COMENTÁRIOS
LINGUÍSTICO-LITERÁRIOS
Já escrevi que hoje em dia, é enorme a produção
de trovas de todos os tipos, sejam filosóficas, líricas ou humorísticas. Mas bons textos, boas crônicas, contos inteligentes e empolgantes, poemas
envolventes, belas trovas ou até mesmo escritos como estes de Sérgio Antunes são raros, mas surgem, muitos nas páginas da internet. Sérgio Antunes é poeta e escritor. Dizia ele, uma vez, que um trovador e repentista de Pindamonhangaba vivia
fazendo versos que falavam do céu de anil, das moças garbosas, de sinos da
igrejas, de tudo, enfim. Um dia, estava esse trovador num bar da cidade, com uns amigos, quando entrou
a Rosa. Rosa era a mulher do Lino, o
farmacêutico local. Ninguém precisava descrevê-la: era um monumento! Uma gostosona, com o perdão da palavra. Aí os amigos provocaram.
"Não vai fazer uns versinhos pra Rosa?" E ele fez:
"Com seu corpo de violino
e seus pudores precários,
Rosa, a mulher do Lino
virou a extra de vários".
Esse tipo de humor não se vê com
facilidade. Certamente, Ademar Macedo bateu palmas lá do céu ao lado de seu
santo que agora não fica mais de porre! É raro um texto igual a esse, mas é uma
delícia! Esse Sérgio Antunes também é muito bom,! Que tal esse seu quarteto, em
decassílabos?
“Nervosa? Perguntei o que é que houve
e ela pediu que eu tocasse nela
e eu, obediente, toquei nela,
a quinta sinfonia de Beethoven”.
Mas, para quem gosta de trova
reflexiva (será que alguém se "trovará" algum dia? Entenderam, né?), lá vai uma,
citada, ainda, por Sérgio Antunes:
"Trova, conto de um canto,
poça d'água sobre o chão,
tão pequenina e entretanto,
reflete toda a amplidão".
E continua esse mesmo autor com
seu repertório de “causos” poéticos, envolvendo trovas de preciosíssimas
construções. Diz ele: "Na Bahia houve um concurso para fazedores de
trovas. Mas era preciso rimar com "lâmpada". A dura regra que afastou
os concorrentes teve um ganhador:
"Dizem que certo vigário
encomendou uma lâmpada
para homenagear a estampa da
Virgem Santa do Rosário".
Saída sensacional. O trovador
usou a sílaba átona da combinação da preposição
- DE - com o artigo feminino - A
- como parte integral de um vocábulo
fonético proparoxítono, formado por uma palavra paroxítona ESTAMPA, que cedeu
sua sílaba tônica TAM para formar o vocábulo fonético proparoxítono “ESTAMPA DA”. É ou não é criatividade poética? Um caso
raríssimo de “anacruse invertida”. Seguem, agora, uma série de
trovas e poeminhos muito bem construídos, todos com “raricidades” e alguns “estranhamentos”,
quer na semântica, no estilo ou no ineditismo da construção.
PAULO LEMINSKI:
Todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem.
Só está faltando um pouco
pra eu ser tratado também.
O jogo semântico do verbo TRATAR
é que dá à trova o humor característico da poesia satírica de Paulo Leminski.
ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO:
Brigas de amor têm segredos,
e eu juro que me comovo
ouvindo os nós dos teus dedos
batendo à porta de novo...
O segredo das brigas de amor é a
reconciliação. Ou o arrependimento, que surge por uma poética hipálage.
AMALIA MAX:
Relógio, fique parado!
Não deixe o tempo passar...
Eu quero ser enganado
quando a velhice chegar!
A teoria da relatividade pode ser também
explicada pela poesia.
CASTRO ALVES:
Na hora em que a terra dorme
enrolada em frios véus,
eu ouço uma reza enorme
enchendo o abismo dos céus...
Todos os sintagmas se entrelaçam
em suas constelações semânticas (terra dorme – frios véus – reza enorme –
abismo dos céus).
CECÍLIA MEIRELLES:
Sou mais alta que esse morro,
mais vasta que aquele mar.
