Essas máquinas de aparência inocente, instaladas em todos os centros de entretenimento infantil nos shoppings das cidades, são, na realidade, máquinas caça-níqueis. Máquinas de jogar, programadas para nunca perder: um jogo desleal (LUDOS). Deveria o seu uso ser motivo de um estudo detalhado por parte das autoridades responsáveis pela liberação do alvará de funcionamento desses estabelecimentos que alegram os minutos de vida de muitas crianças (PEDOS) e entristecem o bolso dos papais, mamães, vovós, vovôs, titios e titias... Nesses locais onde estão instaladas, crianças de pouca idade, o que vale dizer de pouca ou quase nenhuma coordenação motora, tentam apanhar o tão sonhado e ilusório objeto de seu desejo: o ursinho (URSO) de pelúcia. O funcionamento daquela parafernália, com ganchos, botões, manivelas, sons e engrenagens dura somente alguns segundos. A criança ainda sem coordenação motora perde seguidamente a oportunidade de pegar o brinde e o bolso do papai perde seguidamente dois reais a cada dez segundos. Então, parece-nos que estamos diante de um jogo de azar, onde as chances são mínimas e o lucro é certo, numa programação extorsiva. As crianças adoram e se relacionam com aquela magia colorida, identificando-se como amiguinhas (FILIA) dos fofos bonequinhos. Que adultos tentem fisgar o ursinho, testando a sua habilidade em coordenar seus movimentos, sua motricidade muscular, tudo bem. Mas crianças, de pouca idade, não poderiam tentar esses movimentos, pois estão, a priori, destinadas ao fracasso. E a frustração deixada numa cabecinha inocente, a nosso juízo, deixa seqüelas psicológicas ainda não estudadas pela psicologia infantil e nada consta ainda na literatura específica, a respeito dessa forma mascarada de contravenção. Isso é um absurdo que deve ser reprimido por quem de direito. Minha neta de oito anos gastou, em menos de trinta segundos, seis reais, tentando agarrar os bichinhos de pelúcia vestidos de papai-noel, num shopping da cidade onde passa férias comigo. Chamei a responsável pelo setor, disse-lhe tudo isso que coloco aqui neste desabafo e me dirigi à Ouvidoria do Ministério Público da cidade, para formalizar minha indignação e pedir providências a respeito. Pelo menos, depois disso, sinto-me mais aliviado, pois fiz a minha parte, como cidadão, alertando as autoridades para um tipo mafioso de ganho fácil, explorando a inocência infantil. Que nome teria isso? Digamos, num desabafo lingüístico, um baita neologismo já, de certa forma anunciado acima: LUDOPEDURSOFILIA
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21 de dezembro de 2007
LUDOPEDURSOFILIA
Essas máquinas de aparência inocente, instaladas em todos os centros de entretenimento infantil nos shoppings das cidades, são, na realidade, máquinas caça-níqueis. Máquinas de jogar, programadas para nunca perder: um jogo desleal (LUDOS). Deveria o seu uso ser motivo de um estudo detalhado por parte das autoridades responsáveis pela liberação do alvará de funcionamento desses estabelecimentos que alegram os minutos de vida de muitas crianças (PEDOS) e entristecem o bolso dos papais, mamães, vovós, vovôs, titios e titias... Nesses locais onde estão instaladas, crianças de pouca idade, o que vale dizer de pouca ou quase nenhuma coordenação motora, tentam apanhar o tão sonhado e ilusório objeto de seu desejo: o ursinho (URSO) de pelúcia. O funcionamento daquela parafernália, com ganchos, botões, manivelas, sons e engrenagens dura somente alguns segundos. A criança ainda sem coordenação motora perde seguidamente a oportunidade de pegar o brinde e o bolso do papai perde seguidamente dois reais a cada dez segundos. Então, parece-nos que estamos diante de um jogo de azar, onde as chances são mínimas e o lucro é certo, numa programação extorsiva. As crianças adoram e se relacionam com aquela magia colorida, identificando-se como amiguinhas (FILIA) dos fofos bonequinhos. Que adultos tentem fisgar o ursinho, testando a sua habilidade em coordenar seus movimentos, sua motricidade muscular, tudo bem. Mas crianças, de pouca idade, não poderiam tentar esses movimentos, pois estão, a priori, destinadas ao fracasso. E a frustração deixada numa cabecinha inocente, a nosso juízo, deixa seqüelas psicológicas ainda não estudadas pela psicologia infantil e nada consta ainda na literatura específica, a respeito dessa forma mascarada de contravenção. Isso é um absurdo que deve ser reprimido por quem de direito. Minha neta de oito anos gastou, em menos de trinta segundos, seis reais, tentando agarrar os bichinhos de pelúcia vestidos de papai-noel, num shopping da cidade onde passa férias comigo. Chamei a responsável pelo setor, disse-lhe tudo isso que coloco aqui neste desabafo e me dirigi à Ouvidoria do Ministério Público da cidade, para formalizar minha indignação e pedir providências a respeito. Pelo menos, depois disso, sinto-me mais aliviado, pois fiz a minha parte, como cidadão, alertando as autoridades para um tipo mafioso de ganho fácil, explorando a inocência infantil. Que nome teria isso? Digamos, num desabafo lingüístico, um baita neologismo já, de certa forma anunciado acima: LUDOPEDURSOFILIA
17 de dezembro de 2007
LISBOA, 31 DE DEZEMBRO

O fim do ano está chegando. Lembro-me da primeira vez que estive em Portugal. Foi em dezembro de 88. Fazia muito frio em Lisboa, pelo menos para um carioca que deixara o Rio de Janeiro com 40 graus, à sombra. Eu agasalhava a idéia de passar a virada do ano numa típica casa portuguesa, gozando da hospitalidade lusitana e das delícias das comidas típicas. Talvez, quem sabe, numa grande praça ou num iluminado sítio, como via pela televisão os cenários de rua em Paris, Nova Iorque, Londres ou Copacabana. Não era querer muito, creio, mas onde iria cear, se não tinha nenhum parente ou casa de amigo em Lisboa?

