Um amigo que muito considero por sua formação humanística,
além de excelente músico, mestre em prolatar discursos afinados com a ética na
política, usou certa vez, em postagem nas redes sociais a expressão “em cântaros”. Meu amigo Eduardo! Essa
expressão que você usou "o céu
derrama-se em cântaros" é uma metonímia perfeita. Digo-lhe que isto me
lembrou uma aula dada, há muitos e muitos anos, num colégio religioso, lá na
Rua do Catete. Era o famoso Santo Antônio Maria Zaccaria. CÂNTARO é um nome de
origem grega, KANTARÓS. Pena que eu não tenho recursos técnicos para usar aqui aqueles
caracteres da língua de Homero, a fim de dar maior credibilidade às minhas elucubrações
filológicas. Mas seria: KAPA + ALFA + NI + TAU + ALFA + RÔ + ÓMICRON + SIGMA). Chegou
ao português pelo latim CANTHARUS, que significa, entre outras coisas da mesma
constelação semântica, vasilha grande de beber, bojuda e com alças; bilha
grande; grande cangirão. O que predomina neste significante é o "SEMA" COISA
GRANDE. Portanto está nítida a figura de linguagem, conhecida como METONÍMIA,
isto é, o emprego, no caso, do continente pelo conteúdo. Pois bem, lembro-me
como se fosse hoje. Estava explicando isso a uma turma de 4º ano Ginasial (faz,
realmente, muito tempo. Tempo em que o ensino da Língua Portuguesa era, como se
dizia, puxado), quando passou pela porta da minha sala o senhor Luís, um
empregado fanho, parecendo abobalhado, muito religioso, que se autodesignava IRMÃO.
Era o Irmão Luís, que vivia sempre correndo de um lugar para ou outro, conhecidíssimo
em toda a escola, desdobrando-se em mil-e-uma atividade. Servia, também, especial
e particularmente ao Reitor da instituição, Pe. Vicente Adamo, homem austero, sisudo,
classificado mesmo como um bruto e não muito querido pelo corpo docente, além
de temido pela garotada de toda aquela conceituada instituição Barnabita de
ensino, da cidade do Rio de Janeiro. Levava o apressado Irmão Luís, numa bandeja ,um jarrão de água gelada para o Reitor,
quando, bem em frente à porta da minha sala de aula, levou um escorregão naquele
longo e muito bem encerado corredor, estatelando-se no chão com jarra e tudo. A
jarra voou pelos ares, naquele ambiente que respirava respeito e atenção de
todos os alunos, e entrou como um meteoro em minha sala de aula, indo estilhaçar-se
em cacos encharcados de água e gelo por todos os lados, junto ao quadro-negro.
Aproveitei a patética cena para a fixação da aprendizagem. Anos mais tarde, em Teresópolis,
encontrei numa farmácia, um médico que me reconheceu como seu ex-professor.
Disse-me, abraçando-me com carinho e emoção: “METONÍMIA É O EMPREGO DA PARTE
PELO TODO E DO CONTINENTE PELO CONTEÚDO. EXEMPLO: CHOVE A CÂNTAROS, COITADO DO
IRMÃO LUÍS, FICOU TODO QUEBRADO”. Meu amigo Eduardo, o magistério é a melhor
profissão do mundo... depois da de músico....
ATÉ A PRÓXIMA
Um comentário:
Olá! Fui procurar o significado dessa expressão e achei este texto lindooo....mais um incentivo para eu investir no Magistério. Obrigado!
Postar um comentário