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19 de maio de 2013

CULTURA ? QUE CULTURA ?





É claro que ninguém fala como escreve, mas quando qualquer fala é passada para o registro escrito, deve-se ter muito cuidado para que as formas mais relaxadas da oralidade sejam adaptadas à norma culta da língua. Mas será que isso sempre acontece? Por estas bandas isso é um problema. Presenciei algo estarrecedor ao ler um agradecimento de um político que recebia de mão beijada um cargo oficial, mesmo não apresentando, pelo que disse em sua falação, o menor cacoete para o tal cargo. Então, insisto. Não é possível que algum texto que venha à luz publicamente, saído de uma entidade oficial de qualquer governo, quer seja federal, estadual ou municipal, apresente uma redação, capaz de colocar em estado de alerta os seus cidadãos, tamanha a falta de comprometimento linguístico com as mais comezinhas regras do bem falar e do bem escrever. Esses textos devem ser confeccionados, dentro do registro culto da língua portuguesa. E o texto que motivou esses comentários foi o pronunciamento de um senhor, investido no cargo de Secretário de Cultura do Município de Balneário Camboriú, SC. O que vamos apresentar aos nossos leitores foi a origem e o “in fine obrarum”. Antes, porém, é bom observar que toda língua de cultura, e o português o é, apresenta registros diferentes em sua manifestação. Língua de cultura, é bom lembrar, é aquela com que o país se comunica com os seus cidadãos e tem representação na ONU. Outrossim, como se sabe, a língua pode ser oral, quando é falada e escrita, quando é grafada. Sempre foi assim com línguas de cultura, que são aquelas, como foi dito, usadas por um Estado, política e geograficamente constituído.  A Língua Padrão apresenta duas variações: a Língua Padrão escrita e a Língua Padrão coloquial. A língua padrão , que escrita, quer coloquial, obedece a uma estrutura ideal que abrange a nação inteira, apresentando uma disciplina gramatical disseminada no âmbito social. Quando utilizada por escritores, em poesia ou ficção, naturalmente apresenta propriedades estilísticas individuais. A língua literária, portanto, não raro reestrutura esteticamente os elementos da língua padrão, para a criação de um estilo próprio. Fora do âmbito literário ou artístico, ou seja, em estudos técnicos e pronunciamentos oficiais, a língua deve se manter fiel à sua tradição gramatical. E isso é ensinado nas escolas. É o principal objetivo da Escola. A língua padrão deve ser utilizada em todas e quaisquer situações onde a formalidade seja evidente. Mas foi o que não aconteceu na posse de um membro do Governo Municipal de uma cidade de Santa Catarina, onde o seu Prefeito deu posse ao Presidente da Fundação Cultural da cidade, com status de secretário de governo, como acima apontei. Vejam o seu discurso e as nossas anotações. Um total de 20 erros gravíssimos para quem assume a Direção de uma Fundação que se diz cultural, em nome de um governo, que diz trabalhar em prol da cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil.

Cruzes!!!!!!


Vejam o tal pronunciamento:



Boa Noite Senhores e Senhoras.

Amigas e Amigos, a 1 minha Mãe aqui presentes e demais familiares.Colegas do Governo, Companheiros e como diz Isaque Borba 2- Boa noite aos “praianos” aqui presentes.
É com imensa satisfação que assumo os diversos desafios que
estão apresentados para o Setor da Cultura e o Governo Municipal3;
Estarei presidente da Fundação Municipal de Cultura por diversos motivos, entre eles por compreender que é essencial para a
pessoa humana 4  a educação, o trabalho, a sustentabilidade, a cultura, a ciência, a tecnologia, a saúde, o meio ambiente e incluo a militância política.5
A militância política no Partido dos Trabalhadores desde 2001, permitiu-me constatar que ou nós participamos da construção da sociedade ou construirão por nós a realidade que vivemos;
Também não basta militância política em movimentos sociais, é preciso a militância política partidária para garantir a efetivação através da gestão participativa do Estado Brasileiro;
Agradeço ao Partido dos Trabalhadores por disponibilizar ao prefeito Edson Piriquito o meu nome para que o represente e atue no governo municipal de maneira que atenda
as6 diretrizes do seu governo e promova a cultura para as pessoas da nossa cidade.
No governo Edson Piriquito caberá desenvolvermos a cultura para a cidade,
pois este é o local onde os cidadãos criam, interagem, reproduzem e consomem cultura.7
De imediato teremos que promover ações que propiciem aplicação da Lei de incentivo e fomento
a8 cultura, que investirá em projetos culturais de teatro, dança, música, literatura, audiovisual, artes visuais, artes populares e circo.
Da mesma forma teremos que promover ações de inauguração e um cronograma de atividades do Teatro municipal, que estimule
m e valorizem9 a cultura local e artistas praianos. 
Ressaltamos que estas iniciativas imediatas são solicitações do prefeito Edson Piriquito.
Em curto prazo temos o compromisso de
propor e desenvolver uma proposta10 para a elaboração do Plano Municipal de Cultura que permita contemplar, revitalizar e dar visibilidade a11 diversidade cultural de Balneário Camboriú.
Nos últimos anos,
à12 exemplo do Governo Lula, o governo da presidenta Dilma, tem investido no setor da Cultura por meio de programas como o Cultura livre, pontos de cultura e o vale cultura e 13 cabendo a nós, município, habilitarmos14, perante o Ministério da Cultura, para incorporar esses programas no cotidiano da nossa cidade. A relação estreita ( ....)15 com o Minc, cooordenado pela companheira Marta Suplicy do PT, certamente nos enche de expectativa.
A intensa vivência com os movimentos sociais me fez compreender que as políticas públicas bem sucedidas só acontecem quando as definições são resultantes da participação da sociedade civil organizada e, este será o princípio norteador de minha gestão na Fundação Cultural de Balneário Camboriú: a participação da sociedade civil organizada.