Estávamos hospedados em uma pensão, com todos os apartamentos ocupados. Casa cheia, minha gente! O Sr. Manoel tratava-me com toda gentileza, não fôramos eu e minha esposa indicados por Sílvio Elia, um dos mais ilustres professores de lingüística do Brasil e freqüentador assíduo da boa pensão da rua Castilho.
Lá pelas quinze horas fomos, ansiosos e felizes, para o Rossio, na tentativa de encontrarmos algum recanto gastronômico, à espera da contagem regressiva para a chegada de mais um ano, que bem poderia ser, pelo menos, tão bom quanto o que estava preste a acabar. Mas essa coisa de ver o futuro é com os magos que sempre dizem as maiores bobagens... e muita gente acredita.
Não encontramos nada de especial. Nada, mesmo. As casas do comércio estavam a fechar e todos queriam ir embora para casa. Consegui comprar um champanhe francês, a muito custo, explicando-me com o vendedor, muito mal humorado. Bem, à meia-noite faremos nossa festa particular, pensei. Não havia outro jeito.
Mas eis que avistei um aglomerado à porta de um restaurante, parecendo a entrada de uma festa. Aproximamo-nos, observamos bem, analisamos os prós e os contras, bati no bolso para constatar se tinha mesmo dinheiro e entramos.
Sentamos numa pequena mesa quadrada e pedimos duas sopas de santola.
- O senhor não pode abri o champanhe. São ordens da casa, a não ser que pague três mil escudos.
Escutei estarrecido e seco de raiva, mas como já estava no clima, aceitei a prática, que no Brasil se chama PAGAR ROLHA. Ao lado, um grupo de dinamarqueses festejava tola e ruidosamente o fim de mais um ano. Alemãs, italianos, polacos, todos com bandeirinhas de seus países numa das mãos e na outra antipáticos reco-recos. Conseguiam, ainda, soprar estúpidos apitos, numa barulheira ensurdecedora, achando aquilo tudo muito agradável. Eu estava, obviamente, aborrecidíssimo. Só pensava na cascata de fogos da Avenida Atlântica, os orixás marcando os pontos, todos de branco nas areias de Copacabana. Pensava na contagem regressiva para a inebriante iluminação da maçã de Nova Iorque. Pensava nos baile de máscara, nas avenidas iluminadas e repletas de Paris... E nós ali, naquele cubículo caríssimo, comendo pouco, porque a “grana” era curta, lamentando a infeliz idéia de sairmos para o Rossio.
Apertei, com educado cumprimento, as mãos de muita gente loira, falando línguas completamente diferentes, disse algumas besteiras, paguei a conta e fui.

Na porta da pensão Castilho recebi um efusivo abraço de felicitações pela passagem de ano, dado pelo Sr. Manoel, que estava preocupado com a nossa ausência ao jantar servido a todos os hóspedes, que já tinham se recolhido. Tudo por conta da casa.

O velho Sr. Manoel, percebendo em nosso olhar a grande decepção, pois os restos do banquete ainda faziam água na boca, fez questão de nos levar para a copa, onde nos serviu uma das melhores ceias dos últimos tempos. Com bate-papo, conversa fiada, piadas e tudo que tínhamos direito. Não se fazem mais hoteleiros como antigamente... Soube, há pouco tempo, que a pensão Castilho não existe mais.
Até a próxima!
12 de dezembro de 2007
UM DOCE DE NATAL

Está chegando o Natal desse ano do Senhor de 2007. As festas natalinas vão acontecer em milhares e milhares de residências cristãs e serão servidos os mais saborosos e tradicionais quitutes. Entre os que eu aprecio está a RABANADA. No Brasil é por esse nome que conhecemos aquela deliciosa fatia de pão dormido, embebida em leite, passada no ovo, frita e servida com açúcar e canela. Mas em Portugal, ela se chama também fatia dourada, mãe-parida e fatia-de-parida. Interessante! O alimento deve ter sido apreciado, pela sua alta carga de gordura saturada, por parturientes, talvez para que ficassem mais bem alimentadas. Daí MÃE-PARIDA. Em FATIA-DE-PARIDA, a mulher que deu à luz deu, também, o nome ao alimento. O próprio alimento fatiado passaria a ser o prato que alimentaria aquela que pariu. FATIA DOURADA é um nome bem referencial, denotativo, pois o pão é fatiado, daí FATIA e a fatia depois de frita fica DOURADA. Já RABANADA vem de rábano + ada. O rábano é uma raiz usada em saladas e o fato de o pão ser fatiado como se faz com a raiz, deu nome ao doce natalino. Em espanhol, REBANADA é fatia de pão, entretanto, a rabanada de Natal, em espanhol, chama-se TORRIJA.
Rabanada, ainda, pode ser pancada (rabo + abanada) e também pé-de-vento. Nesse sentido, vem do malaio rabana, espécie de atabales ou tambores.
Agora, só tenho a desejar a vocês uma ótima ceia de Natal, com um prato cheio de rabanadas, ou nães-paridas ou fatias-de-parida. Observaram o plural dessas coisas gostosas?
Até a próxima!
18 de novembro de 2007
UMA FLOR AMARELA
15 de novembro de 2007
VIVA O BRASIL

Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos, mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma.
Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente.
Mas o traidor se move livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado.
E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade à suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas.
Ele arruína as raízes da sociedade; ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação; ele infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe”.
(Discurso de Cícero, tribuno romano, 42 a.C.)
No Brasil, não há um traidor. Há vários. São todos os que enganam o povo, política e administrativamente, locupletando-se dos bens materiais alheios, do dinheiro do erário público, das verbas públicas e que praticam muitas outra patifarias. Eles estão localizados no PODER CENTRAL desse Brasil infeliz. Têm nome e sobrenome, mas estão protegidos por uma “JUSTIÇA MACABRA”. Contudo, segundo, ainda o grande tribuno romano, “nihil honestaum esse potest, quod iustitia vocat”.
14 de novembro de 2007
REFORMA ORTOGRÁFICA


Apresento minha visão sobre esse assunto, para que o leitor possa se inteirar do que vai aí pelo mundo das letrinhas...

