Certa ocasião escrevi que pelo
interior do Brasil se multiplicam, com bastante vigor, associações culturais, dedicadas
aos mais diversos gêneros literários. São grêmios que pretendem perpetuar certa
forma popular de versejar; Uniões de cantadores de rondós; Sociedades de poetas
bissextos; Congregações de escritores malditos; Associação dos amantes do
soneto; União de veteranos trovadores; Academias de Letras que pretendem
difundir a literatura brasileira de um modo geral e, em particular, a regional,
além de tantas outras designações de agremiações e clubes, que tentam reunir,
por puro diletantismo, cidadãos interessados nas letras e artes. Nesses lugares
reúnem-se autores de textos grandes ou pequenos, em prosa ou em verso,
destinados ao público adulto ou infantil, todos ávidos por desfrutar da beleza
e do poder mágico dos escritos. São romancistas, poetas, letristas, travadores,
declamadores, atores, filósofos, professores, porque de escritor, poeta e louco
todos nós temos um pouco. Um pouco não!
Muito! Assim, esses espaços por onde alguma cultura circula, são vistos pela
comunidade como locais eminentemente articuladores de alguma forma de
desenvolvimento, sempre muito bem falado, e recebem até das autoridades
públicas constituídas uma forma de subsídio para seu sustento e, muitas vezes, recebem
também do município um local físico, para as suas reuniões. Mas o que fazem em
suas reuniões? Quase sempre se autopromovem, engalanados com o peito repleto de
multicoloridas medalhas, tendo, quase sempre, o pescoço inclinado pelo peso de
redondos medalhões. Em dias festivos sentam-se em cadeiras de espaldar elevado,
com suas medievais vestes talares doutorais, quase sempre se expondo ao
ridículo, pois muitos se orgulham de ter títulos de “Doutor Honoris Causa”, outorgado por uma entidade comercial, fora
do ramo acadêmico, ou se dizem portadores de “comendas”, compradas a prestação... Fardão verde-escuro e bordado a
ouro ainda não vi, mas presenciei muitos corpos risonhos e felizes, com seus
capelos compenetrados, em cerimoniais repletos de simbolismos, com velas e
fitas de muitas cores, enlaçando buquês de flores por cima de grandes e bonitas
mesas de mogno. Essas reuniões são interessantes e fazem bem aos olhos e
impressionam a população mais carente de cultura, de localidades afastadas das
grandes cidades ou de centros cosmopolitas. Mas, no dia-a-dia, parece que se
atêm a discussões administrativas ou a marquetear seus próprios escritos, sem nada
de produtivo realizarem em prol dos
objetivos estatutários, que todas essas agremiações lítero-culturais possuem. Contudo,
uma forma interessante de atuação seria a realização de palestras por parte de
seus membros para a própria comunidade, sempre reverenciando os grandes
escritores do país e mostrando como se vivia na época em que atuavam. Como
foram suas vidas, suas glórias, suas vicissitudes, seus exemplos e sua obra. De
fora desses grupos poderiam vir para ministrar palestras, críticos literários,
que, ao tomar conhecimento da produção dos componentes dessas diversas
associações, as analisaria e as difundiria em outras regiões, fazendo com que
as boas obras fossem conhecidas em outras praças, uma forma de aceleração
cultural importante, para o desenvolvimento geral, tanto da produção literária,
como da transformação dos textos em obras manufaturadas, consubstanciando-se em
livros acabados, ficando, assim, conhecidos em outras plagas. O trabalho do
crítico literário é de fundamental importância dentro dessas associações
culturais, que lidam com o texto impresso. Seu trabalho poderá levar, do
interior dessas instituições, para os meios de comunicação de massa ou para o
meio acadêmico, as boas peças literárias, que lá, talvez, existam, e prepará-las
para participar de expressivos concursos nacionais, por exemplo. Muitas pedras
preciosas disformes, saídas da ganga bruta, poderão ser lapidadas e, pela atuação
da Critica Literária, passarem a brilhar nas grandes empresas editoriais.
ATÉ A PRÓXIMA
Nenhum comentário:
Postar um comentário