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3 de março de 2009

TRABALHO DE SÍSIFO DIFERENTE


Vi um homem carregando enorme embrulho, quase o dobro do seu tamanho. O coitado levava-o à cabeça e o trambolho afundava-lhe o pescoço. A cena lembrou-me um caso que ouvi, conversando com o Luiz Fernando, simpático e eficiente gerente de Relacionamento da Agência Lages do Banco do Brasil. Fui até ele para pedir ajuda, pois havia esquecido em casa o cartão de acesso à minha conta e estava em Lages, a caminho de Gramado, como sempre faço depois que termina a alta temporada turística. Tudo fica mais vazio e as coisas fluem com muito mais prazer, pois a agitação, que toma conta de todo mundo, começa a descansar, voltando as coisas para os seus devidos lugares. Uma beleza! Depois de alguns minutos de conversa com o Luiz Fernando, dizendo-lhe o que fazia, como eram os meus BLOGs, de que temas tratavam, ele me disse que há uma revista chamada BB.Com, onde o banco resgata as mais diversas ocorrências sérias, dentro ou não das atividades de crédito ou pecuniárias, divertidas umas, constrangedoras outras, mas todas verídicas. Enfim, uma publicação que resgata a história da vida bancária dos municípios e regiões de todo o Brasil. Mas, voltemos à cena inusitada do início dessa crônica. Aquilo me lembrou as peripécias, registradas na tal revista, por que passou um cliente do Banco do Brasil, muito conhecido na região de Lages, nos anos 60, cidadão que deu ao banco muito lucro, pois sempre foi salvo pela agência com empréstimos para pagar rapidamente as contas de encrencas e mais encrencas, sempre envolvido com "rabos de saias". O sujeito era galanteador emérito, frequentador da próspera sociedade lageana da época, e soltava as asas, na ocasião, para uma senhora, muito conhecida, mas muito mal casada e, por isso mesmo, correspondia aos galanteios do Dom Juan das regiões serranas catarinenses. Um belo dia recebeu o sinal verde da desesperada senhora, ávida por carinhos e pelo relacionamento carnal com o homem, que haveria de reabilitá-la para os verdadeiros prazeres da vida. Na carta que recebeu, a dama dizia que numa segunda-feira tal - era inverno - , o marido viajaria. Assim, estava tudo preparado para que seu fervente amor explodisse na tarde gelada da verde e bela cidade serrana. Mas frisava com as palavras sublinhadas que se alguma coisa desse errado na hora era só dizer ser ele um pretendente à compra de um sofá, à venda já há algum tempo. Tudo combinado. O homem foi, bateu palmas ao portão. O marido, alto, forte, mal-encarado, todo vestido de preto, perguntou o que o cidadão queria. Nosso herói engasgou, mas viu logo que alguma coisa estava errada. Respondeu que veio ver o sofá. Entrou examinou a sala com olhos ariscos, pegou naquela coisa enorme e feia, mediu com os pés o tamanho do móvel e perguntou quanto custava. Saiu rapidamente dizendo que voltaria, caso decidisse comprá-lo. Voltou, depois de novo sinal verde. Agora parecia que tudo estava em ordem e ele se deliciaria com aquela brancura de mulher, fruto verde de seus desejos. Outra decepção. O marido também não viajara, sabe-se lá por quê... Depois de ouvir as palmas ao portão e vendo o mesmo homem que em sua casa estivera, pegou-o pelo braço, introduzi-o na sala e perguntou se trouxera o dinheiro. Sim, vou comprá-lo e levá-lo agora mesmo comigo. Mas o senhor veio a pé, disse o marido. Não há nenhuma condução lá fora! Aí, nosso picaresco Don Juan, percebendo a besteira que havia dito e, para se livrar de tão embaraçada situação, pagou o preço combinado na primeira visita, pediu uma ajudinha e colocou aquela monstruosa peça vermelha na cabeça, iniciando a subida da rua em ladeira, com o pescoço enterrado no ombro já todo torto. Então, iniciou um percurso incrível, sem destino e objetivo, rua a fora, subida a cima. Um verdadeiro "Trabalho de Sísifo", que o salvou de uma terrível surra.

ATÉ A PRÓXIMA

Um comentário:

Anônimo disse...

Genial,Professor!
Eu também tenho uma história de produção extraconjugal malsucedida por parte de uma senhora conhecida.Um mico enorme.
Para ser transgressora há que ser competente,não?
Adoro seus casos.Li também o do moço de Gramado que desejava ser jogador de futebol.Freud explica mesmo.
Saudações Tricolores
Thereza

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.