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15 de junho de 2016

A GANGA BRUTA LITERÁRIA





 
Certa ocasião escrevi que pelo interior do Brasil se multiplicam, com bastante vigor, associações culturais, dedicadas aos mais diversos gêneros literários. São grêmios que pretendem perpetuar certa forma popular de versejar; Uniões de cantadores de rondós; Sociedades de poetas bissextos; Congregações de escritores malditos; Associação dos amantes do soneto; União de veteranos trovadores; Academias de Letras que pretendem difundir a literatura brasileira de um modo geral e, em particular, a regional, além de tantas outras designações de agremiações e clubes, que tentam reunir, por puro diletantismo, cidadãos interessados nas letras e artes. Nesses lugares reúnem-se autores de textos grandes ou pequenos, em prosa ou em verso, destinados ao público adulto ou infantil, todos ávidos por desfrutar da beleza e do poder mágico dos escritos. São romancistas, poetas, letristas, travadores, declamadores, atores, filósofos, professores, porque de escritor, poeta e louco todos nós temos um pouco.  Um pouco não! Muito! Assim, esses espaços por onde alguma cultura circula, são vistos pela comunidade como locais eminentemente articuladores de alguma forma de desenvolvimento, sempre muito bem falado, e recebem até das autoridades públicas constituídas uma forma de subsídio para seu sustento e, muitas vezes, recebem também do município um local físico, para as suas reuniões. Mas o que fazem em suas reuniões? Quase sempre se autopromovem, engalanados com o peito repleto de multicoloridas medalhas, tendo, quase sempre, o pescoço inclinado pelo peso de redondos medalhões. Em dias festivos sentam-se em cadeiras de espaldar elevado, com suas medievais vestes talares doutorais, quase sempre se expondo ao ridículo, pois muitos se orgulham de ter títulos de “Doutor Honoris Causa”, outorgado por uma entidade comercial, fora do ramo acadêmico, ou se dizem portadores de “comendas”, compradas a prestação... Fardão verde-escuro e bordado a ouro ainda não vi, mas presenciei muitos corpos risonhos e felizes, com seus capelos compenetrados, em cerimoniais repletos de simbolismos, com velas e fitas de muitas cores, enlaçando buquês de flores por cima de grandes e bonitas mesas de mogno. Essas reuniões são interessantes e fazem bem aos olhos e impressionam a população mais carente de cultura, de localidades afastadas das grandes cidades ou de centros cosmopolitas. Mas, no dia-a-dia, parece que se atêm a discussões administrativas ou a marquetear seus próprios escritos, sem nada de  produtivo realizarem em prol dos objetivos estatutários, que todas essas agremiações lítero-culturais possuem. Contudo, uma forma interessante de atuação seria a realização de palestras por parte de seus membros para a própria comunidade, sempre reverenciando os grandes escritores do país e mostrando como se vivia na época em que atuavam. Como foram suas vidas, suas glórias, suas vicissitudes, seus exemplos e sua obra. De fora desses grupos poderiam vir para ministrar palestras, críticos literários, que, ao tomar conhecimento da produção dos componentes dessas diversas associações, as analisaria e as difundiria em outras regiões, fazendo com que as boas obras fossem conhecidas em outras praças, uma forma de aceleração cultural importante, para o desenvolvimento geral, tanto da produção literária, como da transformação dos textos em obras manufaturadas, consubstanciando-se em livros acabados, ficando, assim, conhecidos em outras plagas. O trabalho do crítico literário é de fundamental importância dentro dessas associações culturais, que lidam com o texto impresso. Seu trabalho poderá levar, do interior dessas instituições, para os meios de comunicação de massa ou para o meio acadêmico, as boas peças literárias, que lá, talvez, existam, e prepará-las para participar de expressivos concursos nacionais, por exemplo. Muitas pedras preciosas disformes, saídas da ganga bruta, poderão ser lapidadas e, pela atuação da Critica Literária, passarem a brilhar nas grandes empresas editoriais.

ATÉ A PRÓXIMA



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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.