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14 de novembro de 2006

PROVAS DE CONCURSO PÚBLICO



A maioria das questões das provas com respostas do tipo de múltiplas escolhas a que os candidatos a cargos públicos se submetem são, verdadeiramente, incríveis “pegadinhas lingüísticas”.

Na área jurídica, então, é muito comum isso acontecer. Esse procedimento não leva a nada. Só causa uma enorme irritação em todos aqueles que estão envolvidos com o preparo dos candidatos. Não podemos concordar com essa prática de charadas lingüísticas. Sabemos que há necessidade de se apurar o nível intelectual dos candidatos, mas não é assim que se deve proceder. Além de questões ambíguas, muitas estão formuladas erradamente. As Fundações Educacionais contratadas para a feitura das provas, especialmente de Língua Portuguesa, que procuram especialistas na matéria, deveriam exigir deles, no mínimo, inteligência pedagógica, o que, a nosso juízo, está faltando.

Sabemos que, atualmente, o estudo da Língua Portuguesa está muito comprometido com a mediocridade, em todas as esferas, desde o Ensino Fundamental até o Universitário.

E isso é muito grave. Também, grave e lamentável é vermos, estarrecidos, o próprio Presidente da República estropiando o idioma, desrespeitando a Norma Culta de sua língua ao se pronunciar, oficial e publicamente, constrangendo os poucos letrados que ainda existem em nossa pátria. Isso tudo deprime e afeta a auto-estima de quem estudou e se preparou com afinco sem praticar nenhuma “maracutaia”, de qualquer tipo, inclusive intelectual, em suas vidas.
Vou ser objetivo.

Analisando a Questão 10, da Prova de Língua Portuguesa, realizada pela Fundação Carlos Chagas, para Auditor Fiscal do Tribunal de Contas do Estado do Ceará, Cargo A01, Tipo 001, observamos um incrível ERRO na resposta oficial, motivado pela péssima formulação (ou tentativa de “pegadinha”) da referida questão.

A questão:

10. Considere as seguintes frases:

I. O autor admira os cavalos, que lhe parecem tão fortes quanto leves.
II. Ele chorou abraçado ao cavalo, espancado pelo fazendeiro.
III. De repente, um potrinho dá um salto, esperto, e vai junto à cerca.

A supressão da(s) vírgula(s) alterará o sentido ou eliminará a ambigüidade do que se lê em

(A) I, II e III.
(B) I e II, apenas.
(C) I e III, apenas.
(D) II e III, apenas.
(E) III, apenas.

A resposta oficial é a letra (A).

Agora, prestem atenção aos nossos comentários.

A proposta é: A supressão da(s) vírgula(s) alterará o sentido ou eliminará a ambigüidade do que se lê em:

1- O termo SENTIDO diz respeito ao aspecto SEMÂNTICO, isto é, ...alterará a semântica das frases ou eliminará a ambigüidade...


2- Quanto às frases II e III, não há dúvida de que a supressão da(s) vírgula(s) alterará a AMBIGÜIDADE.


3- SEMÂNTICA e AMBIGÜIDADE são noções que não pertencem à estrutura gramatical de uma língua. SEMÂNTICA é o estudo do sentido das palavras, segundo Pierre Guiraud. AMBIGÜIDADE, que na antiga retórica grega chamava-se ANFIBOLOGIA, é a circunstância de uma comunicação lingüística se prestar a mais de uma interpretação, segundo Mattoso Câmara Jr. Logo, SEMÂNTICA e AMBIGÜIDADE estão ligadas à estilística da língua.


4- Já na frase I ocorre, isto sim, um erro quanto à Norma Culta da Língua, porque a vírgula depois de cavalos está mal colocada, pois a oração iniciada pelo pronome relativo QUE será uma oração subordinada adjetiva restritiva e não explicativa. A Norma Culta da Língua Portuguesa diz que só as orações subordinadas adjetivas explicativas, que têm valor de aposto e que acrescentam apenas um pormenor a um nome antecedente, devem vir entre vírgulas. Portanto, a supressão dessa vírgula não altera nenhum sentido nem elimina ambigüidade alguma. Trata-se de ERRO, quanto à NCL (Norma Culta da Língua).


5- Assim, a resposta oficial está errada. Deveria ser a letra (D).


6- A referida questão deveria ser ANULADA.

ATÉ BREVE.

Voltaremos com mais comentários, pois o nosso BLOG é da Bola, do Sul e das Letras.



5 comentários:

Ivan Franco ( Dal Poggetto ) Guimarães disse...

