"TODOS GOSTAM DE FUTEBOL"
LUIZ CESAR SARAIVA FEIJÓ
Por que todos os povos deste planeta gostam de futebol? Talvez porque o futebol, além de ser uma linguagem gestual, fácil de ser decodificada, é, acima de tudo, uma grande metalinguagem. Isso significa que o sentido dos movimentos do jogo é entendido por quase todos, independentemente de classe social, cultural ou econômica. E, além disso, pode ser compreendido e analisado por inúmeros discursos de saber, como o da psicologia, o lingüístico, o histórico, o sociológico, o antropológico, o filosófico, o jornalístico, o jurídico, o médico, o cinematográfico, o estético, o literário, o pantomímico, o matemático, o físico e muitos outros. Queremos dizer que o expectador, o torcedor, o jogador, enfim, todos entendem o que vêem, mesmo não sabendo exatamente as regras do jogo. O futebol é um jogo muito redundante. Tentem entender o xadrez ou qualquer jogo de cartas. Tentem entender, de imediato, o chamado futebol americano. Ou o golfe, jogado em um ambiente quase sempre paradisíaco... mas com poucos jogadores. Não é tão fácil como entender o futebol. No xadrez, o expectador, sem nenhum conhecimento prévio a respeito desse jogo, vai demorar muito para compreender os movimentos das peças e seu objetivo final. O xadrez não é um jogo redundante. O expectador inocente não seria capaz de saber até o nome das peças, mesmo daquelas cuja aparência poderia denunciar seus nomes.
Por outro lado, quem assiste a um jogo ou a uma partida de futebol percebe logo que há uma perseguição constante de um objetivo: colocar a bola dentro das redes que envolvem as balizas por trás, utilizando todas as partes do corpo, menos as mãos. Quem investe com a bola ou sem ela no sentido de umas das duas balizas é um “atacante”, porque ataca (eis mais uma vez a redundância). Quem “defende” seu espaço é o defensor. Quem defende a bola com as mãos é um único privilegiado, o goleiro, o golquíper, o arqueiro. Isso tudo é muito óbvio. Muito redundante. Isso significa que o ato da comunicação é automático. Esse automatismo, exemplificando, funciona da mesma forma, quando alguém responde “alô” a uma chamada telefônica. Essa resposta é automática. Portanto, cremos que a redundância parece ser a principal figura desse jogo chamado futebol, capaz de torná-lo compreendido por qualquer um, e isso irá determinar sua popularidade em qualquer lugar onde seja praticado. O futebol, assim, mesmo sendo profissão para muitos, é, também, jogo, esporte, prazer, recreação, passa-tempo, distração, descontração, exercício... e benefício.
Desta forma, vimos que o futebol encanta multidões. Excita platéias de todas as classes sociais em qualquer país do mundo. Exerce uma pressão constante sobre as emoções de todos aqueles que dele tomam conhecimento.
Esse fenômeno intriga tanto os intelectuais como os homens mais simples do povo. Por quê ? Continuamos com a indagação inicial.
No dia 10 de junho de 2006, durante a semana que marcou o início da Copa do Mundo, no canal 40 “Globo News”, da Sky , o apresentador e repórter, William Waak, em seu programa “Globo News Painel”, entrevistando os filósofos, Denis Rosenfild, Prof. de Filosofia da UFRS, José Arthur Gianotti, da USP-CEBRAP e Roberto Romano, Prof. de Ética e Filosofia da UNICAMP, propôs que os renomados intelectuais tecessem considerações sobre o fenômeno futebolístico planetário. Iniciou sua mediação, instigando a inteligência de seus convidados, com uma afirmação da revista alemã SPIEGEL, onde se lia que “no futebol, ser inteligente não ajuda nem atrapalha”. É claro que todos, a partir daí, começaram a tecer os mais variados comentários sobre o futebol, todos enfocando esse jogo por diversas formas, mostrando eles que “futebol é colaboração”, “solidariedade”, “forma de fazer amigos”, chegando, mesmo, a tecerem comentários sobre “futebol como religião”. William Waak fazia interessantes considerações sobre este esporte, classificado por todos como esporte de massas, sem nenhuma dúvida. O apresentador ainda tentava tirar dos intelectuais os argumentos que poderiam sustentar suas colocações a respeito da relação entre “futebol e política”. Até “futebol como religião” foi discutido pelos eméritos filósofos. Aí eu me lembrei de que muitos radialistas, sem nenhuma preocupação intelectual, diziam, há muito tempo, que o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, era o verdadeiro templo do futebol...
