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2 de dezembro de 2008

EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS


Nos meus textos sobre a linguagem especial do futebol falo muitas vezes em EXPRESSÃO IDIOMÁTICA, referindo-me a determinada frase ouvida em comentários sobre os jogos de futebol, pelos jogadores, locutores ou apresentadores de programas esportivos, no rádio ou na televisão. Perguntaram-me o que é, lingüisticamente, uma expressão idiomática. Em meu livro BALANÇANDO O VÉU DA NOIVA, disse, no Capítulo 3, na página 221, que é uma expressão lingüística, característica de certo idioma, no tempo e no espaço, como à Bangu, abrir o jogo, abrir uma avenida, abrir as pernas, acariciar a bola, alugar meio campo, jogar a toalha, ripa na chulipa, zona do agrião, etc. Mas, agora, com maior espaço para me estender sobre o assunto, remeto o meu leitor a J. Mattoso Câmara Jr. quando diz “que os traços lingüísticos de uma língua, que melhor a caracterizam em face das outras que lhes são cognatas, como, por exemplo, em português o infinitivo com desinências de pessoa”, ao mesmo tempo em que, em sentido estrito, são as “construções vocabulares e frasais que não se prestam a uma análise, satisfatória na base dos valores atuais da língua, porque resultaram de fenômenos de analogia e atração, e só se explicam à luz da história da língua”. E dá como exemplos dar as da Villa-Diogo e chorar pitanga. Esses dois exemplos do eminente lingüista foram estudados e explicados por João Ribeiro, em seu livro Frases Feitas, de 1960, publicado pela Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro.
Vamos tentar, agora, brevemente, explicar uma dessas expressões que chamei idiomática, citada acima e que se encontra no meu livro BALANÇANDO O VÉU DA NOIVA, retirada do riquíssimo universo morfológico da linguagem especial do futebol.
À Bangu
Trata-se de uma expressão cujo sentido só pode ser explicado dentro da história desse conjunto de elementos signicos e pertinentes, da língua portuguesa e, portanto, com significado no contexto do futebol carioca. Pelo prestígio desse esporte, a expressão passou para gira da língua comum, mantendo o sema de desorganização, sem, contudo, ser aplicado exclusivamente no futebol. Só por um estudo da história do termo Bangu, no contexto da vida social do Rio de Janeiro é que poderemos entender o significado lingüístico de toda a expressão. Parece que a origem dessa locução adverbial de modo, à Bangu, usada na linguagem especial do futebol (gíria), remonte às partidas-treino, sem maiores compromissos, ou a partidas disputadas pelos times das divisões inferiores do Bangu Atlético Clube. O Bangu é um dos mais antigos clubes de futebol do Rio de Janeiro. Nasceu como “The Bangu”, tendo suas origens na empresa inglesa, Companhia Progresso Industrial do Brasil, no bairro carioca de Bangu, onde, no início da Liga, jogavam alguns negros, desde que fossem operários daquela fábrica têxtil. Durante algum tempo, os jogadores do Bangu Atlético Clube foram chamados pela imprensa dos anos 40 e 50 de os mulatinhos rosados, pelo significativo número de jogadores de origem negra e mestiça e, também, pela cor rosada das listras verticais do uniforme do clube, sobre fundo branco. Como poderia alguém, fora desse contexto histórico, precisar o real significado da expressão À BANGU ? A construção vocabular em destaque não se presta a uma análise satisfatória, na base dos valores atuais da língua, sem as explicações acima.

ATÉ A PROXIMA

2 comentários:

Unknown disse...

Professor Feijó, parabéns pelo blog. Gostei muito do texto sobre as expressões idiomáticas, afinal, me interesso pelo assunto.
Um abraço
Gislaine

Luciano disse...

Bom blog, o Bangu era dos mulatinhos rosados porque se supunha que os mulatinhos eram filhos dos ingleses, quando o Bangu começa a ser notado no cenário futebolístico praticamente todos os times cariocas já tinham negros e mestiços.

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.