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4 de novembro de 2009

CLAUDE LÉVI-STAUSS


Faleceu na madrugada desse último domingo o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Iria completar, no próximo dia 28, 101 anos. Quando eu ainda engatinhava, Lévi-Strauss estava no interior de Mato Grosso e na Amazônia, entre tribos indígenas, articulando suas teorias sobre as estruturas elementares do parentesco e descrevia mitos bororós como o xibae e iari (as araras e seu ninho), para mostrar inúmeras categorias empíricas, observadas etnograficamente, como ferramentas indispensáveis à constituição de propostas concretas que, mais tarde, iriam atingir inúmeros outros discursos de saber. Assim, categorias observáveis como as de cru e cozido, de fresco e de podre, de molhado e de queimado, em oposição, mostrariam que, no homem, tudo que é Universal depende da Ordem da Natureza e tudo que está ligado a uma Norma, pertence à Cultura, apresentando atributos do relativo e do particular. Em Lévi-Straus a antropologia vai se desenvolver à luz do estruturalismo. Era considerado o maior intelectual francês vivo. Influenciou as ciências humanas na segunda metade do século 20 com inúmeras publicações, entre elas a que o tornou mundialmente conhecido, “Tristes Tópicos”. Há muitos anos, estive trabalhando no oeste brasileiro, no Estado de Rondônia, próximo às fronteiras secas do Paraguai, Bolívia e Peru. Pensei nas incursões de Lévi-Strauss por aquelas bandas. Senti, com a pele arrepiada de emoção, sua presença ao ver um índio completamente nu, apanhando, com um movimento brusco da mão, um grande inseto e comê-lo imediatamente. -Tudo que se mexe e tem vida, eles comem - me falaram numa aldeia nhambiquara que visitei. Isso é universal e depende da ordem da natureza. Em meados de 1938, o grande antropólogo, a serviço da Universidade de São Paulo (USP), que dava os primeiros passos na vida acadêmica do país, passou por Vilhena, Pimenta Bueno, Porto Velho e Guajará Mirim, cidades em que também estive. Na ocasião, Lévi-Strauss recolheu cansativo e exausto material para produzir sua obra, que marcaria para sempre a cultura ocidental e dava ao mundo notícias daquelas fronteiras e de seu povo, até então desconhecidos da comunidade científica na área das ciências humanas. Surgia, no oeste brasileiro, a sua grande vocação antropológica. Foram esses acontecimentos míticos publicados no livro "Tristes Trópicos" (1955) que lhe trouxeram fama e reconhecimento internacional. A vida acadêmica está de luto, mas nós, paradoxalmente felizes, por tomarmos conhecimento de um gênio, que, entre outras coisas fenomenais, aliou, por exemplo, os protótipos lingüísticos dos triângulos vocálicos de Jakobson com triângulos culinários, representantes de oposições binárias, nunca antes teorizadas, parecendo abrir para o homem a impossível apreensão do infinito saber.
ATÉ A PRÓXIMA

Um comentário:

THEREZA FISCHER PIRES disse...

obrisProfessor, acompanhei de perto, aqui na França, o luto pelo grande antropólogo.
Parabéns pelo seu belo texto
Thereza

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.