Há muito que me percorro
sem me poder encontrar.
Quem tem a consciência da grandeza ou se torna um ser esnobe, ou vira
poeta.
DENISE CATALDI:
Deu muita sorte a vizinha
pulando o arame farpado,
pois só rasgou a calcinha:
o principal foi poupado!
O humor erótico contempla nosso
imaginário lírico, desde os trovadores medievais, e está registrado nos vários
Cancioneiros. Natália Corrêa, também, o registra em sua magnífica
antologia.
FERNANDO PESSOA:
Autopsicografia
Fenômeno psicológico por que
passa o poeta no ato da criação artística, portanto é a sua Arte Poética.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
É o axioma. A poesia não está na
dor sentida, mas no fingimento dela. A dor real, para se elevar ao plano da
arte, tem de ser fingida, imaginada, tem de ser expressa em linguagem poética,
transfigurada.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
Aqui, o poeta alude à fruição artística da
parte do leitor. O leitor não sente a dor real (inicial), que o poeta sentiu,
nem a dor imaginária (dor em imagens) que o poeta imaginou, nem a dor que eles
(leitores) têm, mas só a que eles não têm. Isto é, o que o leitor sente é uma
quarta dor que se liberta do poema, que é interpretado à maneira de cada um.
Há, portanto referência a quatro dores: 1ª) - a dor sentida (real); 2ª) - a dor fingida pelo poeta; 3ª) - a dor real do leitor; 4ª) - a dor lida (dor intelectualizada, que provém
da interpretação do leitor e que é objeto da sua fruição, na linha do prazer do
texto de Roland Barthes e da perversão de Freud.
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
É a conclusão: o coração (símbolo
da sensibilidade) é um comboio de corda sempre a girar nas calhas da roda (que
o destino fatalmente traçou) para entreter a razão. Há aqui uma referência à
função lúdica da poesia, que começa na fruição de que o próprio poeta goza, no
ato da criação artística. São aqui marcados os dois polos em que se processa a
criação do poema: o coração (as sensações donde o poema nasce) e a razão (a
imaginação onde o poema é inventado). Fecha-se neste fim do poema como que um
círculo cuja linha limite marca uma pista sem fim em que nunca se esgota a
dinâmica do jogo sensação-imaginação.
GUILHERME DE ALMEIDA:
Tudo muda, tudo passa,
neste mundo de ilusão:
vai para o céu a fumaça,
fica na terra o carvão.
A poesia transcendental de G. de
A. mostra a antítese entre a vida e a morte. É o “revertere ad locum tuum”.
J.G.DE ARAÚJO JORGE:
Rosas tolas, tão vaidosas,
que em belas hastes vicejam...
Vem, amor, olha estas rosas,
quero que as rosas te vejam!
O poeta antecipa ao leitor a beleza maior de
sua amada e está nisso a grandeza e o encanto da trova de J.G.
NEWTON VIEIRA:
Ficou mais lento o meu passo?
Caminharei, mesmo assim!
Só temeria o cansaço
se me cansasse de mim...
A repetição do radical presente
no deverbal “cansaço”, espelhado no verbo “cansasse”, com a aliteração do
fonema / s / nos vocábulos “passo”, “assim”, “só”, “cansaço”, “se”, “cansasse”,
dão ao pequeno poema a sensação de um ritmo arrastado, unindo forma e
significação a essa sugestiva forma de poesia, a trova.
RAUL DE LEONI:
Duas almas deves ter...
é um conselho dos mais sábios:
uma no fundo do ser,
outra boiando nos lábios.
Raul de Leoni é, em geral, um
nome desconhecido, porque, parece, não pertence a uma escola de estilo de época
definido. Não foi eleito pelo modernismo e foi aplaudido pelo parnasianismo e
pelo simbolismo. Raramente é estudado nas escolas de segundo grau e seus textos
não caem nos Vestibulares. R. de L. não é parnasiano, não é simbolista, não é
modernista. Rodrigo Melo Franco, no prefácio à segunda edição de seu livro Luz
Mediterrânea, o caracteriza como ''poeta das ideologias ou das abstrações.''
