Muitos dos meus amigos professores
que trabalhavam no Ensino Médio Oficial do Estado do Rio de Janeiro e em colégios
particulares já não mais estão entre nós. Muita saudade! Mas, também, muita
admiração pelo trabalho abnegado desses meus colegas de profissão, que com
denodo e sabedoria largavam o couro no elevado tablado das salas de aula, com
baixíssimas remunerações. Mas compensava o sacrifício. É verdade, sempre foi
assim, mas a minha geração sacudiu o ensino Médio das décadas de 70 e 80.
E como se produzia! Estávamos
constantemente nos aperfeiçoando em seminários, congressos, simpósios nas
universidades públicas, como a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade da UFRJ e a do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ, ali, colada ao
Maracanã, erguida na antiga Favela do Esqueleto. Não havia, ou melhor, os
Cursos de Especialização, Mestrado e Doutorado eram incipientes, engatinhavam
ou não tinham saído do papel. O máximo, mesmo, eram os Congressos de Língua e
Literatura, tanto os da UFRJ como os da UERJ. Estive presente em muitos, lá na
Avenida Chile, na Faculdade de Letras da UFRJ e na UERJ, no 11º andar, no
Instituto de Letras.
A grande deficiência dos alunos, nas
aulas de Português, estava na interpretação dos textos. Creio que ainda hoje
muita gente não entende ainda o que lê. Mas a culpa sempre caía sobre os
professores. Lembro-me muito bem de três amigos professores, ou professores
amigos – e aqui a dialética machadiana é importantíssima, pois desaparece a
dicotomia – que se batiam incessantemente
contra a falta de compreensão dos alunos para com os textos que eram lidos em
sala de aula e que constavam das provas finais de cada ano. Um horror!
Então, Antônio Jesus da Silva, José
Ricardo da Silva Rosa e Roberto Augusto Soares Leite resolveram atacar o
problema de frente e de verdade. Nunca, em suas aulas, deixavam de desenvolver os
conteúdos programáticos, sem um texto da literatura brasileira, bem conhecido
de todos, para motivar e testar o entendimento do que se lia e do que,
gramaticalmente, se desenvolvia e se explanava. Muitas vezes traziam
mimeografadas as letras das músicas de maior sucesso, tocadas no rádio e
aplaudida pela juventude nos programas de televisão. Suas aulas foram se
transformando e eles conseguiram, em pouco tempo, laçar, pela Companhia Editora
Nacional, de São Paulo, uma coleção memorável, que muitos alunos daquela época
usaram nas aulas. Muitos professores, no início de suas carreiras, adotaram os
três volumes do “Português Interpretação”
de Jesus, Ricardo e Roberto. Pois é! Tive até um poema de meu livro, Morro Que Morre, trabalhado no Segundo
Volume: Escola de Samba. Eu sabia que
muitas gerações pelo Brasil a fora estudara a língua pátria nesses livros sensacionais
de meus amigos, mas hoje me emocionei, quando neste sábado ensolarado de
inverno, petiscando no Mercado Municipal de Itajaí, Santa Catarina, vi,
estendido num sebo ao ar livre, placidamente irradiando um enclausurado conhecimento de linguística textual, aquele livro
amarelecido, um dos três volumes do famoso e inesquecível “Português
Interpretação”. Comprei-o.
Folheando-o, antes do Texto Nº 1, Cena Carioca, de Carlos Drummond de
Andrade, na página 6, percebi nomes apagados e, sobre eles, ainda,
possivelmente, de quem o usou pela
última vez: Suely Cruz e Maria Eunice Nonato. Talvez, duas jovens estudantes
ginasianas, que escreveram seus nomes nas páginas mágicas de um livrinho tão incrível como os palimpsestos históricos, que continuam até os dias atuais irradiando
conhecimento e emoção.
ATÉ A PRÓXIMA
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