Muitas outras televisões abertas ou a cabo estão realizando programas nessa linha, envolvendo esporte e cultura, e esses acontecimentos midiáticos servem para ratificar a importância do futebol como o mais fabuloso esporte de massas do planeta. São numerosos, também, os livros publicados e lançados no mercado, nessa época de Copa do Mundo, estando nossas livrarias repletas de exemplares novos que falam do futebol como alguma coisa bem diferente de um simples e agradável jogo de bola.
Com a presente análise, tenta-se, mais uma vez, ampliar considerações a respeito do fenômeno futebol, como uma grande metalinguagem, possível de ser explicado e entendido por inúmeros discursos de saber universitário.
Para tanto, alguns itens devem ser listados, e com eles tentar-se-á responder à pergunta que abre esses comentários, isto é, “por que todos os povos do planeta gostam de futebol?” É claro que aquelas respostas iniciais a essa pergunta merecem mais detalhamento, pois a proposta do parágrafo inicial foi a de preparar o leitor para um jogo preliminar, comparando-se aquelas primeiras reflexões com um jogo “tira-gosto”, muito comum nos campeonatos estaduais de futebol, antigamente disputados no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo. Sabe-se, de antemão, que um ou dois motivos apresentados não podem explicar essa paixão planetária pelo futebol. Trata-se da combinação de quase todos esses aspectos, apresentados agora.
Então, por que todos os povos do mundo gostam de futebol?
1) No futebol, o corpo todo se move, num exercício aeróbico constante, gostoso de se praticar. Salta-se, corre-se, cabeceia-se, arremessa-se a bola com as mão nas cobranças de laterais. O goleiro se atira de encontro à bola, utiliza as mãos para defendê-la. O jogador observa os movimentos corporais de seus companheiros e de seus adversários, e todos têm uma visão extraordinária de um balé, singelo, nos dribles desconcertantes, nas firulas acrobáticas e na coreografia da armação de um contra-ataque fulminante. O futebol mistura os fundamentos do atletismo com o da ginástica, e tudo pode estar presente dentro do campo de jogo, como nas arrancadas dos jogadores com a bola em direção à meta adversária. Os saltos a grandes distâncias para as cabeçadas ou o lançamento da bola, com as mãos, pelo goleiro, dando uma saída de jogo muito rápida, para surpreender o adversário.
2) O futebol é praticado em campos gramados, a céu aberto. O espaço onde o jogo se desenrola é agradável. A presença do verde aumenta a vontade de participar, de atuar, de correr, etc. As quedas não machucam muito o jogador. Até treinar é bom! Os esportes praticados ao ar livre são mais chamativos e os iniciantes se sentem integrados à natureza. Todos gostam disso.
3) O futebol é um esporte que democratiza o corpo, isto é, jogadores de diferentes estaturas podem competir com idênticas chances de êxito. Isso não acontece em muitos outros esportes, como basquete, vôlei, tênis, natação etc.
4) O futebol é empolgação. E a empolgação é uma sensação gostosa, pois se trata de uma animação extrema. Essa empolgação se dá pelas táticas e estratégias exercitadas. Táticas e estratégias de ataque, de defesa e, principalmente, de envolvimento do adversário pelas atividades dos jogadores do meio-campo.
5) O futebol é jogado com 22 jogadores em campo. Onze de cada lado, portanto, onze em cada time. Isso indica que o futebol é jogo de equipe, articulado em conjunto, para se alcançar o objetivo final, que é marcar o gol. Muitas pessoas em campo animam, tanto os jogadores, como os expectadores, principalmente porque os jogadores dos dois times têm que estar uniformizados, o que dá ao espetáculo mais vida, e ,ao jogo em si, uma característica de show, criando um colorido que alegra o ambiente e regala a vista.
6) O futebol é o único jogo coletivo com muitos jogadores em campo, onde somente um jogador tem o direito de colocar a mão na bola, a qualquer hora, dentro de um espaço a ele reservado. Os demais, só podem colocar os pés e a cabeça na bola. Com as duas mãos, qualquer jogador cobra o lateral. Isso é muito significativo para o raciocínio rápido do atleta em campo e desperta prazer ao ser executado.