Sua poesia transfigura a emoção que nasce das ideias e transfigura as ideias
que celebram a razão. Raul de Leoni concilia o dionisíaco e o apolíneo, como no
ideal nietzschiano. Quem gosta de Alberto Caeiro e de Ricardo Reis (de Fernando
Pessoa), tem uma boa chance de apreciar Raul de Leoni.
E fechando esta apresentação,
fiquemos com os poemas de Mário Quintana:
(Quadra em decassílabos)
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
As rimas preciosas do primeiro
verso com o terceiro, e do segundo verso com o quarto dão à quadra, formada por
decassílabos, uma formatação primorosa, podendo-se classificá-la como
magistral.
- II -
POEMINHO DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Esse conhecidíssimo poema de
Mário Quintana pode ser classificado como um perfeito estranhamento poético. O
estranhamento em literatura consiste em ser criado um texto para nos distanciar
da forma como apreendemos ver o mundo e a própria arte, fato que só o olhar
estético pode visualizar. É uma forma de se desfamiliarizar os objetos e os
fatos, reconstruindo-os estruturalmente com mais sofisticadas e trabalhosas
formas linguísticas, passíveis de percepção, pois o processo de entendimento
estético é um fim em si mesmo e deve ser prolongado. Indicamos a leitura de Vicktor SHKLOVSKY, (1893-1984. “A arte como processo”. Para uma tomada rápida a respeito desse assunto, consultar Tzvetan TODOROV, in, "Teoria da
Literatura", I, Lisboa: Edições 70, 1999. Desta forma, um estranhamento da
linguagem força os indivíduos a reconhecer que existe uma outra linguagem, a
artística: ou seja, a que vai eliminar, na tradução simbólica, o automatismo da percepção. Seu objetivo é o
de criar uma visão que resulta de um entendimento (des)automatizado das coisas.
O estranhamento tira de cena a familiaridade das coisas com ou sem os componentes
linguísticos que constituem a narrativa. Machado de Assis, em Esaú e Jacó, diz
que “a ocasião faz o furto, o ladrão já nasce feito”, contrariando o ditado
popular de que a ocasião faz o ladrão. Portanto, vê-se que o “texto literário
escapa das medidas do previsível, fala do mundo mediante uma imagem do mundo,
permitindo a apreensão do real pela imaginação”. É o que faz Mário Quintana,
nesta escritura, Poeminho do Contra. O poeta conjuga a forma verbal do verbo
PASSAR, “eles passarão”, completando o sentido dos dois primeiros versos e
termina com o estranhamento “Eu passarinho”, fundindo os radicais do verbo e do
substantivo numa conjugação insólita, improvável, desconstruindo a linearidade
do signo linguístico (Saussure), onde o substantivo “passarinho” se torna verbo
por deter o radical de PASSAR, porque,
ao mesmo tempo, contém um possível sufixo nominal, diminutivo, INHO, em
situação de oposição, por comutação, ao imaginário, também sufixo, aumentativo,
ÃO, de “Eles passarão”.
ATÉ A PRÓXIMA
Um comentário:
Nunca vin un milagre coma este en toda a miña vida, busquei unha solución para quedar embarazada durante máis de 8 anos despois do matrimonio, tentei todo o posible pero nada funcionou ata que vin unha proba en liña de como o doutor Fady axudou a moitas mulleres a quedar embarazada. embarazada da súa poderosa maxia, escribín e expliquei a miña situación, el prometeu axudarme e quedaría embarazada hai 1 mes, fixen todo o que me ordenou e fun ao hospital para unha mensaxe e o médico confirmou que teño 5 anos. días de embarazo, ata agora dei a luz ao meu fillo guapo, o meu marido está feliz agora e dáme todo o que pido, grazas ao doutor Fady póñase en contacto con el se precisas axuda.
* Se queres quedar embarazada.
* Se queres recuperar o teu mozo.
* Se queres parar o aborto.
* Se queres poder espiritual.
* Se queres facerte famoso.
* Se queres curar algunha enfermidade. Como o VIH/SIDA
E.T.C.
Correo electrónico: drfady720@Gmail.com
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