MELHORA é um conceito subjetivo, pois qualquer língua de cultura, em seu aspecto escrito, representa um acordo entre os componentes de uma comunidade lingüística para representar o que se fala, com símbolos gráficos, que tentam se aproximar, o mais possível, do som que é emitido pelo sujeito falante. A escrita, portanto, é uma forma muito mais ideal do que real. Portanto, a qualquer tempo, haverá pessoas que se sentem confusas em aplicar as regras ortográficas, quando vão escrever em qualquer idioma. Estarão sempre contestando isso ou aquilo, sugerindo uma ou outra coisa para melhorar o desempenho gráfico, etc. Então, lembramos que a língua escrita será eminentemente adquirida, contrária à língua oral, falada, que será eminentemente transmitida. Isto significa que aquela se aprende na escola e esta será a língua que recebemos de nosso meio familiar, que se aprende com nossos pais, nas nossas casas. Mas, haverá um dia em que esses dois tipos de língua se encontrarão na vida do sujeito falante. Então, começa aí a visão crítica do indivíduo que usa a língua escrita e tenta direcionar aquilo que pensa a respeito dela para a vida comunitária. E isso é inevitável, porque escrever é uma pura combinação de sinais, e essa combinação pode se modificar ao longo do tempo. As modificações mais significativas incidem sobre os sinais chamados diacríticos, isto é, aqueles que dão às letras uma expressão mais viva para que elas representem o que vão significar. É o caso dos acentos agudo, grave, circunflexo, trema, hífen, aspas, cedilha, vírgula, ponto, ponto e vírgula, ponto de exclamação, ponto de interrogação etc. Mas a escrita, enquanto tentativa gráfica de representação fonética é mais resistente a alterações, porque ela não é tão volúvel como a acentuação gráfica. A ortografia de uma língua se prende profundamente à etimologia. É claro, que, cientificamente falando, a língua é um código de sinais e um de seus pressupostos básicos, segundo Ferdinand Saussure, é a arbitrariedade do signo lingüístico. Veja um exemplo claro que está presente nessa atual proposta de reforma ortográfica: em Portugal, escreve-se HÚMIDO, com H. No Brasil, é sem H, assim, ÚMIDO. Úmido vem do latim, umidu; espanhol, húmedo; italiano, úmido; francês, humide. Logo, em português deve ser sem H. Contudo, uma forma arcaica fora registrada, em português, como humede, no Livro da Montaria, tratado de monte, a caça maior, compilado sob a direção do rei D. João I, século XV. Talvez venha daí o H, lá em Portugal. Nessa época, século XV, a ortografia de nossa língua era titubeante. Escrevia-se da maneira como se ouvia e se pronunciava. Pouco se preocupava com a origem das palavras. Podemos dizer que isso vem desde o século XII, quando surge a primeira manifestação escrita da língua portuguesa (Canção da Ribeirinha, de Pay Soarez de Taueroos) até, praticamente, o século XVI, quando o português fica mais organizado, sistematizado, tradutor de uma literatura e serve de veículo de expressão de uma cultura em pleno desenvolvimento, recebendo o influxo do Renascimento. A ortografia veste-se, então, de uma aparência latinizante e, às vezes, grega. Tudo, nessa época, respirava latim, inclusive a escrita. Se o primeiro período de nossa ortografia, isto é, do sáculo XII ao século XVI, foi considerado o período arcaico, por apresentar muita oscilação na grafia, principalmente de fonemas novos na língua que não existiam no latim e no grego, como o /g/ com o valor de /guê/ e o /j/ com valor de jê/, alternando-se ora um, ora outro, como em fugo = a fujo, por exemplo, o período seguinte surgirá a partir do século XVI e irá até o início do século XX. Será o período pseudo-etimológico, porque deu-se muito valor à etimologia, até demais, surgindo aberrações incríveis. De todos os estudos que apareceram nesses séculos, sobre a ortografia da língua portuguesa, o embasamento lingüístico não estava presente. E tudo só serviu para complicar ainda mais o sistema ortográfico, levando-o a um verdadeiro caos. Parece que foi nessa época que apareceu, na língua escrita, em Portugal, a grafia HÚMIDO, com H. Vejamos, agora, resumidamente, os acordos ortográficos que já ocorreram. Embora a Ortografia Nacional de Gonçalves Viana estivesse publicada desde 1904, somente em 1 de setembro de 1911 o Chefe do Executivo português torna obrigatório para Portugal a adoção da ortografia simplificada, que foi orientada por uma comissão de ilustres filólogos e lingüistas da qual faziam parte o próprio Gonçalves Viana, leite de Vasconcelos, Carolina Michaelis, J.J. Nunes, Adolfo Coelho, Epifânio Dias, Júlio Moreira, Cândido de Figueiredo e outros. É importante frisar que nessa reforma foram atendidos somente aspectos fonéticos do português falado só em Portugal, fato que ainda nos deixava diante de um problema a resolver. É bom lembrar que, dessa comissão não participaram filólogos brasileiros e nem por isso eminentes professores filólogos como Mário Barreto, Silva Ramos, Sousa da Silveira, Antenor Nascentes deixaram de apoiar tal medida. É bom lembrar, ainda, que, em 1907, a Academia Brasileira de Letras tentou adotar, nas suas publicações oficiais um sistema de grafia simplificada. Em 1915, a ABL aprova a proposta de Silva Ramos no sentido de harmonizar a reforma de 1907 com a portuguesa de 1911. Em 1931 houve um acordo entre a ABL e a Academia das Ciências de Lisboa e o nosso Governo tornou oficial, em todo o Território Nacional, a reforma portuguesa. Muitas idas e vindas aconteceram até Brasil e Portugal celebrarem mais dois acordos: o de 1943 e o de 1945. Pronunciou-se o Congresso Nacional pelo de 1943 que foi sancionado pelo Presidente da República. Mas a última ocorreu nos anos 70 do século passado, quando no Brasil, em Portugal e nos territórios portugueses praticamente se aboliu o acento grave, tendo o Brasil também abolido o acento diferencial de timbre (oposição entre aberto e fechado), por exemplo, “êste”, com acento, para distinguir de “este”, ponto cardeal. O atual Acordo Ortográfico, de 1990, é um tratado internacional que tem como objetivo criar uma ortografia unificada para o português, a ser usada por todos os países lusófonos. Foi assinado pelos representantes oficiais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, em Lisboa, no dia 16 de dezembro de 1990, após longo trabalho desenvolvido pela Academia de Ciências de Lisboa e pela Academia Brasileira de Letras, desde 1980. Timor-Leste aderiu ao Acordo em 2004. Cabo Verde ratificou o acordo em fevereiro de 2006 e São Tomé e Príncipe, em dezembro do mesmo ano. O acordo teve ainda a adesão da delegação de observadores da Galiza. Esse atual acordo pretende defender a unidade essencial da língua portuguesa e o aumento de seu prestígio internacional, pondo um ponto final na existência de duas normas ortográficas divergentes e ambas oficiais: uma no Brasil e outra nos restantes países de língua portuguesa. Atualmente o Português é a única língua do mundo ocidental falada por mais de duzentos milhões de pessoas com mais de uma ortografia oficial. A unificação ortográfica deverá acarretar alterações na forma de escrita de 1,6% do vocabulário usado em Portugal e de 0,5% no Brasil. O atual acordo deverá entrar em prática em 2008.
Não se usará mais: 1) quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-” como em "hiper-requintado", "inter-resistente" e "super-revista".
2) quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada" .