Olá Feijó,

Encontrei seu blog ao procurar referência para o mesmo entendimento que tenho de "reacionário", pois também me preocupo com o sentido amplo das palavras que uso, diferente da massa replicadora que as usam apenas pois estão em alta, sem saber o real sentido.

Então, eu seria injusto se abandonasse seu blog sem ver o que haveria de mais recente, e assim vi este comentário entre os populares.

Sou Engenheiro, mas me esforcei bastante e aprendi/decorei muito bem todos os tipos de orações, predicativos e etc, mas obviamente adorei não ocupar minha memória com essas decorebas inúteis a quem não precisa diariamente. Mas claro que aprendi a entender como a língua funciona, o porquê das regras, vírgulas e etc.

Apesar de toda sustentação gramatical que apresentou, ainda discordo.

Na primeira frase, entendo que, sem a vírgula, teria-se a impressão de que APENAS aqueles cavalos fortes e leves seriam admirados, e NÃO OS QUE NÃO FOSSEM fortes e leves. Mas a intenção da frase é dizer que todos os cavalos são admirados, por serem fortes e leves...

Não concorda que alteraria o "sentido" da frase?

Ao menos aprendi a entender as orações assim, para que soubesse onde colocar ou não as vírgulas, e hoje corrijo minha esposa freqüentemente, esta que cursa Pedagogia para trabalhar com crianças...

Grato pela atenção!
Abraço!

Professor Feijó disse...

Ivan, veja bem! Você disse que "Na primeira frase, entendo que, sem a vírgula, teria-se (sic) a impressão de que APENAS aqueles cavalos fortes e leves seriam admirados, e NÃO OS QUE NÃO FOSSEM fortes e leves. Mas a intenção da frase é dizer que todos os cavalos são admirados, por serem fortes e leves..."
Na frase I ocorre um erro quanto à Norma Culta da Língua, porque a vírgula depois de cavalos está mal colocada, pois a oração iniciada pelo pronome relativo QUE será uma oração subordinada adjetiva restritiva e não explicativa. A Norma Culta da Língua Portuguesa diz que só as orações subordinadas adjetivas explicativas, que têm valor de aposto e que acrescentam apenas um pormenor a um nome antecedente, devem vir entre vírgulas. Portanto, a supressão dessa vírgula não altera nenhum sentido nem elimina ambigüidade alguma. Trata-se de ERRO, quanto à NCL (Norma Culta da Língua), porque o que vem depois daquele QUE não funciona como APOSTO. Seja qual for a interpretação. Se não houvesse a vírgula, tudo bem!
A resposta certa, a meu juízo, é a letra D.
Um abraço do Feijó, sempre à sua disposição.

Professor Feijó disse...

Ivan, veja bem! Você disse que "Na primeira frase, entendo que, sem a vírgula, teria-se (sic) a impressão de que APENAS aqueles cavalos fortes e leves seriam admirados, e NÃO OS QUE NÃO FOSSEM fortes e leves. Mas a intenção da frase é dizer que todos os cavalos são admirados, por serem fortes e leves..."
Na frase I ocorre um erro quanto à Norma Culta da Língua, porque a vírgula depois de cavalos está mal colocada, pois a oração iniciada pelo pronome relativo QUE será uma oração subordinada adjetiva restritiva e não explicativa. A Norma Culta da Língua Portuguesa diz que só as orações subordinadas adjetivas explicativas, que têm valor de aposto e que acrescentam apenas um pormenor a um nome antecedente, devem vir entre vírgulas. Portanto, a supressão dessa vírgula não altera nenhum sentido nem elimina ambigüidade alguma. Trata-se de ERRO, quanto à NCL (Norma Culta da Língua), porque o que vem depois daquele QUE não funciona como APOSTO. Seja qual for a interpretação. Se não houvesse a vírgula, tudo bem!
A resposta certa, a meu juízo, é a letra D.
Um abraço do Feijó, sempre à sua disposição.

Anônimo disse...

Com a vírgula, a intenção comunicativa é dizer que todos os cavalos são fortes e leves. A ausência da virgula, transformando a oração subordinada adjetiva explicativa em restritiva, separa os cavalos em um 'mundo' binário: exitem cavalos fortes e os não fortes. Assim, a diferença de sentido, a meu ver, é justamente nessa questão, o seja, na OSAE existe apenas um grupo de cavalos e na OSAR há dois grupos.

Anônimo disse...

Realmente não se trata de ambiguidade, mas de intenção comunicativa.

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Quem sou eu

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.