7) A bola do jogo não é grande nem pequena. É proporcional a qualquer tipo físico de atletas. A visão da bola do jogo pelo expectador das arquibancadas, ou de outros mais distantes é sempre muito boa, não deixando nenhuma falsa interpretação das jogadas. Isso agrada, pois todos se orientam perfeitamente dentro do espaço onde o jogo é realizado. O tamanho da bola, no jogo de futebol, parece mais um ingrediente significativo para despertar o gosto por esse esporte. A bola não é tão grande como a do basquete, nem tão pequena como a do tênis e a do golfe. Isso pode não parecer pertinente, mas, se observarmos bem, veremos que seu tamanho e peso são ideais para que o atleta a carregue com os pés, cabeceie com adequação e o goleiro a defenda, inclusive encaixando-a ao peito. A bola é um objeto da arte circense e toda criança, desde a mais tenra idade, já brincou com ela. É, pois, um objeto predestinado a levar às massas as alegrias do futebol. E com mais requinte, ao futebol-arte.
8) O futebol, por ser neutro em relação a problemáticas extracampo, atrai um considerável público. Para as torcidas e para os praticantes, esse esporte não se compromete com políticas partidárias, por exemplo. Os campeonatos interclubes, nacionais e internacionais, ficam blindados, quanto à impregnação de ideologias alienígenas, discriminações raciais, econômicas, e ações belicosas. Sobre esta característica do futebol, o Professor de ética e filosofia da Unicamp, Roberto Romano, participante do programa da “Globo News” a que nos referimos anteriormente, evocando o pensador búlgaro, Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Ellias Canetti, afirmou que o futebol não se enquadra nas categorias de “massa de fuga”, nem “massa de vingança”, teoria desenvolvida pelo autor de Massa e Poder, 1960, pois este esporte, absolutamente, e, somente em casos especialíssimos, jamais concentra em si mesmo a necessidade de se deslocar para outras áreas sociais, disputando prestígio e mando com outros seguimentos da sociedade.
9) Finalmente, numa Copa do Mundo de futebol, como a que está acontecendo na Alemanha, neste mês de junho, pode-se perfeitamente observar a empolgação que esse esporte proporciona, atraindo o gosto e a simpatia de milhões de pessoas, dentro e fora dos estádios. Além de o futebol ser tudo isso que já foi falado, ele é, também, colaboração, solidariedade, formador de amigos, catalisador de equivalentes e muito mais. Mas, o futebol jogado por uma seleção de jogadores de um país, como na Copa do Mundo da FIFA, possui características especialíssimas, que serão comentadas em outra oportunidade.
B.C., Santa Catarina, 12 de junho de 2006.
LUIZ CESAR SARAIVA FEIJÓ
Por que todos os povos deste planeta gostam de futebol? Talvez porque o futebol, além de ser uma linguagem gestual, fácil de ser decodificada, é, acima de tudo, uma grande metalinguagem. Isso significa que o sentido dos movimentos do jogo é entendido por quase todos, independentemente de classe social, cultural ou econômica. E, além disso, pode ser compreendido e analisado por inúmeros discursos de saber, como o da psicologia, o lingüístico, o histórico, o sociológico, o antropológico, o filosófico, o jornalístico, o jurídico, o médico, o cinematográfico, o estético, o literário, o pantomímico, o matemático, o físico e muitos outros. Queremos dizer que o expectador, o torcedor, o jogador, enfim, todos entendem o que vêem, mesmo não sabendo exatamente as regras do jogo. O futebol é um jogo muito redundante. Tentem entender o xadrez ou qualquer jogo de cartas. Tentem entender, de imediato, o chamado futebol americano. Ou o golfe, jogado em um ambiente quase sempre paradisíaco... mas com poucos jogadores. Não é tão fácil como entender o futebol. No xadrez, o expectador, sem nenhum conhecimento prévio a respeito desse jogo, vai demorar muito para compreender os movimentos das peças e seu objetivo final. O xadrez não é um jogo redundante. O expectador inocente não seria capaz de saber até o nome das peças, mesmo daquelas cuja aparência poderia denunciar seus nomes.
Por outro lado, quem assiste a um jogo ou a uma partida de futebol percebe logo que há uma perseguição constante de um objetivo: colocar a bola dentro das redes que envolvem as balizas por trás, utilizando todas as partes do corpo, menos as mãos. Quem investe com a bola ou sem ela no sentido de umas das duas balizas é um “atacante”, porque ataca (eis mais uma vez a redundância). Quem “defende” seu espaço é o defensor. Quem defende a bola com as mãos é um único privilegiado, o goleiro, o golquíper, o arqueiro. Isso tudo é muito óbvio. Muito redundante. Isso significa que o ato da comunicação é automático. Esse automatismo, exemplificando, funciona da mesma forma, quando alguém responde “alô” a uma chamada telefônica. Essa resposta é automática. Portanto, cremos que a redundância parece ser a principal figura desse jogo chamado futebol, capaz de torná-lo compreendido por qualquer um, e isso irá determinar sua popularidade em qualquer lugar onde seja praticado. O futebol, assim, mesmo sendo profissão para muitos, é, também, jogo, esporte, prazer, recreação, passa-tempo, distração, descontração, exercício... e benefício.
