Quantos me visitaram ?

20 de fevereiro de 2007

CORREIA PINTO FUNDADOR DE LAGES




Ia me esquecendo de dizer que antes de sair para o Planalto Serrano Catarinense, recebi um comunicado telepático de meu fantasma amigo, dizendo que havia chegado a Florianópolis num vôo de classe econômica, vindo de Portugal. Como vocês sabem, essa figura assombrosa mas amiga viajou comigo durante muito tempo por terras lusitanas e frequentou muitas de minhas crônicas no jornal da cidade do Porto, O PROGRESSO DA FOZ. Meu amigo branquinho chegou a morar comigo aqui no Brasil e passeamos por lugares lindos, onde o astral dos trópicos e das terras visitadas suavizou muito sua sina de alma errante. Mas voltou para seu vetusto túmulo quando soube da derrubada da ala norte do último castelo que habitou nas encostas da Serra do Buçaco, sítio de magníficas águas minerais, famoso desde os tempos da reconquista das terras ocupadas pelos mouros. Pois bem, ele quis porque quis que eu o apanhasse no aeroporto da Capital. Sairia de uma bolsa de mão de uma senhora, toda de preto, que o trazia desde Lisboa. Não foi difícil encontrá-lo. Levei-o para o porta-luvas de meu carro e fizemos a terceira viagem em torno dos municípios serranos que circundam Lages. Esperei a chuva miúda parar, o chão secar, o mormaço aparecer, o sol ensaiar um sorriso e abrir, no céu cinzento, nesgas de azul... Parti. A cidade de Correia Pinto, a vinte e cinco quilômetros de Lages, fica à beira da BR – 116, entre onde eu estava hospedado, na Pousada Rural do SESC, e o município de Ponte Alta. Correia Pinto foi o fundador de Lages, como já mostramos em crônica anterior e o município herdou seu nome em homenagem àquele insigne desbravador. Correia Pinto foi criado em 1982, quando se emancipou de Lages. Possui aproximadamente 16 mil habitantes e tem sua economia subordinada, praticamente, à industrialização da celulose, por isso mesmo, é considerado a "Capital do Papel". Sua área rural está repleta de extensas plantações de "pinus elliotis", dando uma visão verdejante aos vales e ao planalto serrano. A agricultura, a pecuária e a apicultura completam a riqueza da região.Mas foi justamente quando visitei o que, nos folhetos da Secretaria de Turismo do Município, aparece como um dos principais "Pontos Turísticos", é que a coisa, como se diz vulgarmente, ficou preta. Estava eu nesse dia com três senhoras no carro, a quem resolvi convidar para o passeio. Elas aceitaram e partiram conosco, felizes e animadas... Perguntei a um morador como chegar às "Águas Sulfurosas". Explicado o caminho, partimos para a "atração turística", que deveria ser muito interessante, pois fontes termais e fontes de águas minerais criam sempre expectativas e ansiedade, pois água é a fonte da vida - não é mesmo ? - diziam as doces senhoras, até então, encantadas com o passeio. Mas ao chegarmos, que decepção! Um cano escuro no meio de um lamaçal, com touceiras de capim em volta, limo verde e lodo escuro, um filete d’água correndo para um rio turvo... que horror! Mas, de qualquer modo, bebemos alguns goles da água sulfurosa. Deixei até minha assombrada companhia lamber minha mão em concha, com aquela água de cheiro forte... Ele gostou, mas não se conteve em ver tudo aquilo abandonado, numa total falta de iniciativa administrativa da Prefeitura, despreparada para o turismo receptivo. Imediatamente soltou um urro do outro mundo de desaprovação, que deixou minhas convidadas em estado catatônico. Elas nada entenderam e chegaram ao hotel pálidas, com as mãos na barriga, correndo desesperadamente, para o banheiro.


ATÉ BREVE

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Balneário Camboriú, Sul/Santa Catarina, Brazil
Sou professor adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sou formado em Letras Clássicas pela UERJ. Pertenço à Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), Cadeira Nº 28.