A esquerda brasileira é
esquizofrênica, porque toda ela: os políticos, os filiados ao partido dos
trabalhadores, os filiados ao partido comunista brasileiro, a grande
maioria de professores e intelectuais sem muito preparo, todos sofrem de
psicoses endógenas, apresentando sintomas claros de dissociação entre suas
ações e aquilo em que realmente acreditam e pensam. Teoricamente são um
desastre, tanto quando explicitam teorias equivocadas, e também quando tentam praticar algo de real mérito e sempre apresentam
alucinações ao analisar e discutir o quadro político atual de nossa enxovalhada
república. Invertem tudo, em delírios persecutórios, querendo acreditar no que
pensam ser, enquanto produto do delírio de serem, o que na realidade, ou no real,
não são e nunca foram.
Existe um trabalho irreparável sobre política,
incidindo sobre a ótica psicanalítica, na visão de Jacques Lacan, do Prof. Dr.
Antônio Sérgio Lima Mendonça (*), que inicia mostrando a diferença entre Discurso do Capitalista e discurso
capitalista. Aquele seria o quinto discurso de Lacan, após acrescentar o
discurso de Fazer Desejar, o quarto,
a partir dos três ofícios impossíveis de serem realizados, que Freud
nomeou como os Ofícios de Governar,
de Psicanalisar e de Educar. Talvez, e com toda certeza, seria também
implicado como impossível de ser realizado, tal como os quatro outros O trabalho se fundamenta em um texto de
Jacques-Alain Miller, genro do mestre da psicanálise pós-freudiana.
Então, vamos lá. O discurso
capitalista trata de enriquecer, enchendo as burras de dinheiro e nunca desejar. Toda
atividade humana visa à acumulação. A acumulação torna-se o mais-gozar do
capitalismo. Aqui, Antônio Sérgio vai fundo na crítica aos universitários dos
anos dourados, que hoje são os professores de plantão nas “ocupações” das
nossas desprestigiadas e enfermas universidades. Diz ele: “Os que já leram O Capital (Kals Marx), que é um dos livros, no Brasil,
mais citado e menos lido, no livro 10 do tomo I vão encontrar aquele texto que
enfeitiçou a nossa universidade, nos anos 70, chamado! Fetichismo da mercadoria”.
Aí apareceu um bando de “criativos de plantão”, atribuindo ao termo marxista fetichismo
o status de termo freudiano, o que era e é um equívoco. Fetichismo quer dizer
lá, em alemão, feitiço. Marx estava falando do feitiço da mercadoria, ou seja,
da capacidade que a mercadoria teria no capitalismo de enfeitiçar as pessoas ao
equivaler trabalho e valor. E essa capacidade da mercadoria de enfeitiçar se
devia ao fato de a mercadoria ter um duplo e indissociável aspecto: ser um
elemento econômico e ideológico ao mesmo tempo. Isso seria uma forma de, a
juízo de Marx, dissimular o que ela chamava de mais-valia. E o que ele chama de
mais-valia tem um lado algo meio “datado”, o que é um erro, hoje em dia
(desculpem-me por chamar Marx de “equivocado”) e tem um lado estrutural que
continua correto.”
Assim sendo, percebe-se que o
capitalismo do século XIX não é igual ao capitalismo de nosso século. Era
outro. O capitalismo atual é bem diferente. Os serviços são tecnologizados e os
salários não são, necessariamente, pagos por horas e sim por outras muitas formas
de recebimento.
Mais tarde Rosa Luxemburgo, uma força
emergente e contraditória aos princípios marxistas, pois espartaquista, acrescentaria,
conceitualmente, algo importante no capital, outra forma de entender a
acumulação. Para Marx, a acumulação capitalista é o produto da mais-valia,
porque a mais-valia surge do não pagamento do valor do trabalho no preço da
mercadoria. Eis o básico e primeiro princípio da acumulação. Já para Rosa Luxemburgo, não é a acumulação que vai gerar o
capitalismo. É o próprio capitalismo que
que vai gerar a acumulação, no mundo que se internacionaliza. Um modo de
expansão do capitalismo, como pensou, muito perto do conceito atual, nesse
mundo globalizado de hoje, para sermos bem precisos e redundantes.
Será que percebemos que não há
sistemas políticos no mundo atual que não tenham se submetido ao princípio da
acumulação capitalista? Tanto no sentido econômico como nos mais amplos
sentidos. O Discurso do Capitalista será um modo de pensar e não um modo de
produção. Isso pode ser verificado porque os lacanianos sabem que é o discurso
que rege o mundo e não, como pensavam os marxistas, que o capital que fala fosse
uma superestrutura da realidade econômica, como argumente e afirma Antônio Sérgio.
No Discurso do Capitalista não há lugar para os perdedores, aqueles que não foram
bem sucedidos na lógica da acumulação.
E o autor desse precioso trabalho,
LACAN, A PSICANÁLISE E A POLÍTICA, termina, para deixar bem claro - acrescentamos nós - a essa esquedopata pseudo-intelectual
brasileira, das ocupações universitárias sem sentido de honra, vergonha e
impudência “que no capitalismo hodierno,
a moral só surge para condenar o malsucedido, e o Estado de Direito e a
democracia para legislar e/ou legitimar a sua condenação; o que nos candidata
ao sentido que, alguns pensadores, inspirados retroativamente, como Giorgio
Agamben, nos conhecimentos filológico-linguísticos de Émile Benveniste,
chamaram de Homo Sacer, ou seja, a exclusão como reversão da santidade,
como forma de evitação do serviçal, na qual o sacro perde a intocabilidade e
passa a ser passível de ser morto, malgrado a ordem jurídica vigente: trata-se
de algo próximo do “linchamento moral” e/ou do “assassinato cultural”. Portanto,
tão moderno quanto agora, assim pode-se terminar esse texto-resenha.
·
MENDONÇA,
Antônio Sérgio Lima. CAPÍTULO 5. Lacan, a psicanálise e a política, IN Lacan com Freud: A cultura e o mal-estar
civilizatório. Companhia da Freud, Rio de Janeiro, 2010, págs. 75-92.
ATÉ A PRÓXIMA
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