TREMA
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y”.
Outra pergunta dizia respeito aos benefícios dessa nova reforma ortográfica. Se ela tornaira a língua portuguesa mais fácil de ser aprendida.
Meus amigos, podemos afirmar que o seu aprendizado, quando implica a apreensão da língua adquirida, aquela que está presente nos currículos escolares oficiais, a que é de responsabilidade da escola como instituição social de transmissão das mais variadas formas de cultura, esse aprendizado, insistimos, deverá ser feito de forma sistemática, obedecendo-se aos mais rigorosos métodos pedagógicos, com uma atuação docente segura dentro do processo ensino-aprendizagem. Isso quer dizer que na instituição escola, a Língua Portuguesa deve ser tratada como disciplina de um currículo contínuo e crescente, à medida que os alunos vão se desenvolvendo biológica, cultural, social e lingüisticamente. A Didática Especial será a diretriz conteudística que norteará o ensino da língua, cientificamente aplicado. Assim, qualquer língua pode se estudada e aprendida, com metodologia específica, de maneira sistemática, continuamente, desde as séries elementares, com sucesso, alegria e objetividade, desde que os professores tenham o devido preparo para tal e estejam engajados num processo educacional comprometido com as modernas práticas educacionais. Isso significa que, ser fácil ou difícil, aprender, na escola, uma determinada língua, vai depender do nível de ensino oferecido ao aluno. Difícil ou fácil será ensinar. Mas como o processo é baseado numa interdependência “Gestaltica”, ele se atualizará como ensino-aprendizagem, como uma avenida de mão dupla, onde professor e aluno se dão, um ao outro. Isso vale para o aprendizado de qualquer língua e de quaisquer outras disciplinas. Então, a língua que se aprende à escola deverá privilegiar o seu aspecto culto. As diferenças entre esses registros, o culto e o familiar, deverão também ser apresentados na escola. Desde cedo, portanto, os alunos vão observando que há níveis ou registros em sua linguagem e vão incorporando os conceitos de certo e errado, sem decorar regras gramaticais e algumas outras bobagens que muitos alunos ainda recebem nas escolas ultrapassadas e julgam, por isso, que a língua portuguesa é difícil. Parece-me que reformas ortográficas têm outros objetivos, como unificação de sistemas para efeitos políticos, comerciais, estéticos etc, mas não influem no aprendizado de qualquer língua. Dentro de pouco tempo todos se acostumarão com as mudanças.
Por outro lado, respondendo a uma outra indagação que procura saber se haverá alguma coisa a fazer para melhorar o ensino do idioma, tenho a certeza que sim. Há muita coisa a fazer. Será que a NORMA da língua, a parte GRAMATICAL da língua, aquilo que a descreve, enquanto sistema de signos, pode ser melhorada? Isto é, pode ser apresentada para o estudioso (aluno ou qualquer interessado) de maneira mais inteligível, facilitando, inclusive, o aprendizado da língua? Retirar-se dela (da NORMA) algumas exigências, para facilitar a apreensão de seu funcionamento, é possível. Claro que se pode melhorar a forma de como se vai apresentar ao estudante a língua com suas regras normativas e com seus usos, para uma aprendizagem mais rápida e objetiva. Uma maneira de melhorar isso, entre outras, por exemplo, seria a revisão da Nomenclatura Gramatical Brasileira, que, aliás, está sendo analisada pela Academia Brasileira de Filologia, a qual pertenço, estando a direção dos trabalhos referida revisão a cargo do Prof. Dr. Ricardo Cavaliere, relator do projeto. Deve-se deixar de lado o ensino da gramática pela gramática. Isso não leva a nada, só irrita o aluno e o faz desistir dos estudos lingüísticos. Devemos partir do texto para o uso da língua.
Até breve
Até breve.
10 de novembro de 2007
QUE ERRO, Ô MÊO !

“A polícia de São Paulo apresenta no início da tarde oito suspeitos de participarem do assalto a uma empresa de segurança em setembro. Na época, os ladrões levaram cerca de R$ 20 milhões.
Eles foram presos na quinta-feira quando tentavam entrar num condomínio de luxo. O golpe só foi descoberto por causa de um erro de português.
Os suspeitos pretendiam usar o nome de um conhecido empório de São Paulo para entrar no condomínio como se estivessem entregando panetones. Mas escreveram "impório" com "i" no começo, em vez de "e".
Um policial viu o carro, notou o erro e prendeu a quadrilha.”
Gostaria de parabenizar esse policial que, certamente, entrou para a corporação por concurso, mostrando, assim, que o valor do mérito está acima de todas as formas politiqueiras de ingresso no serviço público.
Hoje em dia, até para se roubar é preciso estudar. E estudar bem a língua portuguesa, para não se dar mal nas paradas...
E por falar em língua portuguesa, seja ela em seu registro culto, popular ou vulgar, vejam o que aconteceu, lingüisticamente falando, com os larápios que assaltaram a tal empresa de segurança. Eles escreveram numa caminhonete o nome de uma firma de São Paulo, muito conhecida, mas erraram na grafia. Tratava-se de um EMPÓRIO. Esse vocábulo proparoxítono, de três sílabas (EM – PÓ – RIO) termina em ditongo crescente (ryo). A sílaba tônica é PÓ. Todas as outras duas são átonas. Isto é: há uma só sílaba forte, a tônica, e as outras duas são fracas, átonas. A primeira sílaba átona EM é pré-tônica e a segunda sílaba átona RIO é pós-tônica. Em português, ocorre um fenômeno fonético conhecido como Neutralização Vocálica, que é a redução da vogal –E- ou –O- átonas, a –I- e –U-, respectivamente. Isso é comum em muitas regiões do Brasil e é típico de nossa língua. Foi o que aconteceu nesse caso. Só que o fenômeno é fonético e não gráfico. Aí os pilantras se deram mal. Normalmente, muita gente, sem saber nada de fonética, pronuncia o /E/ e /O/ átonos, como /I/ e /U/, quando essa pronúncia não altera o significado, como, por exemplo: /to-ma-te/ ou /tu- ma-te; /pen-te/ ou /pen-ti/. Tomate com /O/ ou com /U/ será sempre aquele legume vermelhinho e saboroso. O mesmo acontece com pente, seja com /E/ ou /I/ no final. Já se você promunciar I-MI-NEN-TE no lugar de E-MI-NEN-TE a confusão se estabelece, pois com -I-, significa PRÓXIMO e com -E-, significa ILUSTRE. Mas o que é EMPÓRIO ? É um vocábulo de origem grega que chegou até nós pelo latim emporiu. É o mercado, o entreposto, o estabelecimento comercial onde são vendidos diversos tipos de mercadoria.
Foi legal! Gostei! E vocês gostaram? Os pilantras quebraram a cara!
8 de novembro de 2007
DEGUSTAÇÃO TAMBÉM É CULTURA

