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30 de agosto de 2018

O LIVRO SÓLIDO DE WENTH FILHO






A poesia de Ernesto Wenth Filho enquadra-se no que se convencionou chamar de produção poética contemporânea, que são os textos em verso ou prosa poética, surgidos a partir de 1945. Seu último livro, lançado recentemente em 2017, pela MJ Editorial, Balneário Camboriú, em 2017, traz no título da “capa” e da “quarta de capa” o título do livro, é claro, mas trata-se, também, de um poema. O poema-título SÓLIDO. Do que se trata?  Trata-se do nome do livro que se consubstancia como poema, cuja produção denuncia a manipulação da linguagem. Isso se dá pela captação da sensibilidade poética que vai buscar na realidade do referencial linguístico o significado cultural do termo SÓLIDO, assim: “Que dificilmente se deixa destruir por uma força externa; que tem fundamento real, seguro; digno de confiança, incontestável; firme, sério, duradouro; resistente”. E acrescentamos nós: todas as constelações semânticas advindas desses significados primitivos, que vão se multiplicar no “receptor-leitor” e em seu repertório.

A visão espelhada do esboço original da capa e a capa acabada é uma viagem que o leitor faz, antes mesmo de folhear as primeiras páginas desse último livro de Ernesto Wenth Filho. Essa forma original de produzir um texto poético é, na verdade, uma forma de linguagem, pois seus significantes, que adquirem significados motivados no real, fazem com que surja uma comparação inconsciente, no entendimento do receptor dessas novas mensagens codificadas, incorporando-as a seu repertório, a fim de ver nesse conjunto de signos, que é o texto produzido, uma forma expressiva, com novos significados, portanto, uma forma poética, com nova linguagem. Assim, passamos a caracterizar como poema, uma forma de linguagem, e o texto em questão, o é, por tudo que foi considerado e porque, acima de tudo, recria a linguagem articulada, recriando, com ela, uma nova maneira de se ver um mundo transfigurado.

A linguagem poética de Ernesto Wenth Filho está projetada para ser cantada em ritmos alucinantes da musicalidade muito próxima do ritmo do rock (p. 38), pois a referencialidade soprepuja a conotatividade de seus enunciados. Isso, contudo, não tira de cena a poesia contida em seus textos, como exemplificam os versos dos pequenos poema de seus textos, visualmente destacados entre sinais gráficos de grandes aspas. Aliás, funcionando dentro do contexto de SÓLIDO como verdadeiros grafemas, pois colocam significativamente em destaque uma outra forma de dizer o poético.

Sua linguagem mais referencial, portanto, convive, dividindo espaço com a suavidade das formas adjetivadas, que são, realmente, em menor número do que as substantivas, mas não desmerecendo o conjunto, que se sustenta por vários outros predicados, inerentes ao processo de criação poética.
Assim, a poesia de Ernesto Wenth Filho, neste seu livro SÓLIDO está relacionada com a descrição da realidade circundante e trabalha com diversos tipos de textos, incluindo a prosa poética narrativa-reflexiva (p. 8, 58).

Sua estrofação apresenta os seguintes segmentos: dísticos: (p. 65); tercetos (p. 29, 74); quadras (p. 14, 16, 38, 62, 72, 75); quintilha: (p. 70); estrofação mista de quadras e sextilhas (p. 6); estrofação mista de tercetos, quadras e dísticos (p.10); poemas de estrofação mista bem variada (p. 12, 18, 20, 22, 24, 26, 28, 30, 32, 34, 36, 40, 41, 43, 46, 48, 50, 52, 56, 64, 66, 68, 69, 71). Todos os seus poemas se compõem de versos modernos, com e sem rimas, sem métrica, mas com certo ritmo, nessas estruturas bem diversificadas de estrofes.

Finalmente, temos certeza que, futuramente, as obras poéticas de Wenth Filho, nos brindarão, plenamente, com poemas sequenciais, seguindo aquela linha inicial, quando inovou, desconstruindo o figurativo tradicional, em Só – LIDO, para construir uma nova forma de se ver o mundo, transfigurado pelo dialogismo da linguagem, com suas inúmeras possibilidades de leitura.


ATÉ A PRÓXIMA


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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.