Em uma reunião entre amigos, num fim
de semana, num boteco de características germânicas, pois estamos, agora, em
Blumenau, tudo regado a boa caipirinha com Steinhaeger e cerveja artesanal, o que
não podiam faltar eram os petiscos à base das famosas salsichas Bratwurst e muito bom papo-furado.
Conversa vai, conversa vem, me
perguntaram se a língua alemã veio também do latim. Eu disse que não, tem
outras origens, mas o latim, num determinado período da história do ocidente,
se defrontou com a língua dos bárbaros germânicos. Pronto! Foi o que faltava
para chover colocações, as mais estapafúrdias possíveis sobre a história de
nossa língua portuguesa e seu penoso caminho até às margens do rio Itajaí-Açu,
que banha esta bonita cidade catarinense, fundada pelo filósofo e farmacêutico
alemão Hermann Bruno Otto Blumenau, que por estas bandas chegou, em 2 de
setembro de 1850.
Então, atendendo a pedidos e contando
com a paciência dos amigos, disse-lhes que o português é uma língua neolatina,
ao contrário do alemão, que pertence ao grupo germânico-holandês, ramo
ocidental das línguas germânicas. Mas ambas pertencem também à família das línguas indo-europeias.
O português, portanto, é uma língua neolatina
ou novilatina, porque se originou do latim, ao contrário do alemão que se
prende às línguas germânicas do mesmo ramo indo-europeu do qual o latim também faz
parte.
O latim era falado no Lácio, região situada
próxima à desembocadura do rio Tibre, na Península Itálica. Com o tempo, os
romanos ou latinos passaram a dominar não apenas toda a Península Itálica, mas
também a chamada Península Ibérica, atualmente constituída por Portugal e
Espanha. As populações vencidas e romanizadas, aos poucos, deixaram de falar os
seus dialetos, aceitando a língua dos conquistadores, por ter essa maior
expressão cultural.
Até aqui todos acordados e a cerveja
corria frouxa...
Vários povos habitavam a Península
Ibérica antes da chegada dos romanos, no século III antes de Cristo, por ocasião
das Guerras Púnicas.
Aí tive de fazer um parêntese, para
dizer que esta guerra se travou entre Roma e Cartago, no norte da África e que
o púnico era um dialeto falado pelos cartagineses.
Meu amigo Caldeira bateu palmas e
disse que eu estava absolutamente certo, mas falou isso já com um sotaque meio
alemãozado...
Continuando, disse que entre os povos
que habitavam a Península Ibérica, os mais importantes eram os celtas e os
iberos, que formavam a civilização celtibérica. Mas esses povos, aos poucos,
foram também, abandonando os dialetos que falavam, recorrendo ao latim – o chamado
latim vulgar - , língua implantada na Península Ibérica pelos romanos, povo de
civilização superior.
Mais palmas... Mais cerveja!
No século V depois de Cristo, os
bárbaros, povos germânicos, invadiram a Península Ibérica, sobretudo os
visigodos, mas não conseguiram impor os dialetos que falavam às populações
militarmente vencidas, por serem de civilização inferior à dos romanos. Os
romanos foram vencidos em armas, mas mantiveram sua língua. E também seus
hábitos, crenças, costumes e sistemas políticos de governo.
Nessa altura do campeonato, tive de
parar para sorver uma Eisenbahn geladíssima. Wunderbar!
No século VIII, foram os árabes que
invadiram a Península Ibérica, mas igualmente não conseguiram impor a língua
que falavam aos habitantes da península, pois o latim e o árabe são idiomas de famílias
linguísticas diversas, tornando-se difícil qualquer interpenetração entre eles.
De qualquer forma, o latim vulgar, falado até então, na Península Ibérica,
recebeu vários empréstimos linguísticos dos dialetos germânicos e do árabe,
sobretudo e quase todos, empréstimos vocabulares. A rigor, mesmo, no século
VIII, na Península Ibérica, já não se falava propriamente o latim vulgar, mas
sim o chamado ROMANÇO ou ROMANCE, língua intermediária entre o latim vulgar e
uma língua neolatina futura.
Aí é que a turma explodiu, levantando
os copos e exclamando: Gesundheit
! Gesundheit ! Gesundheit !
E foi do ronanço falado na parte
ocidental da Península Ibérica que surgiu o português, inicialmente ligado ao
galego, língua falada na Galiza, hoje província espanhola, mas de clamores
separatistas...
Algumas palmas, mas com pouco
entusiasmo, pois o Chopp estava fazendo efeito...
Era o chamado galaico-português, e
nesse idioma surgiram as primeiras manifestações literárias do povo que nos deu
origem: as cantigas trovadorescas da Idade Média.
Como se sabe, a nacionalidade
portuguesa foi fundada no século XII, por Afonso Henriques, época dos primeiros
documentos literários escritos em português. Do século XII ao XV, tem-se a fase
do português arcaico.
Bem, o último da turma que ainda
estava acordado, puxou um ronco firme e eu tive de pagar a conta...
ATÉ A PRÓXIMA
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