Para estes desafios tenho como
potencial16 a Equipe da Fundação Cultural e a Companheira do Partido dos Trabalhadores Guilhermina Stuker, Licenciada em História e Mestre em Educação, que assume a Diretoria de Artes. 

Desta forma, convoco os artistas, profissionais da cultura, as cidadãs e os cidadãos praianos, para que juntos possamos expressar o cenário
para17  a cultura que queremos, no qual cada cidadão, cada cidadã desfrute de espaços culturais adequados as  18 suas manifestações; que tenham oportunidade de acessar, criar e consumir o produto cultural que desejar19 , que sejam disponibilizados cursos para as diversas linguagens e que as escolas, pela 20  parceria com a Secretaria da Educação, irradiem cada vez mais arte e cultura.

Concluo agradecendo ao Sr. Prefeito a oportunidade de fazer parte do seu governo, aos Presidente anteriores Eduardo Torto Meneghelli e Paulo César Brito de Oliveira pelo trabalho desenvolvido até então.

Agradeço também a presença de todas e todos

Um forte abraços e desde já obrigado por assumirem o compromisso com a Cultura em Balneário Camboriú
.

AGORA, AS CORREÇÕES:

1 - sem necessidade.
2-  “Não é autor que se cite”, como dizia também Eduardo Portela, que foi citado indiretamente.
3- "que estão apresentados para o Setor da Cultura e o Governo Municipal" Sintaxe equivocada. Ou seria: ...que estão sendo apresentados pelo Setor da Cultura e do Governo Municipal... ou seria: ...que serão apresentados pelo Setor da Cultura e do Governo Municipal. Em ambos os casos, por que a “imensa satisfação” ?
4 -  “pessoa humana”. Haverá pessoa que não seja humana?
5 -  é essencial para a pessoa humana a educação, o trabalho, a sustentabilidade, a cultura, a ciência, a tecnologia, a saúde, o meio ambiente e incluo a militância política. Qual é o sujeito de é ? Resposta: a sustentabilidade, a cultura, a ciência, a tecnologia, a saúde, o meio ambiente e incluo a militância política. Logo, o verbo SER deverá estar no plural, assim: são.
6 - Corrige-se para às.
7 - Comentário: isso é óbvio!
8 - Corrige-se para à.
9 - Corrige-se para ...estimulem e valorizem . (Houve um crasso erro de concordância).
10 - "propor e desenvolver uma proposta"Vocabulário redundante.
11 - Corrige-se para à.
12 - Corrige-se para a.
13 – Um – e - a mais, antes de gerúndio.
14 - habilitarmo-nos e não habilitarmos.
15 - ( ....) = que temos (ou coisa parecida, para fazer sentido).
16 - potenciais e não potencial (erro de concordância).
17 - de, em vez de para.
18 - às suas em vez de as suas.  
19 - desejar – errado. Deve ser desejarem.
20 - pela . Errado, corrija para  em.

Então, eu pergunto. 

CULTURA ?  QUE CULTURA ?


ATÉ A PRÓXIMA,

Um comentário:

THEREZA FISCHER PIRES disse...

Oi,Professor
É incrível a quantidade de erros cometidos pelos homens públicos, locutores e etc.
Eu fico tão chocada, imagino o senhor.
A cultura foi para o brejo.

Outra coisa: aquele e/mail "LATIM" não abre no Macintosh...

Fiquei com pena porque estudei Latim durante meus sete anos de Colégio Pedro II,sei a importância e não entendo o desaparecimento nos atuais currículos.

Além disso, fui alfabetizada em alemão em 2001,por exigência do Consulado para obter certos direitos que a condição de expatriado e prisioneiro político de meu pai -quando de meu nascimento- me concede.

O Latim ajudou bastante. A estrutura do idioma alemão, como o sr sabe,segue o mesmo modelo :existem declinações, existem 3 gêneros e, à cada ,preposição corresponde um artigo declinável,sem a menor lógica.

Complicadíssimo,mas segundo meu querido prof Hans, com quem tenho aulas de conversação semanais para não perder a fluência," pracctticarrr actifffa cerrébrrro"
Boa semana deseja esta sua grande admiradora.
Tricolormente,,
Thereza

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.