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29 de setembro de 2008

E N T R E V I S T A



ENTREVISTA DADA AO GRUPO DE ALUNAS DO ÚLTIMO SEMESTRE DA FACULDADE DE JORNALISMO, UNIMEP - PIRACICABA, SÃO PAULO. SÃO ELAS: ARIANE BELARDIN, PRISCILA SILVA, PRISCILA RODRIGUES, REGISNELE MELO E VIVIAM ALCALDE.









1- Como era a linguagem do jornalismo esportivo no início da televisão?

FEIJÓ - A televisão passou por grandes transformações tecnológicas, desde seu surgimento no Brasil, na década de 50, até hoje. Não surgiu como meio de comunicação de massa, evidentemente, pois, para isso, seria necessária a difusão instantânea do que veiculava. Não estava implantada ainda a rede de receptores como entendemos hoje. Mas isso foi uma conquista do meio que veio para ficar e se impor como a mais espetacular forma de disseminação da informação. O jornalismo esportivo surgiu na televisão como conseqüência de sucessivas formas de informação sobre quase tudo que interessava à sociedade. E a sociedade a que a televisão estava pronta para servir era a sociedade de consumo. Assim, o jornalismo esportivo perseguiu, podemos dizer, pacientemente as conquistas tecnológicas, para que as suas muitas e diversificadas informações pudessem sair da fonte emissora até atingir o seu público-alvo. A atuação desse jornalismo estava nas transmissões dos espetáculos, nos campos de jogos, principalmente do futebol, mas também no interior dos estúdios, com muitas mensagens críticas, além de outras tantas informativas, também. As chamadas “externas” (saídas de equipes de filmagem) eram complicadas. Uma parafernália de técnica eletrônica e gigantescos caminhões transformados em verdadeiros estúdios ambulantes faziam desse tipo específico de jornalismo uma atividade muito cara, difícil de ser realizado, além de requerer especialização de todos os setores envolvidos em sua preparação, mesmo porque sua linguagem deveria ser eminentemente visual, vindo a linguagem verbal a reboque, é claro, tudo muito diferente dos outros tipos de jornalismo. O “video-tape” revolucionou o jornalismo esportivo. O croma-key, dentro dos estúdios, deu às transmissões nova dimensão sígnica, isto é, nova linguagem, mais dinâmico, pois, então, o narrador tinha ao fundo o desenrolar dos acontecimentos, na visão final do observador. Isso perdura até hoje. É claro que muitos outros recursos eletrônicos, efeitos de toda ordem, aliados a uma transmissão digital, afastando-se totalmente da analógica, das fitas jurássicas de duas polegadas e dos “video-tapes” de uma e meia polegadas dão, hoje, uma nova dimensão visual ao jornalismo esportivo da televisão, tornando-o dinâmico, atraente e gostoso de ver. Basicamente a linguagem do jornalismo esportivo mudou, porque mudaram os signos que a construíam.

2- Como definiria a linguagem usada pelo GLOBO ESPORTE para informar os telespectadores?

FEIJÓ – A linguagem usada pelo programa esportivo de curta duração GLOBO ESPORTE é a verbal e não-verbal. Já o apresentador tem ao fundo o logotipo do programa. Isso ocorre por efeito especial de slide ou croma-key, ou por outra forma qualquer de tecnologia televisiva. Já o dinamismo dos jogos está sempre presente e a direção não deixa de colori-lo com inúmeras vinhetas de bom gosto e expressivas, dando ao conjunto uma forma visual atraente. Portanto, o GLOBO ESPORTE utiliza-se da linguagem verbal e não-verbal. A linguagem verbal usada deverá ser redundante, como em qualquer mídia de massa, sem ser estropiada. Com termos e expressões da linguagem especial do futebol. O GLOBO REPÓRTE realiza isso muito bem. As vinhetas de entrada são sempre dinâmicas As de saída são, geralmente, estáticas. Isso tem um sentido subliminar que vai conotar “pique” jornalístico, dinamismo, credibilidade, bom gosto, verdade. Em última palavra: excelência. E a GLOBO persegue a excelência sempre em tudo que faz. Se consegue é outra coisa. Mas, quase sempre, atinge seus objetivos, sim. Quando os apresentadores do programa GLOBO ESPORTE são enquadrados (e isso está sempre acontecendo – ora um, ora outro) estão sempre alegres, sorrindo. Lê-se: felizes. Se eles estão felizes, o programa deverá agradar e os telespectadores alcançarão essa felicidade, pois SER FELIZ É SINTONIZAR O CANAL DA GLOBO... As tecnologias de efeito dão ao programa a modernidade necessária para o aumento constante de audiência. Os quadros específicos e todas as matérias são apresentados sempre audiovisualmente. O programa trabalha muito com imagens de arquivo, o que dá credibilidade à apresentação. Como a TV Globo tem recursos suficientes para investir cada vez mais no visual do programa, pode-se esperar, enquanto sua audiência estiver estável, algumas mudanças e ajustes, nunca substanciais. O final, geralmente apresenta um quadro estático (algumas vezes dinâmico), sobre o qual sobem os caracteres bem rapidamente, dando para se ter uma idéia dos créditos da produção e da direção.

