Lendo com atenção o folheto,
Boletim Nacional, que recebo mensalmente da União Brasileira de Trovadores,
presidida por Domitilla B. Beltrame, chamou minha atenção a matéria de Dalva
Ventura, articulista do Jornal A VOZ DA SERRA, de Nova Friburgo, RJ, um excerto
de seu artigo intitulado “Rodolpho Abbud, uma rara unanimidade”, artigo este
que foi publicado em 30 de janeiro de 2009 e agora adaptado e atualizado por JB
Xavier. Também mereceu minha atenção o texto de A.A. de Assis sobre “O
Prestígio da Trova”. Achei realmente interessante, não que alguém ainda tenha dúvida se esta forma lírica de
versejar seja ou não um significativo gênero literário. Claro que o é. Em seu
texto, A.A. de Assis fez referência a duas grandes figuras do cenário cultural,
relacionadas aos estudos a que me dedico: a Literatura e a Filologia. O
articulista, poeta e exímio trovador, pertencente à União Brasileira de
Trovadores, mostrando o prestígio da trova, transcreve um pequeno trecho da
segunda parte do discurso de recepção a Adelmar Tavares, na Academia Brasileira
de Letras, pelo acadêmico, o filólogo, Laudelino Freire, intitulada A Trova.
Transcrevemos o texto completo de Laudelino Freire:
“Tanto
que surgiu, revelou-se a trova poesia rigorosa na técnica, na rima e sonoridade
rítmica. Aperfeiçoou-se na beleza dos temas, na agudeza dos conceitos e na
harmonia das palavras. Cultivaram-na finos espíritos entre nobres e burgueses,
reis, damas e monges, e foi nesse ambiente de aristocracia que se desenvolveu
até chegar à perfeição, sem se desvestir da nobreza das suas origens,
Da
antiga província romana, onde nasceu para a nossa língua, emigrou como alva
flor, para, perfumando a ate noutros meios, entreabrir-se asos brincos da
fantasia.
Modo natural e simples de poetar, é a expressão mais
espontânea dos sentimentos que o amor inspira. Será sempre, por isso, poesia do
coração, na qual apenas entra a arte para enfeitá-la com as pompas da forma,
que, apurada e perfeita, só pensamos encontrar nos vates, em quem, delindo-se a
imaginação, a métrica artificiosa supre os primores da originalidade e do
sentimento” (Apud, CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia Brasileira de
Letras. Trinta anos de discursos acadêmicos: 1897-1927, W.M. Jackson Inc,
Editores, Rio de Janeiro, S.Paulo, Porto Alegre, 1958, p. 431) .
Assim, percebe-se que a trova é
uma composição eminentemente romântica, aliás como Laudelino Freire a
considera, na primeira parte de sua saudação ao novo acadêmico, quando tece
considerações à obra de Adelmar Tavares, considerando-a guardiã de
significativos ingredientes românticos.
Isto posto, passaremos a algumas
e poucas considerações que considero importantíssimas sobre esta tão curta
composição poética.
Para que quatros versos heptassílabos
sejam considerados uma trova, é necessário, primeiramente, que haja rimas entre
eles. As rimas de uma trova deverão existir, rimando o primeiro verso com o
terceiro e o segundo com o quarto.
A trova, este poema de quatro
versos e de sete sílabas cada um, caracterizará uma estrutura formal, em
simetria rígida, mantendo um coerente paralelismo semântico entre os dois
dísticos que a formam. Aliás, o verso de sete sílabas, também chamado de
heptassílabo ou redondilha maior é o mais popular da lírica portuguesa,
correspondendo à plena espiração do ato da respiração. Joaquim Ribeiro dizia
que até os xingamentos são efetuados em redondilha maior... Assim é que, com esses
paralelismos e simetrias conclusivos, os grandes poetas versejaram e versejam suas trovas.
Por fim, as trovas devem exercer
o fascínio pelo belo, explorando o lirismo romântico contido nos temas que abordam, podendo,
entretanto, ressaltar aspectos filosóficos e, por desvio de abordagem, o
aspecto humorístico.
Mas, para que essa receita
funcione, seu autor deverá trabalhar com as várias funções da linguagem,
privilegiando o conotativo sobre o denotativo, onde a metáfora, mãe de todas as
figuras de linguagem se fará presente, emocionando, transfigurando a realidade
e criando novas formas significativas.
Eis a receita para se alcançar o
belo. Fácil? Diga SIM aquele que nunca sofreu para encaixar tudo isso em quatro
linhas rítmicas que transgridem o mais significativo de todos os códigos da
vida: código da linguagem.
ATÉ A PRÓXIMA
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