Paulo Mendes Campos conta como um angu à baiana atrapalhou seu plano de escrever sobre Garrincha.
“Logo depois da Copa de 58, pensei em escrever um livro sobre Garrincha. Através do Sandro Moreira, eu o procurei num treino do Botafogo, e ele concordou com o plano, convidando-me, para início de conversa, a almoçar em sua casa, em Pau Grande, daí a dois dias.
Mas perguntou logo se eu gostava de angu à baiana, e não precisei mentir por delicadeza: adoro angu à baiana. Acrescentou com um sorriso contente que ele mesmo se encarregava de fazer a batida de limão. E arranjaria cervejinha bem gelada. Conforme combinado, passei de manhã no clube, depois do individual, e Mane veio me pedir desculpas: não haveria o almoço, sua senhora estava doente, ficava para outro dia. Sandro começou a rir quando lhe contei a história. Doente coisa nenhuma! Na verdade, quando Garrincha disse em casa que tinha convidado um escritor para comer um angu à baiana, sua senhora protestou, ele agira mal, escritor deve comer galinha ao molho pardo. Digo de passagem que o livro não morreu por causa da galinha, mas porque, como todos sabem, Garrincha é o mais perfeito driblador da história do futebol. Eu não tinha saúde para marca-lo”.
O Globo, abril de 1959.
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