Eduardo Meneghelli Júnior está relançando seu livro de poesias Borbulhos Mentais, pela Nova Letra, Editora. São quase cem poemas em versos livres, na linha modernista do poema-processo, com recorrências formais e uma formatação que lembra as espirais de Cassiano Ricardo, em Jeremias sem Chorar e Haroldo de Campos em seu concretismo barroco. A estrofação se apresenta com versos livres e curtos, predominando os versos de cinco e sete sílabas, as redondilhas menor e maior. Em sua figuração concretista, quase sempre relaciona formas a conteúdos, num sentido primeiro para a vista e, posteriormente, para a reflexão. Assim, fundo e forma se harmonizam nos versos autóctones e populares da lírica occitânica. A forte figura materna está presente em toda a obra, surgindo de forma explícita ou de forma velada. Mas a grande figura de mulher que assume o lugar de musa inspiradora é sua esposa. A ela logo se dirige, numa declaração manifesta de amor, no poema Pensando... “Quero e vou amar você./Sandra!” Nesse poema os versos em redondilha maior predominam, vindo em seguida os em redondilha menor. Contudo, a metrificação não obedece a nenhum padrão, o que não significa perda de qualidade, pois o fluxo borbulhante do pensamento poético de Eduardo Maneghelli Jr. é mesmo assim. Vem surgindo através de fluxos e refluxos interpretativos de sua realidade. Sua poesia (Poesia Vida) é como sua vida, um poema que pode trazer tanto a paz, a calmaria e a alegria, como a tempestade, a discórdia, o sofrimento. Sua vida é uma transgressão a inúmeros padrões estéticos, assim como sua poesia, eivada de um barroquismo conflitual, não entre o espírito e a matéria, mas entre o amor e a dor, beirando o realismo fingido: “O amor não existe, é uma ação/de duas pessoas que se encontram/e descobrem que quem manda é o coração,/por isso existe o sentimento:afeição!”. Eduardo é um apaixonado pela vida. Os títulos de seus poemas isso denunciam manifestamente. Assim: Apaixonado; Sonho; Para Você Especial; Amor, por exemplo. Para o poeta, o mundo é muito pequeno e ele não cabe mais aqui, por isso, no poema Vou ou Não? , cuja concepção gráfica é “sui generis”, cópia xerocada de uma folha de caderno espiral em texto cursivo, Eduardo prepara a fuga, sonhando e dizendo “Vou por uma perna/para fora do universo!”. Termina o poema quando a ilusão desaparece: “Só em pensar/em acordar/e ter que/voltar à realidade...” O poeta tem aí o seu escapismo bem nitidamente marcado. Portanto, a poesia de Eduardo Meneghelli Jr. passa, nesse seu livro Borbulhos Mentais, pelo artifício gráfico dos recursos concretistas e também por uma vereda semiológica, que deve ser explorada, numa leitura minuciosa, pois esses recursos introduzem, sem dúvida alguma, novos significados à escrituração, produzindo inúmeras formas expressivas, que merecem uma exaustiva análise literária, tanto no campo dos significados, como no domínio do significante lingüístico. Mas isso será para outra ocasião. Aproveite, leitor, esses Borbulhos Mentais de Eduardo Meneghelli Jr. e veja se não é isso mesmo!
ATÉ A PRÓXIMA
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