Não nasci em Santa Maria Madalena. Sou carioca da gema, da Lapa, fim da Rua Riachuelo, próximo aos Arcos. Era a Rua de Mata Cavalos de Bentinho e de Dom Casmurro, de Machado de Assis. As lembranças sempre foram minhas companheiras, vida afora. Confesso que gosto de sentir saudade. Talvez seja porque o que está lá, no passado, bem guardado, estático, seja somente para se contemplar, apreciar, para se refletir somente. Quem sabe se o que foi não poderia ou não deveria ter sido... Seria isso? Quando menino, se me perguntassem para onde gostaria de ir, se pudesse viajar no tempo, sempre respondia que gostaria muito de voltar ao passado. Eu sou do pretérito. Tinha toda a certeza de que se voltasse no tempo poderia corrigir os erros da humanidade, tornando-me um herói, como as figurinhas do Gibi mostravam, queria ser igual ao Super-Homem, que rodava ao contrário em volta da Terra, a toda velocidade e chegava ao passado, para salvar sua amada de um fatídico desastre. Voltava à infância de todos nós terráqueos. Mas quando minha prima Neuza me telefonou, dizendo que escrevera, com um amigo professor, uma história de madalenenses que fizeram história, encomendei logo um exemplar para curtir muita saudade, que efetivamente se concretizou, alguns dias depois, quando li as poucas e objetivas páginas de seu precioso livro FILHOS DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA MADALENA. Já disse que não sou de Santa Maria Madalena, mas sou filho de um madalenense.
Durante minha infância estive por lá nas férias de meu pai. Ficávamos numa chácara adorável, com uma várzea verdejante, um minguado filete de rio a cruzava encantador, uma várzea cheia de estrepolias de crianças, primos entre si, vizinhas bonitas, namoradinhas sazonais. Minha prima Neuza mexeu com os meus mais profundos sentimentos de nostalgia.
Minha vó Tatá no chafariz da praça de cima, a igreja de uma torre só, os jardins da praça de baixo, a venda do gorducho Américo Mansur, as fantásticas operações do Dr. Maneco, fazendo cesariana com gilete, o coreto com a retrete, Eupídio Feijó, o músico, Eurico Feijó, meu tio que fazia de tudo, tia Nialva, a minha tia mais santa de todas, que sempre me protegia das travessuras endiabradas, matança de galinhas indefesas, Tio Antônio do “troytler” alinhadíssimo, dos carnavais em que gente miúda só se mascarava, porque brincar no salão do Clube Montanhês, só com mais de 15 anos. E quando eu tinha 15 anos era muito bobo... Hoje, Neuza, minha prima registradora de vidas passadas, viajei no tempo e senti saudade. E quanto! Seu livro é ótimo.
ATÉ A PROXIMA
2 comentários:
Professor,sempre acontecia misteriosa sensação de familiaridade quando,levando cartas para opstar na agência dos Correios no Estácio,passava pela Rua Zamenhoff.
Férias na imfância eram em Nova Friburgo,mas não tão boas quanto as suas,pois fdaltava a figura paterna
Como sempre,lindo texto
Thereza
Professor Feijó,
Adorei o seu comentário sobre o livro da minha mãe. Sempre adorei ouvir histórias sobre a nossa família e dos amigos.
Este primeiro passo que a minha mãe deu foi uma realização de um sonho, que acredito, possa alçar vôos cada vez mais altos.
Meu avó Eurico, mesmo com a fama de ser durão, fazia de tudo pela família.
A minha avó Nialva, concordo quando você disse que era uma verdadeira Santa, foi e será para nós (TODOS OS NETOS) a melhor avó do MUNDO.
Obrigada pelo seu lindo relato.
Abraços
Heloisa Feijó
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