Um abraço e até breve.
29 de outubro de 2007
HUMOR NOS TEMPOS DA DITADURA

ou
O HUMOR NOS TEMPOS DA DITADURA
S U M Á R I O
1. INTRODUÇÃO
1.1. Pressão contextual: o humor como riso.
1.2. Pressão textual o humor como amor e dor.
2. O CHISTE COMO FORMA SIMPLES
2.1. Veículos para a atualização do chiste.
2.1.1. A linguagem
2.1.2. A mímica
2.1.3. A História em Quadrinhos
2.2. Disposições mentais que geram o chiste.
2.2.1. O cômico
2.2.2. A zombaria
3. CONCLUSÃO
1. INTRODUÇÃO
Se, como afirma André Jolles (Formas Simples, 1974, p. 205): “não existe época nem lugar, provavelmente, onde o chiste não se encontre na existência e na consciência, na vida e na literatura", abre-se um grande manancial de pesquisa em torno desse tipo de humor dentro da cultura de massa e, em especial, nas áreas de atuação dos mass-media.
Assim, o chiste como dito de espírito torna-se pan-crônico, ganhando, ora forma de nível elevado, ora forma eminentemente popular. Quando popular, caracterizará o povo e suas vivências coletivizadas, definindo grupos e marcando o tempo onde aparece. O chiste é a forma que melhor permite entender como, para uma determinada disposição mental, uma forma se atualiza de modos diferentes, segundo povos, épocas e estilos.
A predisposição mental para a irritação, para o aborrecimento, angústia, mal-humor, além de muitas outras, é causada nos indivíduos dos grandes centros urbanos pela complexa atividade social em que vivem, censurando-os a todo o momento, esmagando-os contra o paredão das sofisticadas regras impostas pelos aparelhos ideológicos. É neste quadro de neuroses que surge o chiste, desatando coisas e desfazendo nós.
1.1. Pressão contextual, o humor como riso.
O humor gera o chiste como forma simples dentro de uma atmosfera de pressão das regras sociais. Isto ocorre quando o contexto predomina sobre o texto e surgirá por descobrir a fenda ou o espaço vazio de qualquer identidade, onde o vazio não será encontrado sem o seu questionamento. Ao descobrir a fenda das individualidades, surge a correção, que, de certa forma, poderá ser interpretada como um mecanismo repressor, porque atuará eticamente, ajustando tudo ao modelo pré-concebido da visão ideológica do poder dominante.
Assim, mostrar-se-á a atuação do chiste dentro dos espetáculos dos mass-media em Chico City da TV Globo, RJ, na personagem Alberto Roberto, criada pelo conhecido ator comediante, Chico Anísio. Alberto Roberto é a caricatura do mau galã e do mau ator, que desde o nome próprio - combinação insólita de dois pré-nomes que rimam, aponta para o ridículo. A fenda caracterizada será a insuficiência artística, e, o que se questiona, de maneira restrita é o lugar do belo, e, de maneira ampla, o lugar da arte. A repressão está na correção ética das funções sociais mal executadas, e, assim, a função estética se estrutura sob a ótica do lado doutor da sociedade, que impõe o seu modelo, centrado na objetiva do receptor. Tenta-se dizer, portanto, que, tanto o mau ator, como o ator feio, isto é, eles não podem ocupar espaço num espetáculo de massas.
Surge daí uma indagação. Qual será, sob este prisma, a função do riso? Diremos que será a de delimitar o ridículo. Esta função é metacensora (*), pois justifica o perigoso e prepara o seu expurgo, logo, é um trabalho ético.
O cômico, portanto, será uma forma de humor como riso e, nos programas de rádio e televisão se apresenta sob a forma de sátiras.
Para André Jolles (1974), p. 211, “a sátira é uma zombaria dirigida ao objeto que se repreende ou se reprova e que nos é estranho. A sátira destrói, a ironia ensina". Apesar do ponto de vista deste autor, não vemos a sátira como uma forma destruidora e sim como uma forma que tenta explicitar ou dizer a fenda, zombando do que é reprovado, no contexto social, para uma posterior correção.
Por outro lado, a descoberta do espaço vazio, muitas vezes se dá em nível manifesto, enquanto a correção ética, pelo questionamento das insuficiências sociais, se dá em nível latente.
As sátiras, dentro do humor como cômico, podem ser de três tipos: a) Sátiras políticas; b) Sátiras cívicas; c) Sátiras sociais. Examinemos estes tipos:
a) Sátiras políticas. Estiveram por muito tempo ausentes do contexto dos mass-media, por força de um modelo político que as tirou de cena.
b) Sátiras cívicas. Estão presentes no contexto dos programas de rádio e televisão. São discursos que falam dos temas produzidos pelo Estado e pela política do Estado. Seu domínio abrangente é a propaganda. Seu modelo discursivo está presente nos “spots” publicitários e ideológicos das empresas estatais e para-estatais, como o Banco do Brasil, SUDEP, Programa PIS/PASEP e muitos mais. Estiveram presentes na programação da ARP (ex-AERP - Assessoria de Relações Públicas da Presidência da República -).
Imposto esse modelo pelos órgãos representativos dos diversos aparelhos ideológicos do Estado, a iniciativa privada dele se serve e dele se apropria como foi o caso, por exemplo, do filmete veiculado pela Rede Globo de Televisão: O PESSIMISTA É ANTES DE TUDO UM CHATO ou “VAMOS DAR UM JEITO NO JEITINHO BRASILEIRO” (A Lei de Gerson, certo!). Isto ocorreu durante o período da ditadura militar, quando proliferavam sátiras cívicas de teor ideológico, enaltecendo o cuidado com as massas: uma obrigação do Estado. Todas as campanhas de interesse público passaram a se basear, de uma forma ou de outra, neste modelo discursivo. Assim, depois de algum tempo, essas sátiras veiculadas na televisão, difundida a sua mensagem verbal e icônica, através de trilhas sonoras bem marcadas e imagens bem cuidadas, tudo depositado no repertório ativo do receptor, as sátiras cívicas transportam-se para o rádio e para a película cinematográfica de 35mm ou 70mm, em bitola comercial, numa redundância proposital, abrangendo e dominando todos os media eletrônicos. Muitos exemplos de discursos que propiciaram o aparecimento de sátiras cívicas poderiam ser citados, sem uma preocupação com a cronologia de seus surgimentos. Assim: Filmetes sobre o Ano Internacional da Criança e Ano I da Criança Brasileira; Ano Internacional do Deficiente Físico; Ano Internacional dos Idosos; Agricultura: Plante esta Idéia; Projeto Rondon; Mantenha a sua Cidade Limpa; A Segurança depende da Confiança que você tem em si e nos outros; etc.
c) Sátiras sociais. São as mais encontradas no repertório dos programas dos mass-media. Estão presentes em dois níveis, por oposição (um é o oposto do outro). Assim, as sátiras sociais se dividem em dois tipos:
1) Aquelas que criticam os representantes da cultura comunitária;
