Quantos me visitaram ?

9 de outubro de 2010

A CHEGADA


Chegar foi fácil, pois em toda cidade grande como Campinas, os táxis, aos sábados, é que procuram os clientes. Do centro ao campus da PUC me pareceu um pulo. A amplidão horizontal desses sítios me extasia e sempre parece que vejo o cortejo dos intrépidos bandeirantes com seus capitães-de-mato, surgindo de trás das touceiras de capim alto, procurando negros fugidos. Marquei com o motorista o lugar certo para me apanhar ao término das aulas, lá pela primeira meia hora da tarde. Dei-lhe meu telefone celular para qualquer desencontro. Creio que fui o primeiro a chegar. Para saber como me dirigir à sala de aula certa, fui pedir informação a uma servente, impecavelmente uniformizada. O vento frio que soprava minha ansiedade para conhecer a turma, o professor e a matéria detalhada do curso, não me deixou absolutamente desconfortável, porque a funcionária fora de uma educação a toda prova, acompanhando-me até a entrada do Setor H-5, sala 825.
Revivi durante quatro rápidas horas momentos de muita alegria, por ver jovens interessados em adquirir conhecimentos para suas pretensões de vida. Revivi o método pedagógico e a inteligência docente, a paciência e a perspicácia da fixação da aprendizagem e muito mais coisas boas da docência viva em sala de aula. Meus dias na escola não terminaram com minha aposentadoria. Aprender é uma atitude docente, decente e contínua. Misturei-me a jornalistas e a filósofos.
Gostei.
Terminado o primeiro dia de aula, ainda ruminando a excelente proposta de execução dos conteúdos programáticos do jovem professor, dirigi-me ao ponto marcado com o motorista que me trouxe e que ficou de me pegar. Esperava. O tempo passava. Os alunos de minha turma e de muitas outras em atividades hebdomadárias já tinham se dispersado. Eu estava sozinho. O taxista não viera. Não houve nenhum telefonema. Aconteceu algo. Parece que foi a única coisa que não combinou com tudo que de agradável me aconteceu naquele primeiro dia de aula. Caminhei até o portão principal e esperei. Fui salvo por um simpático grupo de estudantes, que passou alegremente me oferecendo carona. No dia seguinte recebi o telefonema do taxista se desculpando e dizendo que havia mandado seu irmão me apanhar na universidade, mas em seu carro particular, automóvel preto comum, e sem o número de meu celular. Fiquei sem saber o que dizer, diante de desculpa tão inusitada. Contei isso para meu fantasma amigo do Porto, que está viajando comigo por essas bandas de São Paulo, e se ele já não fosse do outro mundo, diria que quase morreu de rir. E concluiu fantasmagoricamente, para me agradar:
-É um cinesíforo português, pá!


ATÉ A PRÓXIMA

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.