3- O uso de linguagens verbais e não verbais tem que sentido em uma notícia?

FEIJÓ – Se a notícia for relacionada a um fato esportivo, cujo desenrolar se dirige para a prática do dinâmico esporte do futebol, é claro que os signos não-verbais, como as imagens e figuras estáticas relacionadas aos clubes deverão se destacar, mesclando a notícia com a informação lingüística, portanto verbal. Agora, se a notícia for eminentemente informação sobre fatos, isto é, se a notícia for factual, a verbalização será inevitável e predominará, sem dúvida alguma. É claro que a linguagem não-verbal deverá sempre ressaltar a credibilidade da informação dada pela linguagem verbal. Ela, a linguagem não-verbal, deve ser atraente, sintonizada com o tema e bem editada para não cansar e/ou desviar a atenção do receptor para outras informações.

4- As notícias devem ser coletadas para causar no telespectador mais emoção ou informação?

FEIJÓ – Em televisão, parece-me que a informação deve sempre ser acompanhada de alguma emoção. Aliás, é a emoção que sustenta a audiência. A mensagem que informa alguém de alguma coisa é o resultado do envio de algo a alguém, cujo conteúdo deverá ser codificado com elementos sígnicos pelo emissor para um receptor, através de um canal. Agora, notícia, em Comunicação Social, é o tratamento ideológico dessa mensagem, dessa informação. Esse tratamento ideológico é comum nos veículos de comunicação de massa. Lá, qualquer mensagem que apareça será apresentada como notícia, isto é, um tratamento ideológico da informação. Logo, não devemos confundir, nessa área, INFORMAÇÃO com NOTÍCIA. Tratar ideologicamente uma informação é explicitar a principal característica da ideologia que é a ocultação da verdade ou a dissimulação dessa verdade, com inúmeros propósitos ou fins. Assim, causar emoção é necessário para entorpecer, muitas vezes, a verdade.

5- O que há de positivo ou negativo nisso?

FEIJÓ – De positivo, pode-se dizer que lucra o meio físico que transporta a mensagem porque surgirá uma aceleração social em todos os sentidos. As tecnologias da ilusão vão atuar nas principais funções dos “mass-media” que são: divertir, informar, formar (opinião), prestar serviços (comunitários) e vender. De negativo, citaremos a saturação (do código), a redundância (da mensagem), a alienação (do receptor) e a acomodação (do emissor). O que menos sofre é o canal, meio físico por onde a mensagem escoa. Pode-se até argumentar que o canal ao se desgastar, também se beneficia, porque há-de se procurar sempre uma forma nova de atualização tecnológica. Por exemplo, as transmissões do sinal da televisão são feitas por ondas de outro tipo de freqüência das do rádio. São em freqüências moduladas.

6- Que importância tem a imagem nesse tipo de jornalismo?

FEIJÓ – Creio que já comentei a importância da imagem nos programas esportivos da televisão, mas é sempre interessante acrescentar que a imagem possui um grau de baixa saturação de informação, isto é, que a imagem já traz a mensagem bem redundante, pronta para o receptor entender. A imagem é um meio frio de comunicação, segundo Marshall McLuhan.

7- Acredita que a informação do esporte se torna um espetáculo? Por quê?