2) Aquelas que criam estereótipos de indivíduos que causam inconvenientes sociais ou comunitários.
Para exemplificação, colocaremos o programa Chico City dentro do primeiro tipo de sátira social, e o programa Os Trapalhões dentro do segundo tipo.
Para caracterizar o humor como riso, que emerge nos textos das sátiras sociais, passaremos à análise de alguns programas, quase todos em horários nobres das televisões brasileiras em rede.
Como representante da sátira que critica os representantes da cultura comunitária (Tipo 1) , comentaremos o programa Chico City.
Este programa humorístico teve duas fases distintas:
1ª Fase: Fase agrária, representativa da República velha. Lá, as personagens atuavam na marcação das insuficiências comunitárias, como, por exemplo, o prefeito Raimundo Canavieira, político corrupto, dotado de artimanhas maravilhosas para o trato com as coisas públicas em seu benefício. Era o prefeito da cidade. Outra personagem era o coronel Limoeiro, latifundiário, representante do poder econômico, homem que tudo comprava com o dinheiro, inclusive o amor da mulher, Maria Teresa. Neste ambiente, onde uma oligarquia detinha o poder, a oposição se fazia pela voz de um agitador da esquerda política, jornalista, cujo público, as galinhas, jamais se manifestava (era época da repressão política).
2ª Fase: Fase da metrópole, representativa da República nova, caracterizada pelas críticas às instituições sociais da grande metrópole, como exemplifica a personagem Zé da Silva, o detetive incompetente, que age à americana ou à inglesa. Fase que critica, ainda, as funções sociais, como serve de exemplo a personagem Coalhada, jogador de futebol, à mercê dos cartolas, despreparado para as funções, cheio de vícios e ávido de fama. Críticas às funções do galã e do ator (Alberto Roberto). Críticas também às funções dos assalariados (Quém-Quém, o garçom). O repertório cultural é criticado na figura da personagem Bozó. Roberval Taylor é crítica à cultura de massa. A situação econômica proporcionou o aparecimento da crítica ao ganho fácil, o que gerou o malandro vigarista picaresco, Azambuja. Os desmandos morais da sociedade geraram o aproveitador e o viciado, Tavares. A contestação social gera a hippy, que deslumbra um ingênuo, português culto, um “alfacinha, formado em Coimbra, maravilhado pelo insólito das instituições, trazidas à cena pelo modo de sua noiva encarar a realidade circundante. A crise econômica gerou a personagem avarenta, Gastão Franco. A personagem Painho, ainda neste plano, mostra a fragilidade do sagrado numa sociedade altamente dominada pela materialidade, pelo ter, pelo consumo e pelo modismo. Painho, duplamente travestido. Travestido de fêmea e de santo, assume um entre-lugar no social: um representante de minorias sociais com poderes sobrenaturais. É o divino protegendo o profano (aliás, a mesma figuração do Capitão Gay, de Jô Soares, só que lá, numa alusão clara ao mito dos super-heróis). Nessa segunda fase, o programa imprime quadros que trazem personagens pan-crônicos, como Pantaleão, o mentiroso, por exemplo. Aparecem, ainda, o italiano do Brás e Popó, personagens anacrônicas ou saudosistas. Ocorre também a crítica ao misticismo que graça nos grandes centros urbanos, tendo na figura do Velho Zuza, a perfeita união entre o sagrado e o profano, aliando credo e filosofia num discurso, praticamente, ecumênico. Com a personagem O Divino, Chico Anísio interpreta o charlatão libidinoso, que encontra, ou na inocência, ou na malícia da parceira, uma forma fantasiosa de mascarar o real, invocando referencialidades de outro sistema de codificação simbólica: o astral. Nos modelos de programas como Os Trapalhões, O Planeta dos Homens, A Praça da Alegria, Viva o Gordo, A Festa é Nossa, encontramos o desajeitado que cria embaraços sociais e o anti-herói. São personagens inconvenientes, que não sabem o que está errado na comunidade. Por outro lado, há determinado tipo de inconvenientes, que sabem que a comunidade não sabe o que está errado nela, mas estas personagens não são comuns nos programas de rádio ou de televisão, que trabalham com mensagens redundantes. É o caso da personagem McMurf do filme “Um Estranho no Ninho “de Millos Forman. A fase atual do programa Os Trapalhões utiliza o código cinematográfico, servindo-se de mensagens redundantes (nunca raras), como as que se encontram em filmes de fácil decodificação. O Tubarão e Swatt isto exemplificam. Musicais e entrevistas, do mesmo modo, compõem o repertório de Os Trapalhões. O Planeta dos Homens é uma redundância deformadora do código do filme “O Planeta dos Macacos”. A Praça da Alegria apresenta quadros que trazem à cena o discurso do inculto, do rude, do grosso social dentro de uma comunidade polida. Suas personagens dialogam com um cidadão sentado num banco de uma praça, criando esteriótipos de inconvenientes sociais ou comunitários. O programa Viva o Gordo, de Jô Soares, é aquele que mais utiliza a sátira política, seguido de A Festa é Nossa, de Agildo Ribeiro.
1.2. Pressão textual, o humor como amor e dor.
A segunda forma de humor (humor como amor e dor) identificar-se-á com o trágico, tendo o texto predominância sobre o contexto. Pela descoberta da diferença entre o real e a realidade, através da exclusão do lugar da verdade, atinge-se o nível da metonímia, onde a fantasia se passa por realidade, e as formas que geram este tipo de humor ganham lugar de destaque, distanciando-se das formas de nível popular. Estas formas são a paródia e a ironia.
Assim, as formas paródia e ironia trabalham com a ilusão de realidade do código (o real), com muitos discursos literários que explicitam o que ocorre fora do ponto de vista do código (a realidade) e com a estrutura do discurso do inconsciente, descobrindo o lugar que descerra a realidade (a verdade), através da releitura do simbólico pelo imaginário. Logo, neste segundo tipo de humor caracterizam-se formas literárias de nível elevado, não populares, portadoras de mensagens raras, que trabalham com as categorias definidas acima.
A paródia é a forma que explicita o real como fantasia e aparece pelo imprevisto.
A ironia é a forma que explicita a cegueira do real e aparece pelo cinismo.
Como exemplos de humor nas formas de paródia, apresentamos os textos de Oswald de Andrade Relicário e Senhor feudal.
Relicário
"No baile da Corte
Foi o Conde d'Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí".
Senhor feudal
"Se Pedro Segundo
Vier aqui
Com história
Eu boto ele na cadeia".
Estas duas paródias são discursos de humor que estabelecem, ainda, a relação selva-escola, que por se darem bem, forjaram a nossa cultura. Logo, isto será uma relíquia, um relicário. O real é mostrado como fantasia: um banho de fantasia no real, pois a nossa relíquia é um entre-lugar: o comê, bebê, pitá e caí.
Já em senhor feudal, O dono do poder não pode ser trancafiado na cadeia, pois ele tem a chave da prisão. O real continua sendo mostrado como fantasia.
Vejamos, agora, este dístico de Oswald de Andrade:
"Amor
Humor" .
Por que o amor é humor? Oswald de Andrade responde:
“Acabei de jantar um excelente jantar / 116 francos / Quarto 120 francos com água encanada / Chauffage central / Vês que estou bem de finanças / Beijos e coices de amor”.
2.1. Veículos para a atualização do chiste.
No dito de espírito, as formas de humor podem ser atualizados pela linguagem verbal, pela linguagem não-verbal (sistemas outros de signos) e por um interlugar, que é a História em Quadrinhos.
2.1.1. A linguagem
O jogo de palavras, o duplo sentido, o trocadilho, a ambigüidade, a polissemia etc invertem o sentido das coisas e trazem a inconveniência, que significa “o desenlace das regras prescritas pela moral prática, pelos bons costumes e pelas conveniências sociais” (Formas Simples, 1974, p. 208). Todos os esteriótipos criados pelo programa O Planeta dos Homens e, em especial, a personagem deste programa, Senhor Andorinha, exemplificam o chiste neste nível, atualizado através da linguagem verbal. Uma cena do filme “Um Estranho no Ninho”, mostra um jogo transmitido pela TV, que exemplifica um texto, onde a inconveniência se presentifica, porque o absurdo indica que a lógica foi desfeita. Já que o horário e as normas da clínica impedem de os internos verem o jogo pela televisão, McMurf imagina a transmissão com tanta vibração, como se verdadeiramente o jogo estivesse sendo transmitido e captado no aparelho desligado. Assim, a fantasia se passa como realidade. A linguagem verbal propicia este tipo de chiste metonímico.
1.2. A mímica
A mímica seria um tipo de linguagem não verbal, cujos gestos significantes corresponderiam a um simulacro de realidade, embora arbitrários, mas motivados. A mímica, ligada ou associada ao ato de interpretar atitudes ou comportamentos é um meio (um sistema de signos tradutor de uma intencionalidade, logo haverá comunicação) e confundir-se-á com a pantomima. Toda sua configuração cênica será passível de uma “tradução” para um outro código (logo, sistema simbólico substitutivo), principalmente para o código da língua. O chiste atualizado pela linguagem verbal será uma forma simples (popular) ou uma forma produzida, ligada às artes literárias. Já o chiste atualizado pela mímica será uma forma simples (popular) ou uma forma produzida, ligada às artes cênicas. Uma exemplificação nítida da mímica atualizando o chiste ocorre nos quadros publicitários, apresentados na televisão, de cunho comercial, apresentados pelo conhecido artista plástico, Juarez Machado, que, através do “non sense”, faz com que a fantasia se passe como realidade, num enquadramento metonímico do chiste, mais uma vez.
2.1.3. A História em Quadrinhos
A História em Quadrinhos é um interlugar, compreendendo a literatura, por sua narrativa; a pintura, por seus desenhos, e o cinema, pelo movimento das cenas e continuidade das imagens.
A História em Quadrinhos com todas as suas características formais, estática, por conseguinte, não é pertinente aos media eletrônicos. São quadrinhos projetados no espaço-tempo gráfico das revistas e jornais. Contudo, um seu parente próximo, o “cartoon” balõezinhos a onomatopéia e o ritmo visual. Os balõezinhos são largamente usados nos comerciais e nas chamadas das programações das estações de televisão. As onomatopéias, video-tape ou a câmara lenta valorizam.
Aliás, o congelamento da imagem da TV é, em última análise, uma apropriação, pela televisão, da morfologia característica dos Quadrinhos.
Finalmente, a TV, em seus diversos tipos de programas humorísticos ou de telejornalismo, apropriou-se do código cinematográfico, e veicula o desenho animado, que é o Quadrinho em plena animação, onde imperam a fantasia, o maravilhoso e o fantástico ao nível do real.
2.2. Disposições mentais que geram o chiste.
Nem toda disposição mental propicia o aparecimento do gracejo e do humor. Contudo, algumas que geram o inusitado, que foge dos padrões impostos pelas regras sociais; tudo que está fora de uma lógica aparentemente dominante; tudo que não corresponde a uma resultante delimitada por causas e efeitos, por relações precisas de contigüidade entre elementos determinantes e determinados, provoca um inevitável estado de espírito individual, caracterizado por um vazio, capaz de marcar qualquer identidade. Isso, sim, são disposições mentais que podem proporcionar o aparecimento do humor. Surge, daí, o estado de graça (sem trocadilho): o riso.
2.2.1. O cômico
O cômico será a disposição mental que irá gerar o chiste. O cômico, sempre tentando desfazer o repreensível. Estará, portanto, ligado ao humor como riso, pois surge quando é descoberto o espaço vazio, a fenda de qualquer identidade, ao questionarmos este espaço vazio, esta fenda.
2.2.2. A zombaria
A zombaria é uma forma concreta e, de certo modo, coletivizada ou individualizada do cômico, pois, também tenta “desfazer o repreensível a partir da insuficiência de uma identidade qualquer; ou tenta desfazer a insuficiência a partir dela mesma” (André Jolles (1974), p. 211).
Assim sendo, a paródia, a ironia e diversos tipos de sátiras são zombarias que se atualizam de inúmeras maneiras. Não seguimos totalmente a posição de André Jolles porque classificamos as formas de humor estudadas aqui, de acordo com dois tipos básicos de humor: humor como riso e humor como amor e dor.
3. CONCLUSÃO
Tentamos, neste trabalho, mostrar que o chiste, como forma simples é pan-crônico. Servimo-nos de programas humorísticos na televisão, para mostrar a atualização das duas formas distintas do chiste, que ora se apresentam como forma popular em mensagens redundantes, ora como forma não popular em mensagens raras. Apresentamos o humor como riso e como amor e dor. Caracterizamos, dentro de cada tipo de humor, as formas de chiste (populares e não populares), mostrando que elas se atualizam através da linguagem, da mímica e da História em Quadrinhos. Finalmente, o consumo do chiste, dentro da cultura de massa, foi apontado na televisão e no cinema, onde são ingeridos ingenuamente, pois a pílula fica dourada e a ideologia escamoteada pelas fontes geradoras das mensagens que todas estas formas de humor trazem consigo.
ATÉ A PRÓXIMA
12 de outubro de 2007
POÇOS DE CALDAS

