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9 de setembro de 2006

GANÂNCIA E GANHANÇA








LUIZ CESAR SARAIVA FEIJÓ

Há alguns dias fiz um negócio com umas economias esquecidas no antigo Fundo 157 e, comentando o fato numa roda de amigos, referi-me a ele, dizendo-lhes que havia obtido, com a transação, “uma boa ganhaça”!. Olharam para mim parecendo que queriam criticar ou o negócio, ou a palavra empregada. O negócio, não poderiam criticar, porque fora absolutamente honesto. Então, não restara dúvida de que a crítica se direcionava para aquele vocábulo não muito usado. Mas o momento passou sem nenhuma intervenção dos amigos e os dias seguiram rigorosamente a rotina muito agradável da vida de um aposentado. Marcamos novo encontro para continuarmos o bate-papo, no feriado prolongado de sete de setembro.
Ainda neste ano de 2006 vamos ter mais alguns outros feriadões, para encher as cidades turísticas de quase todo o país. Em outubro, o dia 12, que honra Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil, cairá numa quinta-feira e a criançada vai, certamente, pedir ao papai para “cascar fora”, como dizem meus netos... Elas merecem, pois é também o seu dia. Em novembro, o dia 15, que comemora cento e dezessete anos da Proclamação da República, será numa quarta-feira. O Natal, comemorando o nascimento de Cristo numa segunda-feira, vai ser festejado por todos os povos cristãos, reunindo suas famílias para meditação sobre os pecados do mundo. Na ocasião, seria muito oportuno apontar um dos maiores pecados que assolam nossa sociedade: a ganância. O que é a ganância? É o desejo ou ambição de ganho, de lucro e, por extensão, ambição exacerbada de ganho fácil ou ilícito.
Mas, por que a ganância insiste em se localizar no centro desta crônica? Parece sem sentido, mas foi porque fiquei horrorizado com o trânsito dessa simpática cidade, onde moro, depois de me reunir com aqueles mesmos amigos num barzinho, nem muito longe, nem muito perto do centro da cidade. Percebi, então que Balneário Camboriú é um exemplo de como uma estrutura municipal se deteriora aos poucos, baixando a qualidade de vida. A cidade que possui uma orla marítima de pouco mais de seis quilômetros, com a avenida litorânea muito estreita, tem os mais altos prédios de toda Santa Catarina, impedindo, inclusive, a projeção do sol sobre suas areias. Elas não são branquinhas como desejávamos, às vezes bem sujas e com muito mau cheiro, fruto de um saneamento precário e de um esgoto público nem sempre bem tratado, embora saibamos que há um esforço para minimizar tudo isso por parte das autoridades da Prefeitura. Toda a praia principal da cidade recebe, ainda, a imundice de dois rios em seus limites norte e sul. Mas esse relaxamento público acontece em todos os cantos desse pobre Brasil, despreparado para o progresso, por falta de projetos governamentais em todas as áreas, tanto no âmbito municipal, como estadual e, principalmente, no federal.
Com os feriados prolongados e nas férias de verão a cidade enche e a irritação vai tomando conta dos residentes fixos e de muitos visitantes, que não conseguem se locomover nas estreitas ruas e vielas da cidade, com pouca infra-estrutura para receber, como recebe tanta gente durante as férias eventuais ou tradicionais de fim de ano. Há poucos anos atrás não se percebia muito esse desconforto, mas atualmente o caos está se instalando e, pelo andar da carruagem, parece que vai ficar por muito tempo. O principal foco de crescimento da cidade está na construção civil, há poucos meses alvo da Polícia Federal, que prendeu alguns chefões do narcotráfico, proprietários de apartamentos e carros superluxuosos, indicadores de lavagem de dinheiro no comércio e na indústria locais. Isso não é bom para saúde da cidade, vista como centro de lazer, principalmente, pelos interioranos do oeste e dos curitibanos que fogem do frio e da umidade da capital das araucárias, para virem se refestelar nos bares, restaurantes, boates, camelódromos, lojas comerciais de todos os tipos que, diga-se de passagem, dão ao balneário uma sofisticação muito interessante. Mas a confusão estabelecida no trânsito, nos supermercados, nos postos de gasolina, nas padarias, nos açougues, pizzarias e casas lotéricas, quando chega um feriado prolongado, é, como vimos, muito desagradável e pode afastar o turista. É, também, o resultado do crescimento desordenado da cidade, motivado, a nosso juízo, basicamente, pela ganância. E não me venham dizer que ganância é palavra introduzida em nosso idioma, tendo como origem a língua de los hermanos argentinos, porque, se isso é um fato real, verdade também é que eles só estão aparecendo por aqui, aos bandos, no início do verão. Hoje, pelas crises sucessivas em seu país, não mais invadem estas plagas, como antigamente. Lucro é bom e necessário à vida capitalista, mas ganância não é uma boa! Que tal voltarmos à forma vernácula para atenuar o significado nefasto deste vocábulo e praticarmos honestamente, como cidadãos, uma boa ganhança?

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.