida que não para sequer por minuto apenas, mesmo se estando
trezentos anos junto ao Senhor. Mais um querido companheiro partiu para o céu! Foi
discutir erudita simplicidade e muita sabedoria com os santos anjos. Adeus,
Rosalvo do Valle!
ATÉ A PRÓXIMA
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