FEIJÓ – Sim, acredito e é verdade! Porque levar os acontecimentos esportivos que se desenrolam dentro de um campo de futebol, por exemplo, para receptores anônimos, sem rosto, mas que existem, constituindo-se em audiência, só é possível através de uma forma espetacular, também, de se retratar o espetáculo. E isso acontece por dois tipos de linguagem: a verbal, basicamente nas transmissões radiofônicas, com a linguagem especial dos locutores, comentaristas e repórteres e com a linguagem mista, verbal e não-verbal da televisão.

8- O GLOBO ESPORTE usa na maioria das vezes, termos e expressões da gíria que, no jornalismo de outros gêneros, não aparecem. A linguagem verbal lá se torna mais fácil e com expressões popularmente brasileiras. Por que motivos?

FEIJÓ – Bem, os termos de gíria podem aparecer em muitos gêneros de jornalismo. No jornalismo dedicado a Economia, por exemplo, você pode encontrar termos e expressões que são usados somente nessa área, como “Barreiras não-tarifárias”, “Bens de capital”, “Petróleo tipo Brent”, “Monopsônio”, “Efiemizar”, “Valor agregado”, etc. Já a linguagem especial do futebol é mais conhecida do povo porque é muito ouvida no rádio e na Tv e aparece nos jornais e revistas em todo o Brasil. Está disseminada pelos diversos meios de comunicação de massa e é entendida por quase todo mundo. Migrou, também, para outros esportes e para a gíria da língua comum como, por exemplo, a expressão “Pendurar as chuteiras” que passou da gíria do futebol para o basquete, onde os jogadores não usam esse tipo de calçado. Passou até para a política, etc.

9- Por que a linguagem do comunicador esportiva é tão diferenciada?

FEIJÓ – Porque ela tem de ser o mais expressiva possível. Quero dizer com isso que a linguagem do comunicador, locutores, comentaristas, repórteres, editores de jornais esportivos e muitos outros, está repleta de criações vocabulares, dentro da deriva morfológica da língua portuguesa, com o objetivo principal de, em primeiro lugar, falar a língua do povão, seu público-alvo, e, em segundo lugar, para criar um marketing barato, onde ele será, muitas vezes, marcado por criações vocabulares suas. Cito como exemplo os comunicadores Washington Rodrigues com seus arquibaldos e Sívio Luís com os termos inusitados como azulejou, azeitou, biombo, rodapé, carrapeta e expressões do tipo azedou o molho, pelas barbas do profeta, atrás do toco etc.

10- Esse padrão cotidiano que o programa televisivo mantém pode gerar o quê de negativo? O que pode ser feito para melhorar?

FEIJÓ – Qualquer mensagem massiva, simples ou complexa, pela exposição no canal – o meio físico que sustenta a mensagem – vai sofre uma entropia natural do processo. Vai perder aquilo que o sustenta: a imprevisibilidade. Como essa imprevisibilidade quase não existe mesmo nas mensagens redundantes que são geradas pelos mass-media, a tendência do padrão de qualquer programa de televisão é cansar, perder sua força de impacto. A solução é um tratamento de combate a essa entropia, pela mudança, através de estudos para que a renovação ocorra dentro dos moldes técnicos da correção proposta pela Teoria da Comunicação Social. E uma das melhores formas para isso se realizar é através de trabalhos como esse que vocês estão realizando, através de entrevistas com pessoas do ramo. Esse trabalho como conheço e realizo em minhas aulas se chama ANÁLISE DE CONTEÚDO. Tenho finalmente a recomendar a vocês um pequeno livrinho, publicado há muito tempo pela ELDORADO, Rio de Janeiro, em 1973, tradução de Álvaro Cabral, chamado COMUNICAÇÃO DE MASSA: ANÁLISE DE CONTEÚDO, de Albert Kientz, cujo título original em francês é POUR ANALYSER LE MEDIA – L’ANALYSE DE CONTENU. É muito bom, mas acho que está esgotado, há muitos anos....Uma pena! É isso aí, gente! Felicidades!
Luiz César Saraiva Feijó
(Ex-professor de Linguagem Verbal e Não-verbal do Curso de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense - Níterói - Rio de Janeiro)

Um comentário:

Unknown disse...

Professor Feijó, hoje que eu encontrei a nossa entrevista no seu blog. Fiquei muito feliz pelo reconhecimento. Obrigada pela entrevista. Sucesso!

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.