Desta forma, vimos que o futebol encanta multidões. Excita platéias de todas as classes sociais em qualquer país do mundo. Exerce uma pressão constante sobre as emoções de todos aqueles que dele tomam conhecimento.
Esse fenômeno intriga tanto os intelectuais como os homens mais simples do povo. Por quê ? Continuamos com a indagação inicial.
No dia 10 de junho de 2006, durante a semana que marcou o início da Copa do Mundo, no canal 40 “Globo News”, da Sky , o apresentador e repórter, William Waak, em seu programa “Globo News Painel”, entrevistando os filósofos, Denis Rosenfild, Prof. de Filosofia da UFRS, José Arthur Gianotti, da USP-CEBRAP e Roberto Romano, Prof. de Ética e Filosofia da UNICAMP, propôs que os renomados intelectuais tecessem considerações sobre o fenômeno futebolístico planetário. Iniciou sua mediação, instigando a inteligência de seus convidados, com uma afirmação da revista alemã SPIEGEL, onde se lia que “no futebol, ser inteligente não ajuda nem atrapalha”. É claro que todos, a partir daí, começaram a tecer os mais variados comentários sobre o futebol, todos enfocando esse jogo por diversas formas, mostrando eles que “futebol é colaboração”, “solidariedade”, “forma de fazer amigos”, chegando, mesmo, a tecerem comentários sobre “futebol como religião”. William Waak fazia interessantes considerações sobre este esporte, classificado por todos como esporte de massas, sem nenhuma dúvida. O apresentador ainda tentava tirar dos intelectuais os argumentos que poderiam sustentar suas colocações a respeito da relação entre “futebol e política”. Até “futebol como religião” foi discutido pelos eméritos filósofos. Aí eu me lembrei de que muitos radialistas, sem nenhuma preocupação intelectual, diziam, há muito tempo, que o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, era o verdadeiro templo do futebol...
Muitas outras televisões abertas ou a cabo estão realizando programas nessa linha, envolvendo esporte e cultura, e esses acontecimentos midiáticos servem para ratificar a importância do futebol como o mais fabuloso esporte de massas do planeta. São numerosos, também, os livros publicados e lançados no mercado, nessa época de Copa do Mundo, estando nossas livrarias repletas de exemplares novos que falam do futebol como alguma coisa bem diferente de um simples e agradável jogo de bola.
Com a presente análise, tenta-se, mais uma vez, ampliar considerações a respeito do fenômeno futebol, como uma grande metalinguagem, possível de ser explicado e entendido por inúmeros discursos de saber universitário.
Para tanto, alguns itens devem ser listados, e com eles tentar-se-á responder à pergunta que abre esses comentários, isto é, “por que todos os povos do planeta gostam de futebol?” É claro que aquelas respostas iniciais a essa pergunta merecem mais detalhamento, pois a proposta do parágrafo inicial foi a de preparar o leitor para um jogo preliminar, comparando-se aquelas primeiras reflexões com um jogo “tira-gosto”, muito comum nos campeonatos estaduais de futebol, antigamente disputados no Rio de Janeiro e em São Paulo, por exemplo. Sabe-se, de antemão, que um ou dois motivos apresentados não podem explicar essa paixão planetária pelo futebol. Trata-se da combinação de quase todos esses aspectos, apresentados agora.
Então, por que todos os povos do mundo gostam de futebol?
1) No futebol, o corpo todo se move, num exercício aeróbico constante, gostoso de se praticar. Salta-se, corre-se, cabeceia-se, arremessa-se a bola com as mão nas cobranças de laterais. O goleiro se atira de encontro à bola, utiliza as mãos para defendê-la. O jogador observa os movimentos corporais de seus companheiros e de seus adversários, e todos têm uma visão extraordinária de um balé, singelo, nos dribles desconcertantes, nas firulas acrobáticas e na coreografia da armação de um contra-ataque fulminante. O futebol mistura os fundamentos do atletismo com o da ginástica, e tudo pode estar presente dentro do campo de jogo, como nas arrancadas dos jogadores com a bola em direção à meta adversária. Os saltos a grandes distâncias para as cabeçadas ou o lançamento da bola, com as mãos, pelo goleiro, dando uma saída de jogo muito rápida, para surpreender o adversário.
