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14 de julho de 2011

ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ

Ontem, dia 13 de julho, a Academia de Letras de Balneário Camboriú comemorou 9 anos de existência. A bonita festa foi realizada na Câmara Municipal da cidade e contou com o apoio da Fundação Cultural e da própria Câmara Municipal de Vereadores. A nossa Academia de Letras nos proporcionou a todos uma sessão memorável. Seu atual presidente, Isaque de Borba Corrêa, conduziu os trabalhos com excelente desenvolvimento e homenageou figuras representativas da cultura e da política da cidade. Mas deixei de me expressar sobre o que realmente significa para a sociedade uma Academia de Letras. Como a festividade teve uma longa pauta, não quis alongá-la com mais palavras. Além do mais, ao cabo da festa, quando poderia ainda pedir a palavra, as autoridades públicas já haviam se retirado, por terem outros compromissos oficiais assumidos.



Numa Academia de Letras há poetas, romancistas, contistas, cronistas, historiadores, filólogos, e demais escritores que trabalham com uma matéria prima comum: a língua. Essa matéria prima é o mais significativo e importante código social. É por ela que nos comunicamos e expressamos nossos sentimentos, os mais recônditos, os mais enraizados no fundo de nossas almas. Por essa matéria prima, a língua, falamos de outros códigos, num exercício de metalinguagem constante e nos aprimoramos na vida social em prol do bem comum, inclusive. Portanto, é aqui, nessa Academia de Letras de Balneário Camboriú que também exercemos nossa cidadania. E mais, aceleramos o progresso através de ações quase despercebidas do grande público, quando, por exemplo, seus pares publicam suas obras, com conteúdos, os mais diversificados possíveis, pois é nessa diversidade de temas que vamos encontrar a unidade em torno da qualidade e da excelência que se purificam sempre e trazem para todos informações referenciais e estéticas, para a solidificação profissional ou para o regalo contemplativo de nosso pensamento.



Assim, ontem, ouvimos e percebemos o entusiasmo com que o nosso presidente, um incansável pesquisador de fatos, documentos e vestígios históricos do passado dessas bonitas terras catarinenses, relatou como conseguiu chegar às origens de um termo lingüístico, perdido num passado secular. Este acontecimento surgiu num momento de pura emoção, quando a Academia reverenciava e homenageava seus membros que já não estão fisicamente entre nós: o momento da saudade.
Assim, foi resgatado um termo de nossa língua que pertencia ao vocabulário ativo dos catarinenses que se envolveram na Guerra do Contestado. O nosso presidente, Isaque, é um “catador” de palavras. Muitos dos presentes não tiveram tempo de entender o que esse tipo de trabalho significa para a comunidade, pois pode passar como irrelevante, sem nenhuma correlação com a praticidade do dia-a-dia do cidadão comum e de não ter importância para o país. Mas é preciso lembrar a todos que o trabalho de garimpagem lingüística ou de busca das origens lingüísticas ou, ainda, dos estudos dialectológicos é também uma forma de crescimento cultural, pois, com isso, resgata-se o passado de nossa gente e dá-se o primeiro passo para o surgimento de uma política de integração nacional. Um país imenso como o nosso com diversidades culturais incríveis, mas unido pela língua comum, deve preservar seus regionalismos, suas formas lingüísticas diatópicas e diatrásticas. Tenho conhecimento de que esse trabalho está sendo executado, aqui perto de nosso município, na Universidade do Sul de Santa Catarina, em Palhoça, como atesta, por exemplo, o trabalho do Professor Tadeu Luciano Andrade, intitulado “Os estudos dialectológicos no Brasil: as contribuições para o ensino da língua”. Com os estudos dialectológicos o ensino da língua pátria poderá ser um dos primeiros tópicos atingidos pela aceleração cultural, envolvendo instituições, professores, alunos e um grupo incontável de agentes comprometidos direta ou indiretamente com o processo educacional de ensino/aprendizagem, talvez surgindo daí novas políticas públicas que resgatarão, sem dúvida alguma, o péssimo ensino da língua pátria em quase todos os rincões desse imenso e querido Brasil. De mais a mais, um povo que não conhece seu passado, não terá um futuro digno. A busca do passado lingüístico é também uma forma de se exercitarem os métodos científicos e preparar o aprendizado da língua, impulsionadora do progresso. Esse trabalho, em suma, é uma forma superior de se fazer ciência, mesmo lidando-se com objetos menos visíveis, pois a ciência nunca foi do particular e sim do geral.