28 de setembro de 2007
O DRIBLE DA FOCA

Com a colaboração de CAVINO (noreply-comment@blogger.com), fica o meu texto corrigido, muito tempo depois, com meus agradecimentos. CAVINO comentou: "Apenas lembrando, pois sei que a postagem é antiga, mas vale a pena saber: quem deu a cotovelada no jogo Brasil X Estados Unidos, na copa dos EUA foi o então lateral esquerdo Leonardo, que a partir dali foi substituído por Branco até o final da Copa, quando acabou fazendo um belo gol de falta contra a Holanda. Depois de 4 anos, Leonardo, perdoado por Zagalo, atuou brilhantemente como Meia, com a função do "1" (homem de ligação do meio campo com o ataque), no então novo esquema "4, 3, 1, 2" da era zagalo".
29 de agosto de 2007
AS VOZES DO FUTEBOL


A voz do futebol que regulamenta o jogo será a voz emanada da FIFA (Federation International de Football Association)
Board é um substantivo inglês, que significa um conselho, associação. Assim, “International board” será “Conselho, associação Internacional”. As regras oficiais do futebol são estabelecidas por um Conselho, por uma associação: o “Board”. Este “Conselho” ou esta Associação agrupa a Associação Internacional de Futebol. Portanto, a “Board” se constitui e é formada pela "The International Football Association Board", pela "Football Association" (Inglaterra), pela "Scotish Football Association", pela "Football Association of Wales", pela "Irish Football Association" e pela "Federation International de Football Association" (FIFA).Cada uma terá direito de fazer-se representar por quatro delegados. Somente na sessão anual geral da Board, poderão ser aportadas modificações nas regras de jogo, desde que as modificações sejam aprovadas por uma maioria de três quartas partes das pessoas presentes e autorizadas a votar. Pelo visto o código é rígido, praticamente imutável ou apresentando mudanças muitos tênues em grandes e longos períodos de tempo. São 17 as regras do jogo. Isso significa que o sistema é fechado. Queremos dizer que com poucos elementos definidos, ordenados e combinados será possível alcançarmos uma gama de combinações enorme, responsáveis pela configuração do jogo. Com o que pode e não pode acontecer em campo, o jogo se arma e sua prática se desenvolve. Já o jogo jogado, dentro destas 17 regras pré-estabelecidas, se apresenta como um sistema aberto, de infinitas combinações, que vão atingir o objetivo da disputa e trarão para esta prática esportiva o conceito de espetáculo, nunca repetido, e sempre diferente. Caso ocorram transgressões às normas estabelecidas elas poderão ficar em experiência até serem completamente absorvidas, tornando-se pertinentes, isto é, significativas para o jogo. Em outras palavras, elas passaram a integrar o “corpus” do jogo e seu uso será logo aplicado. Exemplificamos com a forma de o jogador atrasar a bola para o goleiro de seu time, o que nem sempre aconteceu como hoje.


É por esta combinação que os mediadores vão se transformar em significativos e poderosos senhores, detentores da verdade absoluta, desenrolada na arena dos acontecimentos esportivos. Então, a voz mediadora, tradutora de uma narrativa fantasiosa, hiperbólica, emotiva e, muitas vezes, poética, soa como um canto de sereia, enganadora, mas atraente, porque fala o que o receptor realmente gostaria de ouvir. Surge, assim, uma narrativa, portadora de significados lingüísticos expressivos, que o receptor ouve, guarda e reproduz a posteriori, reproduzindo-os no vocabulário ativo do seu grupo de equivalentes.
Assim, é comum se observar nos estádios de futebol muitos torcedores assistindo às partidas com o radinho de pilhas junto ao ouvido. Eles não se satisfazem somente com o que estão vendo (retorno ao espaço primitivo da humanidade, segundo McLhuhan). A ansiedade de ouvir supera a obrigatoriedade de ver, como se a voz do outro (a voz do mediador, narrador), vinda do oráculo eletrônico, fosse a expressão da suprema verdade, deixando-o à mercê de um entendimento impossível de ser alcançado por sua própria capacidade reflexiva. Isto o torna um súdito dependente, por tudo que o rádio e a televisão empregam, para atingirem seus objetivos, tornando os receptores repetidores passivos e agentes multiplicadores do que ouvem do oráculo, supra-sumo de toda a verdade.

As vozes populares, disseminadoras de um código lingüístico especial
Mas pelo poder mágico da imagem da televisão, que atrai o olhar para si e, principalmente, pelos recursos eletrônicos de seus efeitos especiais, este veículo cativa o receptor, tornando-o um entusiasmado repetidor do que vê e do que ouve, para se identificar com a maravilha, tornando-se, também, maravilhoso. Assim, o código utilizado na linguagem da televisão cai no domínio público. É rapidamente assimilado; sai de seu legítimo espaço, invade outras searas e frutifica prodigamente.

As vozes dos fanáticos torcedores

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Quem sou eu
- Professor Feijó
- Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
- Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.