2) O futebol é praticado em campos gramados, a céu aberto. O espaço onde o jogo se desenrola é agradável. A presença do verde aumenta a vontade de participar, de atuar, de correr, etc. As quedas não machucam muito o jogador. Até treinar é bom! Os esportes praticados ao ar livre são mais chamativos e os iniciantes se sentem integrados à natureza. Todos gostam disso.
3) O futebol é um esporte que democratiza o corpo, isto é, jogadores de diferentes estaturas podem competir com idênticas chances de êxito. Isso não acontece em muitos outros esportes, como basquete, vôlei, tênis, natação etc.
4) O futebol é empolgação. E a empolgação é uma sensação gostosa, pois se trata de uma animação extrema. Essa empolgação se dá pelas táticas e estratégias exercitadas. Táticas e estratégias de ataque, de defesa e, principalmente, de envolvimento do adversário pelas atividades dos jogadores do meio-campo.
5) O futebol é jogado com 22 jogadores em campo. Onze de cada lado, portanto, onze em cada time. Isso indica que o futebol é jogo de equipe, articulado em conjunto, para se alcançar o objetivo final, que é marcar o gol. Muitas pessoas em campo animam, tanto os jogadores, como os expectadores, principalmente porque os jogadores dos dois times têm que estar uniformizados, o que dá ao espetáculo mais vida, e ,ao jogo em si, uma característica de show, criando um colorido que alegra o ambiente e regala a vista.
6) O futebol é o único jogo coletivo com muitos jogadores em campo, onde somente um jogador tem o direito de colocar a mão na bola, a qualquer hora, dentro de um espaço a ele reservado. Os demais, só podem colocar os pés e a cabeça na bola. Com as duas mãos, qualquer jogador cobra o lateral. Isso é muito significativo para o raciocínio rápido do atleta em campo e desperta prazer ao ser executado.
7) A bola do jogo não é grande nem pequena. É proporcional a qualquer tipo físico de atletas. A visão da bola do jogo pelo expectador das arquibancadas, ou de outros mais distantes é sempre muito boa, não deixando nenhuma falsa interpretação das jogadas. Isso agrada, pois todos se orientam perfeitamente dentro do espaço onde o jogo é realizado. O tamanho da bola, no jogo de futebol, parece mais um ingrediente significativo para despertar o gosto por esse esporte. A bola não é tão grande como a do basquete, nem tão pequena como a do tênis e a do golfe. Isso pode não parecer pertinente, mas, se observarmos bem, veremos que seu tamanho e peso são ideais para que o atleta a carregue com os pés, cabeceie com adequação e o goleiro a defenda, inclusive encaixando-a ao peito. A bola é um objeto da arte circense e toda criança, desde a mais tenra idade, já brincou com ela. É, pois, um objeto predestinado a levar às massas as alegrias do futebol. E com mais requinte, ao futebol-arte.
8) O futebol, por ser neutro em relação a problemáticas extracampo, atrai um considerável público. Para as torcidas e para os praticantes, esse esporte não se compromete com políticas partidárias, por exemplo. Os campeonatos interclubes, nacionais e internacionais, ficam blindados, quanto à impregnação de ideologias alienígenas, discriminações raciais, econômicas, e ações belicosas. Sobre esta característica do futebol, o Professor de ética e filosofia da Unicamp, Roberto Romano, participante do programa da “Globo News” a que nos referimos anteriormente, evocando o pensador búlgaro, Prêmio Nobel de Literatura de 1981, Ellias Canetti, afirmou que o futebol não se enquadra nas categorias de “massa de fuga”, nem “massa de vingança”, teoria desenvolvida pelo autor de Massa e Poder, 1960, pois este esporte, absolutamente, e, somente em casos especialíssimos, jamais concentra em si mesmo a necessidade de se deslocar para outras áreas sociais, disputando prestígio e mando com outros seguimentos da sociedade.
9) Finalmente, numa Copa do Mundo de futebol, como a que está acontecendo na Alemanha, neste mês de junho, pode-se perfeitamente observar a empolgação que esse esporte proporciona, atraindo o gosto e a simpatia de milhões de pessoas, dentro e fora dos estádios. Além de o futebol ser tudo isso que já foi falado, ele é, também, colaboração, solidariedade, formador de amigos, catalisador de equivalentes e muito mais. Mas, o futebol jogado por uma seleção de jogadores de um país, como na Copa do Mundo da FIFA, possui características especialíssimas, que serão comentadas em outra oportunidade.
B.C., Santa Catarina, 12 de junho de 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário