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5 de outubro de 2010

OS GERALDOS



Já faz muito tempo! Ia com destino certo a Nova Friburgo, para descansar de uma semana exausta. Aulas pra todos os lados, desde as 7 horas da manhã em cursinhos e colégios, espalhados por diversos bairros da magnífica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Depois da Ponte Rio - Niterói, em sentido a Itaboraí, há um baixadão com uma reta sonolenta com mais de 5 quilômetros. Para ficar ligado e com toda a atenção no caminho, desliguei o rádio do carro e fixei o olhar na estrada, observando, de soslaio, a paisagem lateral. Pastos e pequenas vilas de casas toscas e muitos bares com suas mesas de sinuquinhas tristes, todos mal vestidos, com jogadores despreocupados e muitos guris magrinhos, de calção e sem camisa, correndo atrás de uma bola de borracha toda suja, sempre um perigo para os carros que nunca respeitam o limite de velocidade por ali. Passavam voando. Muitos até pela contramão.
De repente, sinalizei para a direita, diminuí a velocidade, entrei por um acostamento esburacado muito do sem-vergonha e parei em frente a uma fábrica.
Saltei, dirigi-me ao balcão e perguntei:
- Você é Geraldo?
- Não!
- O Geraldo está?
- Não há nenhum Geraldo aqui, amigo. Em que posso ajudar? Mas onde está o Geraldo, insisti.
- Ninguém aqui se chama Geraldo, por quê? Qual é o problema?
- Meu amigo, fale a verdade, você não é Geraldo?
- Pare com isso! Aqui não tem nenhum Geraldo, já disse! Meu nome é João.
- Mas o dono é Geraldo, não é?
- Não! É Jorge!
- Mas o motorista é Geraldo, vai dizer que não?
- Não, senhor! Aqui ninguém é Geraldo!
- Então está tudo errado, amigão. Mas o que o senhor quer? Não estou entendendo nada, disse o rapaz, sem saber se ria ou se irritava.
Deixei a pobre criatura abobalhada com toda aquela cena realmente incomum, mesmo porque eu estava muito seguro do que fazia e saí dali com a satisfação do dever cumprido, pois jamais poderia ceder à tentação de teatralizar uma piada incrível que se materializou naquele palco surrealista com o João, empregado do Sr. Jorge, funcionário de uma fábrica do tipo fundo-de-quintal, onde nenhum Geraldo trabalhava...
Mas um imenso painel colorido à beira da Estrada Niterói-Manilha mostrava o nome daquela insipiente indústria que confeccionava todo tipo de proteção para portas, janelas, sacadas e varandas.

TOLDOS SÃO GERALDO
Não me contive. Era o mínimo que poderia fazer.


ATÉ A PRÓXIMA

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.