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17 de fevereiro de 2017

TROVAS, TROVINHAS E TROVÕES IV




Tenho lido ultimamente muitos versinhos e poemas interessantes, na produção vibrante de muitos amigos e poetas que surgem, muitas vezes, meteoricamente, nas páginas das Redes Sociais. Muitos trovadores, muitos cronistas, alguns contistas e romancistas aqui na Rede se expressam literariamente, e isso é muito bom.

De todas as formas literárias, que passam por aqui a trova é, indiscutivelmente, a forma fixa de poema mais assídua, muitas vezes bem trabalhada, outras vezes nem tanto, sendo, mesmo assim, a que maior impacto causa aos leitores. Sobre ela tenho falado muito, por ver nesses quatro versos heptassílabos  ou de Redondilha Maior, o verso considerado clássico da lírica occitânica, entre muitas outras coisas, uma síntese de emoção, um soluço de tristeza, um ímpeto de alegria, uma pitada de prazer, uma angústia sofrida e muitos outros segredos da alma e do coração. Vejo temas filosóficos, difíceis de serem sintetizados em tão poucas palavras, inebriando e extasiando nossos sentimentos. Os sentimentos dos amantes do belo.

A trova são dois dísticos que, rimados (abab), completam um pensamento. É uma forma de como o poeta transfigura o mundo em que vive, vendo-o e sentindo-o com os olhos da poesia. Os elementos linguísticos da trova, bem estruturados, fazem predominar a conotação sobre a denotação e traz à cena, como um broto emergindo da terra florida, a função poética da linguagem, que dominará o plano da hermenêutica sígnica da fala.  Fora isso, é tentativa vã de buscar o belo, o que, na realidade, muita gente faz. O fazer poético é para poucos. Não entender isso é deixar a mediocridade prosperar numa seara, onde alguns sabem cuidar bem da terra, outros não, pois, em vez de ará-la suavemente, passam sobre seus prados verdejantes de relva rasteira o trator bruto da referencialidade. Muitos insistem em produzir assim mesmo, simplesmente pela mecânica da produção, aos borbotões, por encomenda, em série, sem dar ouvidos aos acordes musicais - tristes ou alegres -  do coração... Há de se fingir! Há de se transgredir um pouco, pelo menos! Fingir e transgredir como o verdadeiro poeta tenta fazer, tal como Pessoa falou, para que sua criação seja compatível com a forma estética, que intrinsecamente os textos literários precisam ter. Vamos produzir, mas com os cuidados devidos! Um pouco de teoria e estudo sobre a nossa matéria prima, a língua, é essencial e importante. Um pouco de teoria sobre versificação é mais importante, ainda, para não nos comportarmos como o pequeno e ingênuo lavrador que, empolgado pelo prazer do trabalho agrário, envolvido pelo saboroso ambiente telúrico, só consegue colher, em seus campos arados, algumas frutinhas doces e saborosas, mas manchadas pela marca da presença de insetos indesejáveis. Ler e pesquisar sobre o fazer poético também é muito bom.

ATÉ A PRÓXIMA


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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.