
Ontem, no dia 27 de maio, comemorou-se o centenário de nascimento de Joaquim Ribeiro. Joaquim era filho do polígrafo, historiador, imortal da ABL e ilustre homem das letras e das pesquisas filológicas, João Ribeiro.
Joaquim Ribeiro herdou de seu pai o gosto por todas essas atividades intelectuais, atuando, com invejável erudição, como professor e investigador nas áreas da História do Brasil, do Folclore, da Estética, da Estilística, da Hermenêutica, do Romance, do Teatro e da Educação. Tive a honra de privar de sua amizade no início de minha carreira no magistério, nos idos da década de 60, no Rio de Janeiro. Joaquim Ribeiro me apresentou a inúmeros intelectuais da época, como o editor J. Ozon, Maciel Pinheiro, Libânio Guedes, Manuel Bandeira e muitos outros.
Numa visita à casa de campo de Maciel Pinheiro, em Teresópolis, conversamos sobre a possibilidade de escrevermos, cada um, um romance. Ele prefaciaria o que eu iria escrever e eu editaria o dele, pois já o tinha todo elaborado em sua aguçada mente . Nunca terminei o que seria O Ventre Livre, mas Joaquim chegou ao fim do seu “Gavião de Penacho”. Não editei esse romance nem “O Folclore Tupi”, pela, então, Editora do Professor, que fundara com o empresário Pedro Paulo Martins. Eram tempos difíceis e as gigantescas máquinas que imprimiam no chumbo derretido as linhas de todos os livros, as famosas máquinas de linotipo e monotipo, já não funcionavam a contento, esperando pela anunciada modernização do setor gráfico. Contudo, alguns livros de significativo valor saíram de nossa editora e chegaram a ver a luz das vitrines de muitas livrarias do Rio de Janeiro.
Joaquim Ribeiro foi um homem bom, sincero, amigo e justo. Antes de morrer não deixou ao relento uma família inteira que ocupara, por invasão, uma pequena propriedade que possuía na Barra da Tijuca, socorrendo aqueles necessitados, desprovidos de um teto para morar. Foi sua última atitude humanitária. Seu coração frágil não suportou fulminante infarto. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, no dia 28 de abril de 1964.
Joaquim Ribeiro foi Técnico de Educação do Ministério da Educação, professor da Escola Dramática Municipal e do Colégio Pedro II, além de professor da Faculdade de Filosofia de Campo Grande. Deixou numerosos livros sobre literatura, filologia, história e folclore. “Estética da Língua Portuguesa” e “Civilização Holandesa no Brasil”, esta em colaboração com José Honório Rodrigues, ambas premiadas pela Academia Brasileira de Letras. Outras obras de Joaquim Ribeiro: “A Descoberta do Brasil pelos Árabes – como se formula uma hipótese histórica”, “Origem da Língua Portuguesa”, “Folclore dos Bandeirantes”, “Oito mil dias com João Ribeiro”, “Introdução ao Estudo do Folclore”, “Estética da Língua Portuguesa, segunda edição”, “Teoria da Hermenêutica da Literatura”. Escreveu três peças teatrais: “Aruanda”, “Yemanjá” e “Deuses de Ferro”, sendo que só a primeira foi encenada. De sua autoria foi o argumento para o primeiro desenho animado brasileiro, intitulado “Sinfonia Amazônica”. Era membro da Academia Brasileira de Filologia, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do IBECC, órgão da UNESCO no Brasil, e foi conselheiro da Campanha de Defesa do Folclore. Na orelha da 2ª edição da "Estética da Língua Portuguesa", assim se expressou o professor e jurista, Raul José Côrtes Marques, nosso amigo comum: “Ainda é muito cedo para se emitir um juízo crítico sobre a obra de Joaquim Ribeiro. Na verdade, se há uma parte publicada, grande é o número dos livros que aguardam publicações”. E acrescentamos nós, quarenta e três anos depois de sua morte. A obra de Joaquim Ribeiro continua, ainda, sem um estudo crítico à altura de sua impressionante cultura humanística e de sua plurifacetada inteligência.