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13 de junho de 2013

PÉ DE MOLEQUE




  




Estamos pertinho do mês das festas que comemoram os santos mais populares de nosso povo. São Pedro, o santo pescador; Santo Antônio, o santo casamenteiro; e São João, o profeta que previu o nascimento de Jesus Cristo, santo de indelével carisma. São as chamadas festas juninas, as realizadas no mês de junho. As celebrações não ocorrem nessa ordem, pois Santo Antônio é celebrado no dia 13, São João, no dia 24, dia de seu nascimento e São Pedro, no dia 29. Parece que a ordem de se enumerar os santos festejados no mês de junho, em dias misturados, se deve à harmonização dos três nomes, que formam um verso decassílabo heroico perfeito.  Assim: “São Pedro, Santo Antônio e São João” (acentuação tônica na 6ª e na 10ª sílabas). Encontramos, ainda, essa harmonização presente nas tradicionais músicas de nosso cancioneiro junino, nas letras de canções inesquecíveis como: “Capelinha de melão”, de João de Barros e Adalberto Ribeiro; “Pedro, Antônio e João”, de Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago (a famosa ... Com a filha de João,/ Antônio ia se casar,/ mas Pedro fugiu com a noiva, / na hora de ir pro altar...); Balãozinho; Sonho de papel, de Carlos Braga e Alberto Ribeiro; Pula a fogueira, de João B. Filho; Cai, cai, balão; Isso é lá com Santo Antônio, de Lamartine Babo; Noites de junho, de João de Barro e Alberto Ribeiro; Olha pro céu, meu amor, de José Fernandes e Luiz Gonzaga e muitas outras. Mas nessas festas açucaradas que acontecem em todo território nacional é servido um tradicional doce conhecido por pé de moleque. Essa expressão sintagmática foi registrada pela primeira vez em 1889, pois, até então, o doce era conhecido como “quebra-queixo” ou “quebra-dentes”. Hoje, pela norma ortográfica vigente, sua grafia é registrada sem hifens. Esse doce é, ainda, descrito por muitos folcloristas como, por exemplo, Cornélio Pires e Câmara Cascudo. Este último, inclusive, afirma que o tradicional pé de moleque é conhecido em todo o Brasil e tem receitas específicas em muitos lugares, e os Estados do Nordeste e do Sudeste exportam essa delícia, com suas marcas registradas, para o resto do país e para o exterior. Já a origem do nome pé de moleque possui três hipóteses: (1ª) - Por etimologia popular, trata-se de um caso de metanálise, pois está ligado às repreensões das quituteiras de rua, que, no passado, vendiam essas gostosuras e eram alvos fáceis de furtos, por parte da molecada. Para tentarem amenizar a desagradável situação, diziam: “pede, moleque”! Um imperativo seguido de um vocativo. (2ª) - Por origem metafórica, o nome pé de moleque parece fazer referência ao calçamento com pedras irregulares, que existem em cidades históricas brasileiras como em Paraty, no sul do Rio de Janeiro ou em Ouro Preto, Minas Gerais. Os escravos colocavam pedras de diversos tamanhos e feitios para calçarem as ruas e os filhos desses escravos iam acertando as pedras com os pés. Daí o nome desse tipo de calçamento, conhecido até hoje por pé de moleque. (3ª) - Também por origem metafórica, diz respeito à semelhança do doce, rapadura com amendoim, na forma de uma planta de pé descalço, muito semelhante às marcas deixadas no chão molhado pelos moleques infantes dos tempos de antanho.
Agora, veja como a Norma Culta da língua portuguesa exigiu, em outras épocas, a grafia desse doce. Escrevia-se com hífen a palavra “pé-de-moleque”, desde 1889, quando apareceu pela primeira vez. Mas, a partir do Acordo Ortográfico de 1990, deve ser grafada sem hífen, assim: pé de moleque. Em 2009, o Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras também ratifica as bases do Acordo Ortográfico de 1990, estabelecendo que a palavra seja grafada sem hífen. E qual é o plural de pé de moleque? Resposta: Pés de moleque. Para finalizar. Este termo já teve hífen e agora não tem mais. Mas como é o plural de hífen? Estão lembrados? O plural de hífen, não tem acento agudo. É assim: hifens, porque só as palavras paroxítonas terminadas em NS (entre outras terminações) é que recebem acento agudo na vogal tônica. Mas também é aceito o plural, hífenes, aí com acento agudo. Vocês sabiam? Santo Antônio! Meu Deus

ATÉ A PRÓXIMA


8 comentários:

jorge disse...

Eu acho que este nome tem origem mais provável, na semelhança deste doce com os pés de moleques, que antigamente (antes da décadA de 60) em geral tinham os pés cheios de bichos-do-pé, isto porque a grande maioria da molecada que viviam nos campos e povoados andavam descalços, como este nome veio da área rural, está aí a mais plausível explicação.

teresa bassi disse...

o doce se chama pé de moleque por que foram filhos de escravos que fizeram os calçadões das cidades antiga como Ouro preto, Paratí e outras que existem com calçadões semelhantes. Os moleques colocavam as pedrinhas e acertavam com os pés.
Tá aí o nome do doce que é semelhante as ruas das tal cidades...Minha opinião.

Anônimo disse...

Descobri a hipotese mais provavel. É que quando as escravas faziam estes doces, e colocavsm na janela para secar,os muleque iam e roubavam. Ae elas dizia: Nao roubam. Pede muleque

Unknown disse...

Professor Feijó, sou arqueólogo e estou fazendo uma pesquisa sobre calçamento pé de moleque. Você poderia informar a fonte das informações utilizadas para propor a 2ª e a 3ª hipótese sobre esse nome?

Por favor me escreva no e-mail andersonmarquesgarcia@gmail.com

Obrigado!

Professor Feijó disse...

Obrigado, Anderson Marques, por dar atenção às minhas mal traçadas linhas... Estou viajando. Assim que chegar lhe envio o que você pediu. Forte abraço.

Jade disse...

Concordo!!! Inteiramente.

lisbeth disse...

Concordo!

Prof. Feijó disse...

Tenho tentado há bastante tempo, mas não se consegue postar mais nada nesse BLOG. Não sei por quê. Então, caro leitor, corrija para mim. Palavras paroxítonas terminadas em -N- (e não -NS-) . Muito obrigado.

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.