As pesquisas dialectológicas envolveram grandes nomes de nossa filologia como Serafim da Silva Neto, Celso Cunha, Antenor Nascentes, Aryon Dall’ignea Rodrigues e muitos outros. Desde 1957, por ocasião do III Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, realizado em Lisboa, foi defendida a necessidade de elaboração de atlas lingüísticos regionais. Para se ter uma pequena e inicial visão da importância geopolíca, inclusive, desses trabalhos dialectológicos, cito o surgimento de obras importantíssimas como o Atlas Prévio dos Falares Baianos, em 1963; o esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais (1977); o Atlas Lingüístico da Paraíba (1984); o Atlas Lingüístico de Sergipe (1987); o Atlas Lingüístico do Ceará; o Atlas Lingüístico de São Paulo; o Atlas Lingüístico da Região Sul; o Atlas Etnolingüístico dos Pescadores do Estado do Rio de Janeiro e, ainda, recentemente, surgiram, em diversos Cursos de Pós- graduação, trabalhos relacionados à geolingüística, como foi o caso do Atlas Lingüístico do Paraná, tese de doutorado de Vanderci Aguilera, recentemente publicado em 1995.


Por tudo isso, creio que dei uma idéia de como a nossa Academia de Letras de Balneário Camboriú, através da participação cultural de todos os seus integrantes, em todas as suas áreas e expecializações pode acelerar o progresso cultural de nossa terra. E me entusiasmei sobremaneira com as pesquisas lingüísticas diatópicas, executadas há muitos anos pelo nosso atual presidente, Isaque de Borba Corrêa, que nos apresentou interessantíssimo e emocionado exemplo de como se resgatam raízes perdidas de nosso idioma, fato que pode ajudar a desenvolver a cultura nacional, acelerando o desenvolvimento, criando novos mercados de trabalho, gerando riquezas e dignificando as ciências e letras de nosso Município, de nosso Estado e de nosso País.



ATÉ A PRÓXIMA

3 comentários:

Edson Luiz Maurici disse...

Parabéns Grande Feijó! Seu discernimento e sabedoria muito os orgulha, enquanto irmanados, e imbuídos da missão de criar e fazer saber. Grande Abraço Amigo do Amigo Luigi.

Anônimo disse...

PROF. FEIJO ,ACABO DE LER O SEU BELO E OPORTUNO COMENTARIO SOBRE OS NOVE ANOS DA NOSSA ACADEMIA DE LETRAS ,DA SUA IMPORTANCIA CULTURAL PARA A NOSSA CIDADE CONFESSO O MEU ORGULHO DE TE-LO COMO COMPANHEIRO DE JORNADA LITERÁRIA E DA ALEGRIA DE SEUS SÁBIOS ENSINAMENTOS .DEIXO AQUI UM CALOROSO ( OBRIGADO ) POR SEU CARINHO E POR DEUS TE-LO COLOCADO EM NOSSAS VIDAS,MUITA LUZ M.CARMEN

M. Carmen Varejao disse...

Prof. Feijo.
Estou a milhas e milhas distante de voces, a quem tanto amo. Estou na Irlanda, visitando minha filha Valeria, que mora aqui a 4 anos.
Estou longe, mas o meu coracao bate de saudades de todos voces e da nossa amada academia.
Daqui a 2 meses estarei de volta.
Ao Sr. e Glorinha, um abraco da amiga confreira Carmen.

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.